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A
cidade de Kamakura tem uma localização privilegiada.
De um lado, as montanhas; de outro, o mar, ou seja, um verdadeiro
forte criado pela natureza. Na principal avenida da cidade, 30
metros de largura unem o mar ao Templo Tsurugaoka Hachiman, onde
se cultua o deus protetor da família Minamoto. Ao longo
dessa avenida, perfilavam-se as residências dos principais
samurais e, perto do templo, erguiam-se os edifícios do
xogunato. A família Hôjo possuía a morada
principal de Kamakura e uma casa de campo na periferia da cidade.
As
residências dos samurais tinham, normalmente, cerca de 3.600
m2 e eram cercadas por valetas ou muros de barro de formato quadrado
ou retangular. Exceto nos templos budistas, as telhas ainda não
eram usadas. Dentro do cercado, ficava a casa principal; nos fundos,
o depósito e o estábulo, assim como alguns poços.
Poucos recintos eram forrados com o tatame, a maioria tinha piso
de madeira no chão.
Observam-se
algumas padronizações nos materiais de construção
das residências. Esse tipo de construção era
chamada de estilo samurai, ou seja, bukezukuri. Nas casas de campo,
eram realizados saraus, festas e reuniões para jogar o
sugoroku, um jogo de dados.
Sanetoki
Kanazawa, do clã Hôjo, dedicou-se à educação
dos monges e dos filhos de samurais, construindo uma escola e
uma biblioteca no terreno de sua casa de campo. Kanazawa importou
sutras e livros com ensinamentos de Confúcio. Uma parte
desse acervo resistiu ao tempo e pode ser vista ainda hoje.
Trajes
Os
trajes dos samurais chamados de kariginu eram bem
mais simples que os da nobreza e de fácil movimentação.
O povo também, a exemplo dos samurais, trajava-se de forma
simples. As mulheres não usavam junihitoe, os vários
quimonos sobrepostos que as mulheres nobres vestiam. Elas usavam
o quimono simples e leve chamado de kosode. Calçavam uma
espécie de chinelo de palha chamado zôri; ou tamanco,
chamado geta. As camadas menos favorecidas da população
andavam descalças.
Hábitos
alimentares
Os
poços de uso do povo não eram cavados em terreno
rochoso, eles utilizavam água de poços de terreno
arenoso, com cerca de 2 metros de profundidade. A qualidade das
águas da região de Kamakura não era boa.
Há o registro de que a água era comercializada em
carroças.
Com
o desenvolvimento das técnicas de escavações
arqueológicas, podemos saber muitos dos hábitos
alimentares do povo da época. Eles se alimentavam de: carne
de veado, javali e texugo; diversos tipos de peixes; moluscos
e crustáceos; cereais e frutas. As arcadas dentárias
com desgaste dos dentes molares comprovam que os alimentos dessa
época eram mais duros. Foram encontrados em escavações
pratos, moringas, tigelas com sulcos (ralador) de cerâmica
e, ainda, porcelanas importadas da China. As refeições
eram feitas duas vezes ao dia. Como adoçante, eram utilizados
mel, pó de caqui seco e cipó doce (amakazura). O
hábito de tomar chá foi difundido pelos monges da
seita zen-budista.
Atividades
literárias
Utensílios
e objetos tais como apetrechos para cerimônia do chá
e objetos religiosos, como terço de contas, tabuleiro de
gô (xadrez japonês) encontrados nas escavações
indicam o alto nível cultural da classe dos samurais.
Na
escultura, destacam-se os nomes de Unkei (?1223) e Kaikei
(11831236), os dois maiores escultores da Era Kamakura que
criaram estátuas (niou) para o templo Todaiji, em Nara.
Ambos deixaram verdadeiras obras-primas desse período histórico
japonês.
Na
literatura, foi compilado por Fujiwara-no-Teika (11621241),
em 1205, a antologia de poemas Shin Kokin Waka Shû (Nova
antologia de poemas oficiais), de 20 volumes. Os poemas são
tecnicamente muito bem elaborados, prezando demais a estética.
A antologia Hyakunin Isshu (Um poema de cem poetas) apreciada
durante muito tempo por nobres e samurais também
foi compilada por Fujiwara-no-Teika. O terceiro shogun, Minamoto-no-Sanetomo
(11921219), por sua vez, deixou para posteridade a antologia
de poemas de alto valor literário Kinkai Waka Shû
(Antologia de poemas de um ministro de Kamakura).
Não
se pode deixar de mencionar o famoso romance Heike Monogatari
(Contos da família Heike), uma obra-prima da era medieval
do Japão. O enredo é centrado na glória e
na decadência do clã Taira. As cenas de guerra são
narradas com emprego abundante de kango (palavras de origem chinesa)
e onomatopéias que dão ao texto maior dinamismo.
A obra Heike Monogatari tornou-se conhecida no Japão todo
devido aos biwa hôshi (espécie de menestrel ou monge
de baixa classe, que ganhava o seu sustento narrando histórias
ao som de instrumento de corda chamado biwa).
Yoshida
Kenkô (12831350) fala da vida dos samurais da região
de Kantô, dos povos nômades e da política em
suas crônicas reunidas no livro Tsurezure-gusa (Crônicas
de um ocioso). Ele critica o sistema político vigente,
que leva o povo à miséria, obrigando-o a tornar-se
fora da lei e ainda aplica penas por seus crimes.
Outra
obra de destaque dessa época, é Hôjô-ki
(Diário de um eremita), de Kamo-no-Chômei, com suas
expressões introdutórias muito conhecidas: A
correnteza do rio nunca cessa, e as águas nunca são
as mesmas, numa alusão à efemeridade da vida.
As sutras e os textos de obras chinesas eram lidos em grande quantidade
pelos monges que tinham ido à China para estudar.
A Era
Kamakura foi a época de transição, em que
as artes, exclusividade da nobreza, passaram a fazer parte da
camada dos samurais, dos monges e do povo em geral.
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