(Fotos:
Reprodução / Divulgação)
O divino sabor do moti
Em
713, no início do Período Nara (710-93), a corte
imperial mandou que os oficiais provincianos fizessem descrições
de suas respectivas regiões. Um desses registros é
o Bungo fudo-ki, ou a descrição da região
Bungo, que contém as primeiras pinturas do moti. No início
de um texto de uma história bem conhecida sobre um homem
rico, que por seu orgulho é lavado à ruína,
observa-se a presença do moti. Ele estava quase perdendo
a flecha e percebeu que não havia um alvo conveniente.
Então usou um moti como alvo. Quando a flecha o atingiu,
entretanto, o moti transformou-se em um pássaro branco
e voou para bem longe.
Para
servir como alvo apropriado à flecha, o moti devia ser
redondo e plano e, através da cor do pássaro, pode-se
deduzir facilmente que o bolinho de arroz era extremamente branco.
Então o moti do século VIII, como o descrito no
Bungo fudo-ki, já aparece como ele é nos dias de
hoje.
Mais
tarde, durante o Período Heian (794-1191), observa-se que
o moti também era, na maioria dos casos, redondo. Com o
tempo, essa iguaria japonesa passou a ser um privilégio
do governo e havia até um ministro especial encarregado
da produção.

Moti
e o Ano-Novo
O Moti está
bastante presente nas celebrações do ano-novo, muito
comemorado pelos japoneses. O ano-novo japonês é
muito mais do que um simples festival do Moti. A prática
de comemorar o ano-novo começou na Corte Imperial durante
do Período Heian e, ao longo dos anos, foi difundida para
a população. Mas o que contribuiu para a popularização
do moti?
Um das causas
dessa popularidade é que os japoneses contam sua idade
não pelo dia do aniversário, mas pelo dia 1º
de janeiro. O ano-novo era símbolo da transição
da vida e também das responsabilidades assumidas pela idade.
Hoje, esses símbolos já perderam muito de sua força,
e o feriado passou a ser visto como um tempo em que todas as formas
de vida são revitalizadas. Talvez isso seja um motivo que
fez o moti tão popular.
A quantidade
de moti preparado no ano-novo varia de acordo com a região
e com a família, mas em todo lugar é costume que
o primeiro monte seja feito grosso e redondo. Esses bolinhos especiais
são chamados kagami moti. Um par de kagami moti é
oferecido à divindade dos grãos e cereais, acompanhado
de uma prece que pede por segurança no ano que se inicia.
Um pequeno
bolinho é colocado sobre um maior e juntos são colocados
em uma mesinha chamada sambo. Eles são decorados com castanhas
secas, fatias de caqui secos e uma pequena laranja de sabor amargo.
Diz-se que o kagami moti oferecido dessa forma é símbolo
do sol e da lua, ou de um homem e uma mulher.
O nome kagami
moti data do Período Kamakura (1192-1333), e é uma
inversão do termo do Período Heian, moti kagami.
As pessoas do Período Heian acreditavam que os espelhos
(kagami) tinham poderes mágicos, e, dessa maneira, colocavam
o moti nos altares xintoístas.
Mas a crença
no poder do espelho diminuiu, e as pessoas começaram a
ver a massa redonda e grossa como mais comestível do que
um talismã. Conseqüentemente, a ordem das palavras
foi invertida, kagami (espelho) passou a ser adjetivo, e moti,
o substantivo.
A sambo (mesinha),
juntamente com o kagami moti, permanece no altar xintoísta
até o dia 11 de janeiro, quando os bolinhos de arroz são
divididos em pequenos pedaços e, por fim, consumidos. Os
bolinhos devem ser abertos e não cortados.
Normalmente são partidos com as mãos num ritual
chamado kagami-biraki (literalmente abrir o espelho).
Kagami-biraki
data do Período Heian e, originalmente, era feito no dia
20 de janeiro. Entretanto, quando o terceiro Tokugawa Shogun Iemitsu
morreu em 20 de abril de 1651, o dia 20 de cada mês foi
guardado para luto. Conseqüentemente, a data do kagami-biraki
foi transferida para o dia 11 de janeiro.
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