REBELIÃO - Amakusa Shirô liderou os revoltosos
contra os senhores feudais
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Tokugawa
Ieyasu (1542~1616), a exemplo de Toyotomi Hideyoshi (1536~1598),
proibiu o culto ao cristianismo, mas, ciente das riquezas provenientes
do comércio exterior, sua fiscalização era
branda e bastante receptiva à vinda dos navios portugueses
e espanhóis. Posteriormente, os navios holandeses e ingleses
também passaram a freqüentar os portos japoneses.
Aos navios mercantes japoneses pertencentes a senhores feudais
e grandes comerciantes, foi concedido o alvará com o selo
do clã Tokugawa, denominado shuin-jo, fomentando o comércio
exterior com as ilhas do Sudeste Asiático, onde foram criadas
algumas cidades japonesas.
Com
a intensificação do comércio com Portugal
e Espanha, o número dos que se converteram ao cristianismo
também aumentou, fato que levou sacerdotes xintoístas
e monges budistas a forçarem a proibição
do cristianismo. Além de senhores feudais, alguns samurais
e servos subordinados diretamente ao clã Tokugawa se converteram
ao cristianismo. Por outro lado, os ingleses e os holandeses que
chegaram ao Oriente depois de portugueses e espanhóis,
por volta de 1601, para recuperar o atraso, tentaram atrapalhá-los,
passando a espalhar o boato de que lusos e hispanos nutriam a
ambição de colonizar o território japonês.
Despontaram, ainda, alguns senhores feudais que enriqueceram com
o comércio e adquiriram mais poder. Diante de tal panorama,
o xogunato Tokugawa sentiu-se ameaçado.
Dessa
forma, Tokugawa Ieyasu proibiu a prática do cristianismo
com maior rigor, destruindo igrejas e expulsando os padres do
Japão. O segundo xogum, Hidetada (1579~1632), limitou o
comércio com os europeus apenas à região
de Hirado e Nagasaki. O terceiro xogum, Iemitsu (1604~1651), proibiu
a entrada dos portugueses, que teriam rompido com o arquipélago
de qualquer maneira, em virtude da atividade pirata holandesa.
Os ingleses fecharam a casa de comércio de Hirado e retiraram-se
do Japão em 1623, encontrando outros pontos comerciais
mais lucrativos. Os espanhóis também abandonaram
o comércio com o Japão, por não vislumbrarem
tanta vantagem, permanecendo apenas os holandeses na terra do
sol nascente.
Em
1630, foi proibida a importação de livros chineses
e europeus, a navegação dos que não fossem
goshuin-sen (navio mercante autorizado pelo xogum), a saída
dos japoneses ao exterior, a volta dos que moraram por mais de
cinco anos no exterior e o aportamento dos navios estrangeiros.
Foi construído ainda um aterro, ou seja, uma ilha artificial
em Nagasaki chamada Dejima (1634), restringindo a atividade comercial
e a permanência dos holandeses apenas a essa ilha.
A perseguição
de Tokugawa aos cristãos incluía o oferecimento
de cem moedas de prata para quem denunciasse o esconderijo de
padres, culminando com o aprisionamento, a tortura e a morte de
cristãos, que, eram identificados quando titubeavam ou
se recusavam a pisar sobre quadros de madeira ou de bronze com
imagens de Cristo ou da Virgem Maria (fumi-ê).
Revolta
de Shimabara
A
Revolta de Shimabara (1637~1638) foi a última turbulência
enfrentada pelo xogunato de Edo antes da estabilização
de seu sistema do seu governo.
Existiam
muitos cristãos na região de Shimabara e Amakusa
(norte da Ilha de Kyushu), por ela ter pertencido a Harunobu Arima
e Konishi Yukinaga, senhores feudais cristãos, antes da
Batalha de Sekigahara. Entretanto, os novos daimiôs da região,
Matsukura Shigemasa e Terazawa Katataka, perseguiram os cristãos
e aplicaram-lhes severas punições, como a morte
na cratera de vulcões, ou ainda o envolvimento de seus
corpos numa capa feita com palha de arroz, sobre a qual ateavam
fogo. Tal morte era chamada de mino odori, ou seja, dança
da capa de palha, e causava extremo divertimento aos senhores
feudais, que gostavam de ver os condenados debaterem-se envoltos
em chamas.
Matsukura
e Terazawa cobravam altos tributos dos camponeses, mesmo sabendo
que a região estava sendo castigada pela seca e, conseqüentemente,
a colheita fosse escassa. A fome fazia muitas vítimas,
mas, mesmo assim, os senhores feudais nada fizeram para ajudar
o povo. Foi nesse cenário que se espalhou o boato de que
um filho de Deus surgiria para salvar as pessoas. Esse salvador
foi identificado como Masuda Shirô Tokisada, que, por ter
nascido em Amakusa, ficou conhecido pelo cognome de Amakusa Shirô.
Amakusa
Shirô liderou os camponeses rebelados de Shimabara e Amakusa
que lutaram contra os cruéis senhores feudais e as tropas
enviadas pelo xogunato Tokugawa. A rebelião de 37 mil pessoas
só foi contida quando o governo de Edo enviou uma tropa
de 120 mil samurais comandada por Matsudaira Nobutsuna, homem
de confiança do xogum Iemitsu.
Após
conter a rebelião, o governo puniu com a pena de morte
os senhores feudais de Shimabara e Amakusa. A região tornou-se
praticamente desabitada. Dessa forma, o governo forçou
a migração de muitos camponeses para este local
e adotou medidas políticas que beneficiavam os menos abastados,
como a redução de tributos. Cinqüenta anos
após o conflito, a região transformou-se em uma
das zonas rurais mais ricas e modernas do Japão.
Amakusa
Shirô (1621~1638)
Um
padre expulso de Amakusa havia feito a profecia de que um jovem
de 16 anos salvaria o povo quando o céu queimasse as nuvens
de leste a oeste, o solo desabrochasse flores fora da época,
a terra tremesse e o povo e a natureza perecessem.
Mais
de duas décadas após a profecia, o céu tingiu-se
de vermelho, as flores de cerejeiras desabrocharam apesar
de ser outono e as doenças da época fizeram
muitas vítimas. O povo passou a comentar que a profecia
estava se concretizando. Nessa época, morava em Amakusa
um menino de 16 anos, filho de Masuda Jinbê, que havia servido
a Konishi Yukinaga. Era um menino muito esperto, de traços
delicados e carismático, que logo se tornou muito respeitado
na região. Sabia falar latim e era versado na doutrina
cristã, assim como na filosofia confucionista.
Uma
vez escolhido como líder do movimento, ele lutou bravamente
à frente da força revoltosa, agiu com sabedoria,
incentivou o grupo com a fé cristã e fez com que
os camponeses lutassem sem temer a morte. Com a derrota da força
revoltosa, ele foi capturado e decapitado.
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