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Jornal NippoBrasil
A
Era Edo teve três fases distintas, sob o ponto de vista
cultural. A primeira delas, denominada Cultura Keichô-Kanei,
abrangeu a primeira metade do século XVII; a segunda fase,
chamada de Cultura Genroku, foi de meados do século XVII
até o início do século XVIII; a terceira
fase, denominada Cultura Kasei, começou em fins do século
XVIII e terminou no início do século XIX.
A Cultura
Keichô-Kanei é representada por obras suntuosas
e luxuosas, como segmento da Era Azuchi-Momoyama, observando-se
também a influência da cultura ocidental. A cultura
dessa fase foi sustentada por samurais e nobres.
Como
obra representativa dessa época, há o Templo Toshogu,
construído em homenagem a Tokugawa Ieyasu, na província
de Tochigi, cidade de Nikko. Ao falecer, Ieyasu foi enterrado
primeiro no Monte Kunôzan, na província de Shizuoka,
em 1616, porém, no ano seguinte, sob conselho do monge
Tenkai (1536~1643), seu filho e segundo xogum, Hidetada, transferiu
o corpo de Ieyasu para Nikko. O templo foi reformado e ampliado
pelo terceiro xogum, Iemitsu, entre 1634 e 1636. Fazendo contraste
com o suntuoso Templo Toshogu, encontra-se em Quioto a vila imperial
Katsura-Rikyu, construída entre 1620 e 1624, despojada
de luxo, porém denotando refinamento ímpar.
A Cultura
Genroku floresceu, principalmente, em Osaka, sustentada por grandes
comerciantes e samurais. Nas obras desse período, observam-se
a ideologia pragmática e realista. Os artistas representativos
dessa época são: no campo da pintura, Ogata Kôrin
(1658~1716) e Hishikawa Moronobu (1618~1694), conhecido como criador
das xilogravuras ukiyoye; e, no campo da literatura, Matsuo Basho
(1644~1694), que sublimou o haicai; Ihara Saikaku (1642~1693),
que descreveu a vida do povo com vivacidade; e Chikamatsu Monzaemon
(1653~1724), que compôs peças para Jôruri e
para teatro Kabuki.
A Cultura
Kasei, última da Era Edo, foi criada por samurais e pelo
povo de Edo, que adquiriu estabilidade econômica e política.
Nas obras dessa época, transparecem o gosto pelo prazer
mundano, refletindo a política degenerada e corrupta. Destacaram-se
nessa época muitos pintores de ukiyoye, tais como: Utamaro
(1753~1806) e Sharaku (?~fins do século XVIII) que
pintaram muitos artistas do teatro Kabuki e mulheres consideradas
bonitas na época , Hokusai (1760~1849) e Hiroshige
(1797~1858), que pintaram paisagens. Na literatura, tivemos Jippen
Shaikku (1765~1831), autor da comédia Tôkaidô
Hizakurige, o romancista Takizawa Bakin, e os poetas de haicai
Yosa Buson (1716~1783) e Kobayashi Issa (1763~1827).
Ukiyoye
Um
dos fatores que impulsionou o surgimento da japonologia
estudos sobre a cultura japonesa , na Europa, durante o
século XIX, foi a descoberta do ukiyoye pelos europeus.
A influência do ukiyoye é observada, por exemplo,
nas obras do pintor Vincent van Gogh (1853~1890).
Ukiyoye
é a denominação da pintura que retrata a
vida do povo da época. Eram quadros pintados com o próprio
punho, bastante caros, adquiridos apenas por senhores feudais
ou grandes comerciantes. Com o desenvolvimento de técnica
de xilogravuras, o ukiyoye popularizou-se. No início, era
empregado como ilustração de romances populares
e eram figuras monocromáticas, que se tornaram coloridas
com o tempo. O ukiyoye era idealizado primeiro pelo editor; depois,
o pintor desenhava conforme o pedido; a seguir, ele era esculpido
nas pranchas de madeira, conforme as cores; e, por último,
passado para o impressor, que tirava as cópias. À
medida que aumentava o número de publicações
e a técnica de impressão também avançava,
o ukiyoye tornava-se acessível ao povo também, que
o adquiria para apreciá-lo, ou para levá-lo como
lembrança de viagem.
Sharaku,
que criou um estilo próprio de homens caricaturados, conseguindo
transmitir os sentimentos humanos, não foi muito apreciado
na época. Suas obras passaram a ser valorizadas apenas
na Era Meiji, quando Ernest Francisco Fenollosa (1853~1908), que
apresentou as obras de arte japonesa nos Estados Unidos, reconheceu
o seu valor artístico.
Literatura
yomihon
Os
romances lidos pelo povo na Era Edo eram conhecidos pelo nome
de yomihon e existiam em diversos gêneros, para todos os
gostos: kana-zôshi escrito em hiragana (fonogramas); ukiyo-zôshi,
sobre amores e vida do povo; share-bon, que retrata a vida dos
prostíbulos; kokkei-bon, romance que aborda o lado cômico
do povo; ninjô-bon, histórias de amor; kusa-zôshi,
contos ilustrados para o público infantil e o feminino;
e kibyôshi, romance ilustrado para adultos. Todos esses
livros eram muito lidos pelo povo, mas, nessa época, em
vez de comprá-los, o povo alugava-os nas livrarias de aluguel.
O xogunato
interferia até mesmo nos conteúdos desses romances,
proibindo a publicação daqueles que poderiam atentar
contra os bons costumes da época, ou aqueles que continham
teor de crítica ao sistema vigente, punindo os editores
e autores que, no início, eram samurais de baixo escalão,
pois ainda não conseguiam sobreviver somente como escritores.
Kokugaku
(Estudos Clássicos Japoneses) e Yôgaku (Estudos das
Ciências Ocidentais)
Após
o oitavo xogum, Yoshimune, ter liberado a importação
das literaturas ocidentais traduzidas para o chinês, o número
daqueles que estudavam as ciências do Ocidente aumentou.
O médico
alemão Siebold (1796~1866), que chegou ao Japão
no ano de 1823, para trabalhar como médico da Casa Comercial
Holandesa (Horanda-Shôkan), fundou, na periferia da cidade
de Nagasaki, no ano seguinte à sua chegada, a escola Narutaki-juku,
formando vários estudiosos de Yôgaku.
Nessa
época, surgiu também um movimento para pesquisar
os pensamentos do povo japonês, remetendo aos tempos primordiais,
que antecederam a introdução do budismo e do confucionismo.
Esse movimento recebeu o nome de Kokugaku. Entre os estudiosos
de Kokugaku, destacaram-se Kamo-no-Mabuchi (1697~1769) e Motoori
Norinaga (1730~1801). O Kokugaku difundiu-se mesmo entre os camponeses
e o povo, encontrando seu seguidor na figura de Hirata Atsutane
(1776~1843), que remeteu a sua linha de pensamento até
o xintoísmo filosofia essa que foi adotada pelos
imperialistas em fins de xogunato Tokugawa.
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