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Jornal NippoBrasil
Como
foi mencionado nos capítulos anteriores, o início
da Era Meiji foi marcado por avidez do povo em absorver a cultura
ocidental, assimilá-la e engajar-se numa campanha para
promover e difundir novos pensamentos e conhecimentos. Daí
despontaram grandes nomes, como o de Fukuzawa Yukichi (1835~1901),
Nakamura Masanao (1832~1891), Nishi Amane (1829~1897), Niijima
Jo (1843~1890) e outros. Principalmente, a obra de Fukuzawa intitulada
Gakumon no susume (Convite ao saber) contribuiu muito para incutir
no povo o espírito de liberdade e de independência.
A famosa frase introdutória da obra de Fukuzawa A
Providência não criou o homem superior nem inferior
foi elucidativa para o povo da época. Porém, essa
filosofia que contém um pragmatismo absoluto, esqueceu-se
de que o lado psicológico do homem nunca acompanha a velocidade
do progresso material. Nesse cenário, a literatura retomou
o papel de antítese ao utilitarismo.
Por
volta do ano 10 da Era Meiji, para fazer frente ao Dai-shinbun
(Grande Jornal) dirigido aos leitores de classe intelectualizada,
surgiu o Shô-shinbun, com muitas ilustrações
e escrito numa linguagem que se aproximava do coloquial, narrando
os fatos reais com certo grau de dramaticidade. Nessa mesma época,
muitas obras literárias do exterior começaram a
ser traduzidas com grande receptividade por parte dos leitores
japoneses que buscavam na literatura não somente o lazer,
mas também a aquisição de novos conhecimentos.
Uma obra muito lida nessa época foi A volta ao Mundo em
80 Dias, de Júlio Verne (1828~1905).
Genbun
Itchi (Nivelação da linguagem escrita e da falada)
Outro
fato que merece ser destacado é o movimento de aproximar
a linguagem escrita da falada (genbun itchi). E também,
em observância à literatura ocidental, a literatura
japonesa passou a ser encarada como uma arte independente, e não
um meio político ou de moralização. Dois
grandes literatos que encabeçaram esse movimento foram:
Tsubouchi Shôyô (1859~1935) e Futabatei Shimei (1864~1909).
Tsubouchi
Shôyô renovou o conceito da literatura, escrevendo
ensaios, romances e peças para teatro, firmando o conceito
de realismo na literatura e rejeitando o moralismo em que o bem
vence o mal. Ele lançou Waseda Bungaku (Círculo
Literário de Waseda) no ano 24 da Era Meiji (1891), uma
revista que teve grande influência no movimento literário.
Uma de suas obras mais conhecidas é Tôsei Shosei
Kishitsu (O temperamento do aprendiz atual).
Futabatei
Shimei foi um grande admirador de obras literárias russas,
sendo a sua obra representativa o romance Ukigumo (Nuvens efêmeras),
escrito em estilo coloquial com análise detalhada do lado
emocional dos personagens. Essa obra serviu de modelo para os
escritores como um parâmetro de romance moderno.
Passada
a febre pela cultura ocidental, renasceram aos poucos o nacionalismo
e os pensamentos mais conservadores. Na literatura, os valores
das obras clássicas foram revistos, como a dos autores
da Era Edo Chikamatsu Monzaemon e Ihara Saikaku.
Aos
poucos os japoneses foram encontrando o ponto de equilíbrio
entre os dois extremos, e a literatura também foi conquistando
o seu espaço como uma forma de manifestação
artística, surgindo as famosas obras Konjiki Yasha (A feiticeira
dourada), de Ozaki Kôyô (1867~1903), Hototogisu (O
cuco), de Tokutomi Roka (1868~1927), e muitos outras que tiveram
influência em escritores posteriores, como Kawabata Yasunari
(1899~1972), Prêmio Nobel da Literatura em 1968.
Em
meados da Era Meiji, surgiu a escritora Higuchi Ichiyô (1872~1896),
autora de obras imortais, como Takekurabe (O crescimento) e Ôtsugomori
(Fim de Dezembro).
Natsume Sôseki (1867~1916) e Mori Ôgai (1862~1922)
Em
fins da Era Meiji despontaram dois grandes nomes da literatura
japonesa cujas obras são muito lidas até os dias
de hoje. São eles: Natsume Sôseki e Mori Ôgai.
Natsume
Sôseki nasceu em Tóquio, estudou na Inglaterra e
tornou-se professor de escola superior após a sua volta.
Suas primeiras obras, Wagahai wa neko dearu (Sou um gato) e Botchan
(O filhinho de papai), ironizam a sociedade e o homem num tom
leve e humorístico. As obras posteriores, quando já
tinha deixado o magistério, como Sanshirô, Sorekara
(E depois) e Mon (O portão), fazem entrever a solidão
do homem moderno e a tentativa de encontrar a si mesmo.
Mori
Ôgai, formado em medicina, estudou na Alemanha na qualidade
de médico das forças armadas japonesas. Paralelamente,
dedicou-se à vida literária, publicando obras imortais,
como Mai-hime (A dançarina) e Gan (O ganso selvagem). Após
a Guerra Russo-Japonesa, passou a escrever obras de fundo histórico.
Tanto Sôseki como Ôgai buscaram algo que
transcendia o individualismo moderno.
Poemas
da era moderna
No
iníco da Era Meiji, os literatos tentaram sair do casulo
dos poemas tradicionais e criaram um estilo de poemas denominados
shintai-shi, ou seja, poemas de estilo novo, em oposição
aos tradicionais poemas escritos em ideogramas (kanshi). Shintai-shi
ganhou seu espaço no círculo literário com
as publicações de poemas de alto teor artístico
de renomados autores, como Mori Ôgai, Shimazaki Tôson,
casal Yosano, ou seja, Yosano Akiko, mencionada já no capítulo
anterior, e o seu marido, Yosano Tekkan. Atulamente, quando se
fala em shi (poema), trata-se de shintai-shi.
No
campo de poemas tradicionais, o poeta Masaoka Shiki (1867~1902)
consolidou a base do haiku (poemas de 17 sílabas) moderno.
Ele orientou a publicação da revista literária
Hototogisu (O cuco), que teve grande influência no movimento
literário japonês, principalmente na formação
dos haicaístas e poetas de tanka (poema de 31 sílabas).
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