(Fotos:
Fernando Takahashi e Ricardo Hara)
O
sekihan, literalmente arroz vermelho em japonês, é
um prato preparado com arroz de mochi (arroz glutinoso) e feijão
azuki, que são misturados e cozidos no vapor, resultando
numa apetitosa combinação de coloração
avermelhada. No Japão, é sinônimo de celebração,
sendo servido principalmente em ocasiões especiais, como
casamentos, aniversários e no Kodomo no Hi (Dia das Crianças)
e Shichigosan (festival para crianças de 7, 5 e 3 anos
de idade).
Até
meados do século XIX, na cerimônia conhecida como
genpuku (espécie de ritual da maioridade), cozinhava-se
o sekihan para comemorar e distribuir entre os parentes. A iguaria
também era utilizada como oferenda ao deus Ryujin, durante
o ritual da chuva, servida em forma de onigiri (bolinho), juntamente
com o saquê sagrado. Depois da oferenda, o sekihan era jogado
na correnteza de um rio.
Atualmente,
a primeira menstruação das meninas também
é celebrada cozinhando-se o sekihan.
O
fascínio pela cor vermelha
Diferentemente
do arroz branco, o sekihan não satisfaz apenas o paladar,
mas também é um deleite para os olhos. Os antigos
japoneses sentiam um grande fascínio pela cor vermelha,
que acreditavam possuir um poder mágico.
Durante
a Era Edo (16001867), houve uma grande epidemia de varíola.
Acreditava-se que essa temida doença era trazida pelo deus
Hoso e então os japoneses passaram a fazer uso da cor vermelha,
que diziam ser a cor predileta deste Deus. Assim, em todas as
casas, os aposentos apresentavam algo vermelho em sua decoração,
e as crianças traziam consigo um item vermelho. Acreditavam
ainda que, consumindo o sekihan, estariam repelindo o mal e o
infortúnio. Atualmente, o ato de comer o sekihan após
a cura de uma enfermidade é resquício dessa crença.
O
sekihan e a folha de nanten
Costuma-se
decorar o sekihan com folhas de nanten (nandina, arbusto que produz
pequenos frutos vermelhos) e gergelim. A escolha da folha de nanten
não é por acaso. Como o seu fruto é vermelho,
ele é associado ao feijão azuki e o som da palavra
nanten remete ao som de uma expressão japonesa que significa
a virada de uma situação difícil para
uma melhor ( ). Além disso, a folha de nanten tem
a propriedade de eliminar toxinas, ou seja, de expulsar elementos
ruins do corpo.
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Você
sabia?
Takikomi
Gohan
Takikomi gohan, como o próprio nome em japonês
indica, é o arroz cozido com o acréscimo de algum
outro ingrediente. Normalmente, usa-se um produto da época.
Por exemplo, na primavera, é comum usar o broto de bambu;
no verão, a ervilha, ou a soja recém-colhida;
no outono, o cogumelo matsutake ou a castanha (kuri) e, no inverno,
a pedida são as ostras e os peixes. O ideal é
usar um ingrediente local, produzido na região. O sucesso
deste takikomi gohan é a sua praticidade, pois, como
envolve uma série de ingredientes, reduz-se a necessidade
de outros acompanhamentos.
Antigamente,
o arroz produzido no Japão não era suficiente
para alimentar toda a população, surgindo então
a necessidade de racionar esse grão tão valioso.
A solução encontrada foi misturar o arroz a outros
ingredientes, como cereais, batatas e abóboras. O mais
antigo takikomi gohan é o kurigohan (arroz com castanhas),
que surgiu na Era Nara.
No
Brasil, usa-se muito o cogumelo shiitake e a carne de frango
no preparo do prato.
TRADIÇÃO - Escassez de arroz gerou mistura de
ingredientes
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