Monge Kûkai ganhou título de Grande Mestre
Kôbô (Kôbô Daishi)
|
Concepção do inferno budista
|
Arquivo
NippoBrasil
O
ser humano nasce puro e começa a viver em busca da plenitude
no decorrer da vida, quando passa por altos e baixos, experimenta
emoções e sentimentos diversos. Na juventude, só
há olhos para a vida; com o amadurecimento, iniciam-se
os questionamentos sobre a vida e o significado da morte. No empenho
para se obter uma resposta, várias religiões foram
criadas.
No
Japão, embora já existisse uma crença nativa
entre o povo, o budismo foi acolhido e difundido entre a nobreza,
por possuir um embasamento teórico mais racional e por
estar mais adequado ao temperamento pacífico dos japoneses
e à integração com a natureza.
A história
do budismo no arquipélago foi sedimentada pelo príncipe
Shôtoku e encontrou sua sublimação com o monge
Ganjin. Entretanto, foi na Era Heian que essa religião
se transformou em uma cultura genuinamente nacional, isso porque
foi no início desse período que foram introduzidas
no Japão as seitas Tendai e Shingon.
Os
ensinamentos de jôdo (Terra Pura) do budismo foram difundidos
em meados da Era Heian pelo desejo de deixar esta vida serenamente,
entregando-se às mãos de Amidabutsu (divindade budista
mais popular no Japão), e encontrar a paz eterna no paraíso.
Monge
Saichô e monge Kûkai
No
início da Era Heian, as seitas budistas que mais conquistaram
adeptos foram a Tendai e a Shingon, lideradas pelo monge Saichô
(767~822) e pelo monge Kûkai (744~835), respectivamente.
Nessa época, o budismo ainda era a crença apenas
da nobreza, não sendo cultuado pelo restante do povo. O
sincretismo entre a doutrina budista e a crença xintoísta
acentuou-se, chegando à construção de um
templo budista no pátio de um templo xintoísta e
à cultuação de uma divindade regional como
protetora de um templo budista. Criou-se também a crença
de que os diversos deuses eram a reencarnação do
Buda, que vinha para este mundo sob diversas formas para salvar
os homens.
O monge
Saichô teve sua iniciação religiosa atraído
pela doutrina da seita Tendai, fundada pelo grande mestre chinês
Chigi (Tendai-Daishi Chigi), levada para o Japão pelo monge
Ganjin. Saichô aproximou-se do imperador Kanmu e conseguiu,
em 804, integrar a missão a Tang (kentô-shi) como
missionário oficial, com direito a intérprete e
a todas as mordomias de um representante oficial do país.
O monge Kûkai também conseguiu viajar à China
junto com essa missão, mas na qualidade de um simples bolsista
particular.
Durante
os oito meses nos quais permaneceu na China (Dinastia Tang), Saichô
reuniu sutras da seita Tendai, artes búdicas e estudou
o budismo esotérico. Quando voltou ao Japão, ele
se dedicou de corpo e alma à fundação da
seita Tendai no arquipélago.
O monge
Kûkai, por sua vez, permaneceu na China por aproximadamente
três anos, visitando vários templos e encontrando-se
com o famoso e conceituado monge chinês Keika, no Templo
Seiryû, em Changan, do qual recebeu ensinamentos sobre o
budismo esotérico. Kûkai também aprendeu sânscrito
antes de voltar ao Japão, trazendo consigo além
dos vastos conhecimentos adquiridos na China, diversas obras búdicas,
como quadros, objetos sagrados e mandala.
A morte
do imperador Kanmu acabou com o prestígio que o monge Saichô
tinha junto à nobreza, porque o imperador Saga, sucessor
de Kanmu, demonstrou maior simpatia pelo monge Kûkai, que
se consolidou como autoridade máxima do budismo esotérico.
Em Quioto, Saichô começou a transmitir os ensinamentos
da seita Tendai instalando-se no Monte Hiei, e Kûkai fundou
no Monte Kôya a base do budismo esotérico: a seita
Shingon.
Saichô
e Kûkai, os dois grandes gênios do mundo religioso,
sempre tiveram a proteção dos nobres e dedicaram
suas vidas a manter a paz e a glória da nobreza e da corte.
Eles foram os primeiros a receberem o título de Grande
Mestre no Japão. O monge Saichô recebeu o título
de Grande Mestre Dengyô (Dengyô Daishi); e o monge
Kûkai, o de Grande Mestre Kôbô (Kôbô
Daishi).
O
monge Kûya e a seita Jôdo
No
início do século X, com o enfraquecimento da corte
de Yamato, os nobres que fixaram residência no interior
e os grandes clãs regionais começaram a adquirir
maior poder, iniciando lutas que se tornaram cada vez mais
acirradas com o passar dos anos para aumentar os seus feudos.
Nesse
cenário de incertezas, surgiu o monge Kûya (903~972).
Ele pregava entre o povo de Quioto, que vivia sobressaltado com
as lutas constantes, os flagelos provocados pela natureza e a
fome. Kûya pregava a salvação pelo nenbutsu
(oração budista), invocando o Buda Amidabutsu. Ele
influenciou vários grandes monges e conquistou muitos adeptos
entre o povo, pois levava uma vida ascética, compartilhando
suas incertezas e seus sofrimentos, diferente dos monges confortavelmente
protegidos pela nobreza. Entretanto, quem consolidou essa doutrina
de salvação pelo nenbutsu para alcançar a
Terra Pura (Jôdo) foi o monge Genshin (942~1017), que escreveu
Ôjo Yôshu, uma obra que explica, num estilo primoroso,
a teoria e a prática de salvação da alma
pós-morte.
O mappô
shisô pregado pelo budismo, a progressiva crença
no fim do mundo, fazia com que o povo de Quioto, vítima
constante de assaltos, epidemias e outras provações,
tentasse encontrar a paz espiritual pelos ensinamentos da seita
Jôdo, ou seja, a salvação no mundo da Terra
Pura. Dessa forma, começaram a surgir várias biografias
de pessoas que encontraram a suposta salvação, reunidas
numa coletânea conhecida como Ôjo-den.
Com
a difusão da seita Jôdo fundada pelo monge
Hônen (1133~1212) em 1175, final da Era Heian sua
arte também prosperou. Foram esculpidas muitas imagens
do Buda Amidanyorai e construídos templos suntuosos, na
tentativa de recriar o gokuraku (paraíso dos budistas),
sendo um dos mais conhecidos o Hôôdô do Templo
Byôdoin, em Quioto.
|