TRANSIÇÃO - Sakamoto Ryôma elaborou
os ideais do novo governo imperialista
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Jornal NippoBrasil
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volta de 1850, os EUA e os países da Europa que tinham
passado pelo processo da Revolução Industrial viam
nos países da Ásia uma oportunidade de expandir
seu mercado. Assim, tentaram forçar a abertura dos portos
em um momento que coincidiu com o deterioramento do poder do xogunato
Tokugawa, que vinha perdurando por mais de 260 anos. Pressionado
pelos imperialistas, que aspiravam um novo sistema liderado pelo
imperador, o xogunato também enfrentava os camponeses insatisfeitos,
que provocavam motins em várias regiões, desencadeando
uma onda de revoltas por todo o país.
No
início, o motivo da indignação foi o preço
do arroz, mas o movimento foi crescendo e, no fim, o povo desejava
a renovação do arquipélago. Muitos jovens
que souberam da situação do país vizinho,
a China, totalmente dominado por europeus e americanos, protestaram
para que o Japão não tomasse o mesmo rumo. Em sua
maioria, eram jovens oriundos da classe baixa dos samurais, filhos
de camponeses e comerciantes. Os primeiros passos para a construção
de um novo país foram dados por esses jovens, que, inclusive,
impediram a colonização do país pelas nações
do Ocidente.
Sakamoto
Ryôma (1835~1867)
Nascido
em Tosa (atual província de Kôchi), Sakamoto era
o segundo filho de um samurai reformado (gôshi)
que vivia no campo. Durante a infância, não foi um
aluno muito aplicado, mas, ao presenciar a falta de disciplina
do xogunato Tokugawa diante da chegada da esquadra americana comandada
pelo almirante Perry, Sakamoto passou a se dedicar aos estudos,
pensando no futuro do país.
Em
1862, Sakamoto desertou do feudo de Tosa e tornou-se discípulo
de Katsu Kaishu (1823~1899), um homem de grande visão,
e dedicou-se à fundação do quartel da Marinha.
Com o apoio do feudo de Satsuma (atual província de Kagoshima),
ele organizou o regimento da Marinha (kaihei-tai) e também
dedicou-se ao transporte marítimo.
Graças
aos esforços de Sakamoto, os feudos de Satsuma e de Chôshu
tornaram-se aliados na luta para derrubar o xogunato Tokugawa.
Ele ainda elaborou o seu ideal de novo governo, conhecido pelo
nome de senchu hassaku, que era: 1) a devolução
do poder ao imperador; 2) o governo da corte imperial ouvindo
a maioria e instalando um parlamento; 3) a admissão em
larga escala de pessoas capacitadas; 4) a condução
da política externa ouvindo a maioria; 5) a criação
de uma constituição; 6) a ampliação
do poder da marinha; 7) a formação de uma força
armada do governo; 8) o estabelecimento de um câmbio com
a moeda estrangeira.
Sakamoto
mostrou o senchu hassaku a Gotô Shôjirô (1838~1897),
do feudo de Kôchi, que, por sua vez, convenceu Yamauchi
Toyoshige (1827~1872), do mesmo feudo, a levar as premissas do
novo governo ao conhecimento do décimo quinto e último
xogum, Tokugawa Yoshinobu. Ao perceber a falha de sua administração,
Tokugawa assinou o tratado que devolvia o poder à corte
imperial.
Sakamoto
Ryôma sofreu vários atentados e foi assassinado aos
33 anos, durante um encontro sigiloso com Nakaoka Shintarô,
outro revolucionário, dez meses antes da Restauração
Meiji.
Shinsengumi
O povo
japonês sempre demonstrou mais simpatia pelos perdedores.
Um desses exemplos, símbolo de grande simpatia, é
o Shinsengumi, um grupo de jovens que dedicaram fidelidade ao
xogunato Tokugawa até o último momento. Embora todas
as dramatizações sobre a história do Shinsengumi
no teatro, no cinema e em telenovelas conquistem grande audiência,
mesmo nos tempos atuais, sua trajetória não consta
nos livros didáticos de história do Japão.
Inicialmente
formado por Kiyokawa Hachirô (1830~1863), o grupo chamava-se
Rôshigumi e tinha como objetivo controlar os samurais desocupados
que viviam na cidade de Edo (atual Tóquio), em fins de
1862. Porém, quando o grupo de jovens chegou a Quioto para
os preparativos da viagem do xogum a esta cidade, Kiyokawa declarou
que o verdadeiro objetivo do grupo era apoiar os imperialistas.
O xogunato ordenou a volta do grupo para Edo, mas alguns de seus
membros eram contrários à conduta de Kiyokawa e
permaneceram em Quioto, formando, assim, o Shinsengumi, liderado
por Kondô Isami (1834~1868), filho de camponeses.
O grupo,
então, passou a pertencer ao feudo de Aizu, com a intermediação
do governador de Quioto, Matsudaira Katamori (1835~1893), e consolidou-se
pela postura antiimperialista de seus componentes. Em nome da
paz, o Shinsengumi assassinou muitas pessoas em Quioto e dedicou
fidelidade a Matsudaira Katamori, que foi contra a devolução
do poder à corte imperial.
Em
1864, o grupo conseguiu vencer a tropa do feudo de Chôshu,
mas foi derrotado na batalha de Toba e Fushimi, em 1868. Os sobreviventes
foram presos e decapitados. A batalha ainda se alastrou por um
ano e meio entre os partidários do xogunato Tokugawa e
o novo goveno, conhecido como boshin sensô.
Após
a Restauração Meiji, Matsudaira Katamori tornou-se
sacerdote-mor do Templo Nikko Toshogu, jazigo de Tokugawa Ieyasu.
O último xogun, Tokugawa Yoshinobu, retirou-se para Mito
(província de Ibaraki), após deixar o castelo de
Edo, recebendo, posteriormente, o título de duque.
Muitos
dos jovens imperialistas que foram contemplados com algum título
após a Restauração Meiji eram de origem humilde,
em sua maioria dos feudos de Satsuma, Chôshu e Tosa.
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