NINGYÔ JÔRURI - Arte cênica foi precursora
do Bunraku atual
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Haiku
o poema de 17 sílabas
Isolado do restante do mundo, o Japão consolidou e popularizou
muitas formas de arte peculiares durante a Era Edo. Algumas delas
são praticadas até hoje com maestria e requinte.
Uma delas é o haiku, um poema composto por versos de 5,
7 e 5 sílabas (totalizando 17), cujo assunto é um
tema sazonal.
A denominação
haiku foi difundida por Masaoka Shiki (1867~1902), mas pode se
referir também, no seu sentido lato, à primeira
estrofe do poema do haikai, que se popularizou na Era Edo. O haiku
e o poema tanka, de 31 sílabas, constituíram as
duas principais correntes literárias genuinamente japonesas.
O haikai,
originalmente, era uma literatura que explorava a comicidade.
O povo da Era Edo compunha esse tipo de poema para explorar o
lado cômico da vida. Quem elevou o nível da arte
foi Matsuo Bashô (1644~1694). Um dos seus poemas mais conhecidos
representa o seu estilo literário simplista, porém
contém toda a visão oriental de wabi (serenidade
plena) e sabi (refinamento ou brio envolto por camada de refinamento):
Furuike ya, Kawazu Tobikomu, Mizu no Oto (No velho açude,
o pulo do sapo que quebra o silêncio).
Além
de Bashô, o haikai, precursor do haiku, teve outros grandes
poetas que se destacaram na Era Edo, como: Yosa Buson (1716~1783)
e Kobayashi Issa (1763~1827).
Senryû
Uma variedade de haiku com tema humorístico
O senryû é um poema de 17 sílabas em linguagem
coloquial, de conteúdo cômico, irônico ou satírico,
que teve muita evidência a partir de meados da Era Edo.
Em fins desse período, surgiu uma facção
de tendência vulgar que recebeu o nome de kyôka.
Esse
tipo de poema antes era chamado de maeku (primeira estrofe) e
fazia parte do haikai. Era uma espécie de jogo em que se
acrescentava o maeku de 17 sílabas para a segunda estrofe,
de 14 sílabas, dada como tema.
Matsuo
Bashô (1644~1694)
Nascido na cidade de Ueno, em Iga (atual província de Mie),
a famosa terra dos ninjas, quando jovem, Bashô serviu ao
filho do chefe dos samurais do feudo de Ueno, Yoshitada, mas,
após a sua morte, no ano de 1666, decidiu dar uma guinada
em sua sua vida, partindo para Edo, a fim de se tornar um poeta
do haikai.
No
início, ele morou no bairro de Shinbashi, no centro da
cidade de Edo, mas, em 1680, mudou-se para o bairro de Fukagawa,
morando numa casa simples, à qual deu o nome de bashô-an
(cabana de bananeiras japonesas). De seu bashô-an, ele saiu
em viagem para várias partes do Japão, compondo
poemas durante o caminho e fazendo muitos discípulos, que
deram seguimento ao haikai de alto teor literário criado
por Bashô.
Durante
uma das suas inúmeras viagens, Bashô caiu doente
e faleceu na cidade de Osaka, em 1694, deixando o poema Tabi
ni yande, Yume wa kareno o kakemeguru (No leito da enfermidade,
os sonhos correm soltos pelo campo seco).
Ningyô
Jôruri Teatro de bonecos
Jôruri, à semelhança das trovas e dos cânticos
da era medieval européia, são composições
cantadas com o acompanhamento de shamisen, instrumento musical
de três cordas. Sua origem remonta à Era Muromachi
(1336 ou 1338?~1573). Por volta da Era Edo (1603~1867), o Jôruri
passou a ser apresentado junto com os bonecos, encenando as histórias
cantadas, daí o nome de ningyô (boneco) Jôruri.
O Ningyô
Jôruri atingiu grande popularidade apenas na Era Edo, com
o surgimento de dois grandes gênios: Takemoto Gitayû,
cantor e compositor de Jôruri, e Chikamatsu Monzaemon, escritor
das tramas de Jôruri. Juntamente com o teatro Kabuki, o
Jôruri constituiu-se numa arte cênica muito popular
da Era Edo, muitas vezes superando o Kabuki, com os dramas cantados
com maestria.
Na
Era Meiji, quando o Ningyô Jôruri começava
a perder popularidade, Uemura Bunrakuken fundou o teatro Bunraku-za,
em 1872, reconquistando o público. Com a popularidade dos
Ningyô Jôruri apresentados no teatro Bunraku-za, o
nome do teatro, ou seja, o Bunraku, passou a ser sinônimo
de Ningyô Jôruri.
Chikamatsu
Monzaemon (1653~1724)
Filho de samurai, Monzaemon sempre demonstrou maior afinidade
pela literatura do que pelas artes marciais. Desde 20 e poucos
anos, começou a escrever peças para Jôruri
e também para Kabuki.
A sua
obra representativa é Sonezaki shinjû (Pacto de morte
em Sonezaki), escrita em 1703, tendo como tema o duplo suicídio
da meretriz Ohatsu e do jovem aprendiz de uma casa comercial ocorrido
na cidade de Osaka, no bosque de Sonezaki-tenjin. A criatividade
de Chikamatsu, que escolheu como personagens principais as pessoas
do povo, e não figuras históricas famosas, e a sua
abordagem lírica, mostrando o sofrimento do casal que não
teve outra escolha a não ser a morte para imortalizar o
amor, mobilizam um grande público para assistir ao espetáculo.
Monzaemon
é conhecido como o Shakespeare (1564~1616) do Japão.
Teatro
Kabuki
O Kabuki, uma das artes cênicas japonesas mais conhecidas
no mundo, teve origem no início da Era Edo, como segmento
da dança denominada Kabuki Odori, criada por Izumo-no-Okuni
(séculos XVI e XVII), em Quioto. A dança criada
por essa mulher foi imitada por muitas meretrizes, até
ser proibida, em 1629, por atentar contra os bons costumes da
época. Com essa proibição, o Wakashu Kabuki,
dança de jovens bem apessoados, que surgiu por volta de
1615 tomou fôlego, mas também foi proibido em 1652,
por fomentar o homossexualismo.
No
ano seguinte, porém, o xogunato de Edo acabou cedendo,
com a permissão do Yarô Kabuki, ou seja, a representação
cênica somente de atores do sexo masculino sem franjas,
característica essa para identificar os jovens que não
atingiram a idade adulta.
Com
o passar do tempo, o Kabuki foi se aprimorando, transformando-se
numa arte cênica peculiar, cuja encenação
não perdeu o refinamento estético das danças.
Mantendo
a tradição, até hoje o Kabuki é apresentado
apenas pelos atores do sexo masculino. Os atores que fazem papel
de mulher são conhecidos como oyama.
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