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O
mundo evoluía para a modernidade, enquanto o Japão
gozava de uma relativa paz dentro da redoma criada com o fechamento
dos portos às nações estrangeiras. Tal atitude
foi a base para a criação de uma cultura própria
e peculiar.
Grande
parte dos países das Américas haviam conquistado
a independência, inclusive o Brasil, no ano de 1822. Entretanto,
a Revolução Industrial, iniciada em meados do século
XVIII, na Inglaterra impulsionou a busca européia por novas
colônias. Assim, a Inglaterra, por exemplo, invadiu e colonizou
a Índia, a Birmânia (atual Mianmá), Hong Kong
(cedida pela China após a Guerra do Ópio) e a Península
Malaia; a França colonizou o Vietnã, o Camboja e
o Laos; a Holanda, as Ilhas da Indonésia; Portugal, Goa,
Ilhas Molucas, Macau, Timor Leste e outros territórios;
enquanto a Espanha tomou as Filipinas.
Tais
notícias provavelmente chegaram ao xogunato Tokugawa pelos
holandeses que mantinham relações comerciais
com o Japão , deixando-o receoso.
Navios
americanos (kurobune) nos mares do Japão
Quando
a esquadra americana composta por quatro navios de guerra comandados
pelo almirante Matthew Calbraith Perry (1794~1858) aportou em
Uraga (província de Kanagawa), apontou seus canhões
para as terras japonesas e entregou uma carta do presidente dos
Estados Unidos com o objetivo de assinar um tratado de comércio
com o arquipélago, o governo Tokugawa ficou alarmado, mas
conseguiu adiar sua resposta por um ano.
Assim,
em 1854, Perry ancorou no Golfo de Edo para cobrar uma resposta
japonesa. O xogunato, enfraquecido e desgastado ao longo de 260
anos de comando, não pôde recusar a imposição
americana e acabou assinando o Tratado de Kanagawa, em 31 de março
de 1854, o qual permitiu aos Estados Unidos a abertura de portos
em Shimoda e Hakodate, o abastecimento de combustíveis
e produtos alimentícios aos navios americanos e a instalação
do consulado americano na terra do sol nascente.
O Tratado
de Comércio e Navegação foi assinado em 1858
e deu aos americanos poderes para aportarem seus navios em Kanagawa,
Nagasaki, Niigata e Hyogo. Uma vez cedida à pressão
estrangeira, o xogunato Tokugawa teve que assinar tratados semelhantes
com Inglaterra, Rússia e Holanda. Dessa forma, desmoronou
a política de isolamento das nações estrangeiras,
e outros fatores se encarregaram de corroer o sistema político
que sustentava o poder do xogunato japonês.
Evasão
rural
Por
volta do século XVIII, a circulação cada
vez maior de moedas influenciou muito não apenas a economia
urbana, mas também a rural. Em vez de plantarem apenas
para seu próprio consumo, a moeda permitiu aos agricultores
o comércio de suas colheitas, com a compra de novos e melhores
equipamentos e sementes de produtos como algodão e colza
(para extração de óleo). Essa modernização
provocou desníveis sociais, porque os agricultores conseguiram
enriquecer com a comercialização de seus produtos
e compraram terrenos de pessoas menos abastadas, ignorando a proibição
imposta pela lei vigente. Muitos dos que perderam suas terras
abandonaram o campo e foram para as grandes cidades, causando
fissuras nas bases da então sociedade conservadora.
Expansão
das atividades manufatureiras
A atividade
têxtil também foi adquirindo novo fôlego, com
o desenvolvimento do brocado nishijin na região de Quioto
e Kiryû (província de Gunma) e do tecido de algodão
nas imediações de Osaka e Owari. Os comerciantes
de tecidos começaram a procurar camponeses para o trabalho
na entressafra, alugando teares, fornecendo a linha e adquirindo
tecidos a preços irrisórios.
Comerciantes
ou proprietários de terras mais abastados, ou mesmo alguns
senhores feudais, passaram a reunir camponeses num local montado
com todos os equipamentos necessários para a fabricação
de tecidos para a realização do trabalho em equipe,
com subdivisão de tarefas. Surgiam, assim, as primeiras
fábricas.
A vida
dos camponeses não melhorou, apesar de todas essas atividades
econômicas. Houve, inclusive, a piora das condições
de sobrevivência, pois os camponeses começaram a
sofrer a influência da flutuação dos preços
dos produtos agrícolas, além dos tributos, que ficaram
mais onerosos.
A
desintegração do sistema de xogunato Tokugawa
Em
fins do século XVIII, na tentativa de recuperar a estabilidade
política do xogunato, o rôchû Matsudaira Sadanobu
implementou a Reforma de Kansei (1787~1793), que se constituía
em: construção de armazéns para o arroz,
a fim de ter reservas, em caso de carência de víveres;
limitação de lavoura de produtos comerciáveis;
incentivo de estudos e práticas de artes marciais dos samurais;
unificação do ensino, proibindo os estudos que não
fossem de filosofia confucionista; anistia de uma parte das dívidas
contraídas dos comerciantes pelos hatamoto, pregando a
estes uma vida mais austera.
Com
o abrandamento da política do xogunato causado pelo afastamento
de Sadanobu, no início do século XIX, os comerciantes
adquiriram cada vez mais poder econômico; em contrapartida,
o número de samurais empobrecidos aumentou. Muitos plebeus
compraram o título de samurai, fazendo com que seus filhos
se tornassem herdeiros de famílias de samurais.
As
insatisfações contra a sociedade desestruturada
e a demonstração de fraqueza do xogunato Tokugawa
perante as nações estrangeiras que forçaram
a abertura dos portos causaram o surgimento de ideais revolucionários
entre os jovens samurais, culminando com a restauração
do poder imperial, em 1868.
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