ARTE - Teatro Nô é o mais antigo do mundo e
é um misto de dança, drama e musical
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A
consolidação e a elevação da qualidade
da arte em muitas de suas formas ocorreu na Era Muromachi. Manifestações
culturais praticadas por nobres, samurais e pelo povo de uma forma
geral sobreviveram ao longo do tempo e podem ser apreciadas até
hoje. A cultura japonesa dita tradicional cerimônia
do chá (cha-no-yu), arranjo de flores (ikebana), pintura
a nanquim (suiboku-ga ou sumiê), teatro Nô, etc.
sedimentou suas bases nessa fase da história do Japão.
O suntuoso edifício dourado Kinkaku (pavilhão de
ouro), construído pelo terceiro xogum, Ashikaga Yoshimitsu,
em fins do século XIV, em Kitayama, ao norte de Quioto,
simboliza a glória do clã Ashikaga. Assim, as manifestações
culturais dessa época são conhecidas como cultura
Kitayama. Enquanto intermináveis batalhas aconteciam em
Quioto, o oitavo xogum, Yoshimasa, construiu, em Higashiyama,
a luxuosa casa de campo Ginkaku (pavilhão de prata), indiferente
ao sofrimento do povo. A cultura representada pelo edifício
Ginkaku é conhecida como Higashiyama-bunka.
Kinkaku
(pavilhão de ouro) e Ginkaku (pavilhão de prata)
O Kinkaku, construído pelo xogum Yoshimitsu em 1397, com
a fortuna adquirida através do comércio com a China
(Dinastia Ming), era totalmente folheado a ouro. Construção
de três andares, sendo o piso térreo e o primeiro
andar destinados à moradia e o segundo andar para culto
religioso, possui uma estética simétrica harmoniosa.
Após a morte de Yoshimitsu, segundo sua vontade, a construção
foi convertida em um templo budista denominado Rokuon-ji, embora
seja popularmente conhecido pelo nome de Templo Kinkaku. Em 1950,
o templo foi totalmente destruído pelo fogo, sendo reconstruído
em 1955. O incêndio foi provocado por um jovem monge lunático,
obcecado pela beleza arquitetônica do templo, fato que inspirou
o romance O templo do Pavilhão Dourado, escrito por Yukio
Mishima, em 1956.
Por
sua vez, o Ginkaku (pavilhão de prata), como diz o próprio
nome, era para ser folheado a prata, o que não se concretizou
por falta de verbas. Sua construção foi ordenada
pelo oitavo xogum do clã Ashikaga em 1460, completando-se,
porém, somente em 1482, devido à Revolta de Onin.
O seu estilo arquitetônico, com o piso inteiramente forrado
de tatami, presença de shôji (divisórias corrediças
com caixilhos de madeira forrados com papel) e tokonoma (uma espécie
de nicho com prateleiras para enfeitar com obras de arte), é
o que há de mais representativo na construção
tradicional japonesa da atualidade. As obras de arte para adornar
o tokonoma fizeram florescer o suiboku-ga (mais conhecido por
nós como sumiê) e o ikebana (arranjo de flores).
Após
a morte do xogum Yoshimasa, o pavilhão transformou-se no
Templo Jishô-ji, porém é conhecido popularmente
como o Templo Ginkaku.
Suiboku-ga
(Sumiê)
Pintura em austero estilo monocromático, criada na China
e introduzida no Japão durante a Dinastia Song (960~1279)
e Yuan (1279~1368), encontrou grandes adeptos entre os monges
da seita zen dos templos de Kamakura e Quioto.
No
século XV, o pintor Sesshu Toyo (1420~1506) criou um estilo
japonês próprio, inspirado na pintura monocromática
da China. A sua obra mais representativa é Ama-no-hashidate
(1501, acervo do Kyoto National Museum).
No
fim da Era Muromachi, um novo gênero de suiboku-ga foi desenvolvido
por artistas da escola Kanô. A escola Kanô foi iniciada
por Kanô Masanobu (1434~1530) pintor oficial do xogunato
Muromachi e continuada por seu filho Kanô Motonobu
(1476~1559). O seu estilo mais decorativo e a sua sensibilidade
plástica tiveram grande influência nos pintores das
épocas posteriores.
Ikebana
Chamado também de kadô, ou seja, caminho das flores,
teve origem nos arranjos de flores oferecidos durante a cerimônia
budista. No século XV, desenvolveu-se a ponto de se tornar
uma arte com estilo próprio. A seleção apurada
das flores e vasos, a disposição dos galhos e a
simetria entre eles e as flores têm distinguido esta arte
da utilização das flores com simples intuito decorativo.
Atualmente,
no Japão, há cerca de 3 mil estilos, sendo os mais
populares o Ikenobô, o Ohara e o Sogetsu.
Teatro
Nô
Dos teatros exibidos até os dias de hoje, o Nô é
o mais antigo do mundo. Nascido no século XIV, o teatro
Nô preserva o que outros importantes teatros perderam: a
origem ritualista, refletindo a visão do budismo. Normalmente,
os personagens são fantasmas que completaram o seu ciclo
de existência terrena e intermedeiam o outro mundo, o mundo
divino, com o terreno. É um teatro misto de dança,
drama e musical, cujo ator principal usa máscara.
A transformação
para os moldes existentes atualmente ocorreu na Era Muromachi,
com o surgimento de Kanami (1333~1384) e seu filho Zeami
(1363~1443), que tiveram a proteção do xogum Ashikaga
Yoshimitsu. A filosofia de Zeami sobre os vários aspectos
do teatro é seguido até hoje pelos atores do teatro
Nô.
O Kyôgen,
comédia representada entre os atos de teatro Nô,
também surgiu no início da Era Muromachi.
Outras
manifestações culturais
Renga, poema criado em grupo, ou seja, uma primeira pessoa cria
os versos formados por 17 sílabas (5, 7 e 5 sílabas)
e a seguinte prossegue, com versos de 14 sílabas (2 versos
com 7 sílabas cada), e assim sucessivamente até
criar cem versos, foi transformado em uma arte literária
de alto nível pelo mestre Sôgi (1421~1502), que criou
uma série de regras complexas.
Da
Era Muromachi até início da Era Edo, foram escritos
contos denominados otogi-zôshi (literalmente, coletânea
de contos de fadas), popularizando cada vez mais a cultura. Entre
esses contos, existem muitos que são conhecidos até
os dias de hoje, como por exemplo, o Issun-bôshi, no qual
um rapaz do tamanho de um polegar salva uma princesa dos demônios
e cresce graças ao mágico uchide-no-kozuchi (martelo
encantado), versão oriental do condão de fada, casa-se
com a princesa e vivem felizes para sempre. Este conto mostra
bem os anseios do povo que nunca mudam nem no tempo, nem no espaço.
As
manifestações culturais dessa época foram
levadas a várias regiões do Japão pelos nobres
e monges que procuraram abrigo entre os clãs regionais
para se refugiarem da Revolta de Onin, que devastou a cidade de
Quioto.
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