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Jornal NippoBrasil
Visando
ao mesmo poder das potências como Inglaterra, Alemanha e
Estados Unidos, o governo Meiji contraiu uma grande dívida
junto a esses países, introduziu suas tecnologias nas indústrias
de base, como a siderúrgica e a têxtil, concentrando
esforços na implantação de ferrovias, redes
de comunicações e de transporte.
Os
estrangeiros
Para transferir a tecnologia nas áreas de cunhagem
de moeda, construção e arquitetura, ferrovia e construção
naval e o conhecimento humanístico do Ocidente,
no início da Era Meiji, inúmeros estrangeiros contratados
com altos salários foram recebidos pelo Japão. Conhecidos
como oyatoi gaikokujin, eles recebiam remunerações
equivalentes à do primeiro-ministro e à dos demais
ministros de estado.
Ao
longo da Era Meiji (1868-1912), foram recebidos mais de 3 mil
estrangeiros. Entre os anos 6 e 8 (1873 a 1875), o índice
anual chegou a 500 estrangeiros. As figuras mais conhecidas dessa
época são: nas belas artes, Ernest Francisco Fenollosa
e Antonio Fontanesi; na zoologia, Edward
Sylvester Morse; na medicina, Erwin von Balz; e na educação,
William Smith Clark.
Na
segunda metade da Era Meiji, predominou o ideal do wakon yoosai
(espírito japonês e habilidade ocidental), segundo
o qual a introdução da tecnologia e do conhecimento
ocidentais deveriam ser feitas por pessoas com embasamento confucionista.
Ou seja, o país deveria assimilar a arte, o conhecimento
e a técnica do Ocidente, mantendo a moral oriental, aprofundando
os ensinamentos de Confúcio.
A
trágica história das operárias da fábrica
de fiação de Tomioka
Os principais problemas enfrentados no estabelecimento da gigantesca
fábrica de fiação na cidade de Tomioka, província
de Gunma, eram o tijolo e o cimento. Como era impossível
importar grandes quantidades de tijolos, utilizou-se a técnica
de produção de telhas japonesas para substituí-los.
Como na época não havia cimento, ele foi substituído
por argamassa.
As
molduras de ferro das janelas dependiam das importações.
Para operar as máquinas de fiação, de fabricação
francesa, foram contratadas mais de 300 operárias. Dizem
que, no início, em sua maioria, elas eram filhas de famílias
de guerreiros da Era Edo (1603-1867).
Na
Era Meiji, a exportação de linhas de seda crua representava
um terço do valor do comércio internacional. Por
esta razão, nas fábricas de fiação
de seda de várias partes, meninas de aproximadamente 13
anos constituíam sua força de trabalho, selecionadas
com base num contrato de cinco a oito anos.
Para
as famílias dos agricultores, era uma importante fonte
de renda em espécie. Porém, duras jornadas de 12
a 14 horas, baixos salários, falta de higiene nos alojamentos
e alimentação precária levaram ao adoecimento
de muitas operárias. Dizem que, para impedir sua fuga,
colocavam-se grades de ferro nas janelas dos quartos.
Aquelas
mais produtivas, que em um ano conseguiam ganhar cem ienes (valor
da época), compravam um tan de terras (um tan equivale
a 991,7 m2, aproximadamente 10 alqueires) para suas famílias.
Segundo registros do livro de não-ficção
Nomugui toogue (Desfiladeiro Nomugui), as operárias atravessavam
este desfiladeiro de 1.672 m, localizado em Hida (atual província
de Gifu), percorrendo um caminho de 140 km até a fábrica
em Suwa, província de Nagano. Quando retornavam para suas
casas no final do ano, esse caminho íngreme se cobria de
neve e muitas moças morriam.
Shozo
Tanaka (1841-1913) e a primeira questão ambiental do Japão
O
caso da poluição da mina de cobre de Ashio, no município
de Kamitsuga, na província de Tochigi, refere-se à
contaminação da nascente do Rio Watarase pelos resíduos
da mina, afetando a pesca local. A mina de Ashio era explorada
desde o início do século 17, mas seu desenvolvimento
acelerou-se somente em 1877, com a administração
do grupo empresarial Furukawa.
TANAKA - O primeiro a questionar a contaminação
da mina de Ashio
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Porém,
a partir do ano seguinte, passaram a ocorrer enchentes
decorrentes dos desmatamentos realizados para o refino de cobre,
que passou a dificultar o escoamento da água que
faziam com que os resíduos escorressem para o rio, matando
os peixes, que passaram a cobrir sua superfície. Em 1880,
foi decretada a proibição da pesca no Rio Watarase
pelo governo da província de Tochigi.
Em
1891, o senador Shozo Tanaka, eleito pela província de
Tochigi (na época apenas os contribuintes na faixa acima
de 15 ienes anuais tinham direitos eleitorais e políticos),
questionou pela primeira vez no Parlamento Imperial o caso da
contaminação da mina de Ashio. Em 1897, cerca de
2 mil agricultores afetados pela poluição do rio
foram a Tóquio para efetuar uma petição.
O governo fez com que o grupo Furukawa realizasse obras para eliminar
a poluição, mas os danos não diminuíram.
Em fevereiro de 1900, houve um conflito entre a polícia
e milhares de vítimas a caminho de Tóquio para requerer
a petição.
Irado
com o episódio, Shozo Tanaka renunciou ao cargo de parlamentar
e entregou uma petição sobre o caso ao imperador.
Tanaka foi tratado como louco, porém, sua atitude fez com
que a opinião pública e os meios de comunicação
da época pedissem ao governo sua rápida resolução.
Quando
faleceu, em 1913, os pertences de Shozo Tanaka eram apenas um
chapéu de sugue (junça, planta ciperácea)
e uma sacola contendo a Constituição japonesa, a
Bíblia e seu diário. Nascido numa família
rica, ele doou toda a sua fortuna para o combate da questão
ambiental do local. Além disso, deixou a marca de sua liderança
e pioneirismo em movimentos pela democratização
e publicação de jornais locais.
Os
problemas ambientais continuaram, por exemplo, com a doença
de Minamata, na década de 1970, e outras, causadas pela
incapacidade de solução do binômio desenvolvimento
econômico e preservação ambiental. Tornou-se
evidente que as raízes desses problemas se encontram na
política do governo Meiji, de construir uma nação
rica e poderosa. Porém, existem atualmente tendências
de avanço em políticas de preservação
ambiental em escala global, como o acordo para o controle de emissão
de CO2.
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