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A
administração política do Japão foi
desenvolvida com base em um gigantesco poderio militar do momento
em que Tokugawa Ieyasu (1542~1616) implantou seu xogunato e se
estabeleceu na cidade de Edo (atual Tóquio), até
a atuação do terceiro xogum, Tokugawa Iemitsu (1604~1651).
Por causa de um rigoroso controle e vigilância, muitos senhores
feudais tiveram suas terras confiscadas e muitos clãs foram
extintos, aumentando, dessa forma, o número de samurais
errantes (rônin), que ficaram sem um senhor a quem servir.
Em 1651, a insatisfação de muitos desses samurais,
que chegaram ao número de 400 mil, deu início a
um plano para a derrubada do xogunato.
Em
janeiro de 1657, mais um acontecimento contribuiu para o descontentamento
geral. O Furisode Kaji (literalmente, incêndio de furisode)
destruiu grande parte da cidade de Edo e foi provocado por um
furisode, ou seja, um quimono luxuoso de donzelas, que estava
sendo queimado em um templo, em razão de suas três
últimas donas terem falecido em seqüência. A
roupa foi carregada pelo vento ainda em chamas, causando o incêndio.
O aumento
do número de rônin, somado à insatisfação
com uma ordem social conservadora, que não permitia a promoção
ou a ascensão das pessoas conforme sua capacidade, bem
como a instabilidade emocional provocada pelo grande incêndio
fizeram com que o xogunato Tokugawa mudasse a diretriz do governo
norteada pela força militar , implantando
uma política baseada na doutrina do filósofo chinês
Confúcio. Essa alteração foi responsável
pela época áurea do xogunato Tokugawa e sustentou
a manutenção do quarto ao sétimo xogum de
Edo, embora a política adotada pendesse para o idealismo,
tornando-se a causa dos conflitos sociais posteriores.
Inu xogum (xogum cachorro) o quinto xogum:
Tokugawa Tsunayoshi (1646~1709)
Inicialmente,
Tsunayoshi foi um bom governante, mas, depois de outorgar, em
1685, a primeira lei de misericórdia a todos os seres
viventes, seguida de mais 60 determinações
semelhantes durante os seus 24 anos de poder, perdeu o prestígio
e ganhou o apelido de inu xogum, ou seja, xogum cachorro.
Tudo
começou com a perda de seu herdeiro, em 1683. Depois disso,
o xogum não conseguia mais ter outros filhos homens. Um
famoso monge, entretanto, disse que o fato era devido ao xogum
ter matado animais em sua vida anterior e que, se ele desejava
ter um herdeiro, deveria dedicar mais amor aos animais. Assim,
como Tsunayoshi havia nascido no ano do cachorro, de acordo com
o horóscopo chinês, passou a proteger, principalmente,
esses animais.
Para
proteger cachorros abandonados, Tsunayoshi chegou a criar 80 mil
desses animais em um terreno imenso, alimentando-os com arroz,
quando o povo morria de fome. Uma de suas leis determinava que
quem matasse um cachorro seria exilado em ilhas longínquas.
O inu xogum desejou, em seu leito de morte, que as
leis de proteção aos animais perdurassem por mais
cem anos, mas o seu sucessor, o sexto xogum, suspendeu as leis
antes mesmo de terminar o funeral de Tsunayoshi.
O sexto
xogum, Tokugawa Ienobu (1663~1712) restabeleceu a ordem empregando
o filósofo confucionista Arai Hakuseki. Seu filho Ietsugu
(1709~1716) tornou-se o sétimo xogum aos 4 anos, assessorado
por Arai Hakuseki, mas morreu aos 8 anos. O oitavo xogum foi Tokugawa
Yoshimune, do clã de Kii-Tokugawa.
A vingança dos Akô-rôshi
Atualmente,
todos os anos no mês de dezembro, tornou-se quase que obrigatória
a encenação da história dos Akô-rôshi
na televisão e em vários palcos de teatro.
No
dia 15 de dezembro de 1702, os 47 conjurados, ex-vassalos do extinto
feudo Akô atacaram a residência de Kira Kozukenosuke
Yoshinaka e, após duas horas de batalha, conseguiram a
cabeça de Kira, retiraram-se do local e dirigiram-se até
o túmulo de seu antigo senhor feudal, Asano Takuminokami,
para presenteá-lo com a cabeça do inimigo que o
fez cair em desgraça. O xogunato vacilou ao punir os 47
conjurados, mas, no final, todos foram sentenciados com a pena
de haraquiri.
Tudo
começou em março de 1701, quando Asano Takuminokami
atacou repentinamente Kira, no corredor do Castelo de Edo, onde
era proibido desembainhar a espada. Não há nenhum
registro do motivo que levou Asano a cometer um ato tão
insano, mas tudo indica que o incidente foi provocado por Kira,
que sempre dirigia palavras mordazes aos seus desafetos. Kira
não deve ter poupado palavras para criticá-lo pelas
supostas falhas cometidas ao recepcionar o mensageiro do imperador.
Asano Takuminokami foi condenado a praticar o haraquiri, e seu
feudo foi extinto.
Mesmo
a doutrina confucionista da China pregava a vingança dos
vassalos e familiares como uma obrigação. O xogunato
Tokugawa emitia a licença de vingança, e os senhores
feudais costumavam pagar um custo de vida aos familiares dos seus
vassalos até conseguirem vingar a morte dos seus entes
queridos. Após a vindicação dos conjurados
de Akô, esse hábito se estendeu até a classe
dos plebeus. Os que conseguiam seu objetivo, tornavam-se heróis
aos olhos do povo.
O
oitavo xogum, Tokugawa Yoshimune (1684~1751)
Yoshimune
restaurou e desenvolveu o xogunato. Suas medidas ficaram conhecidas
como a Reforma de Kyôho, em virtude de o xogum ter assumido
o poder e iniciado a reforma no primeiro ano da era Kyôho,
ou seja, em 1716. Yoshimune seguia a política de Tokugawa
Ieyasu e recomendou uma vida austera a camponeses e civis, além
do incentivo aos treinos de artes marciais, para elevar o moral
dos samurais.
O oitavo
xogum explorou arrozais e valeu-se do poder financeiro dos comerciantes
para aumentar a taxa da carga tributária. Ele ainda criou
um sistema de promoção aos funcionários do
baixo escalão conforme sua capacidade. No entanto, a carga
tributária era pesada, e o campo foi assolado sucessivas
vezes por um clima traiçoeiro, provocando muitos motins
de camponeses. Muitos feudos tomaram medidas para a sobrevivência,
tais como diminuir o pagamento de seus vassalos, monopolizar a
venda de seus produtos e emitir moedas de circulação
apenas interna, mas os samurais tiveram de enfrentar uma vida
difícil. Muitos feudos contraíram dívidas
vultosas de grandes comerciantes das metrópoles.
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