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Arquivo NippoBrasil - Edição 322 - 17 a 23 de agosto de 2005
 
• Era Meiji – parte 5
Gakumon no susume Era Meiji (Convite ao saber)
Obra de Fukuzawa Yukichi contribuiu para incutir no povo o espírito de liberdade e de independência


Estabilidade: aos poucos, foi encontrado o equilíbrio entre as culturas ocidental e oriental

 

Arquivo Jornal NippoBrasil

Como foi mencionado nos capítulos anteriores, o início da Era Meiji foi marcado por avidez do povo em absorver a cultura ocidental, assimilá-la e engajar-se numa campanha para promover e difundir novos pensamentos e conhecimentos. Daí despontaram grandes nomes, como o de Fukuzawa Yukichi (1835~1901), Nakamura Masanao (1832~1891), Nishi Amane (1829~1897), Niijima Jo (1843~1890) e outros. Principalmente, a obra de Fukuzawa intitulada Gakumon no susume (Convite ao saber) contribuiu muito para incutir no povo o espírito de liberdade e de independência. A famosa frase introdutória da obra de Fukuzawa “A Providência não criou o homem superior nem inferior” foi elucidativa para o povo da época. Porém, essa filosofia que contém um pragmatismo absoluto, esqueceu-se de que o lado psicológico do homem nunca acompanha a velocidade do progresso material. Nesse cenário, a literatura retomou o papel de antítese ao utilitarismo.

Por volta do ano 10 da Era Meiji, para fazer frente ao Dai-shinbun (Grande Jornal) dirigido aos leitores de classe intelectualizada, surgiu o Shô-shinbun, com muitas ilustrações e escrito numa linguagem que se aproximava do coloquial, narrando os fatos reais com certo grau de dramaticidade. Nessa mesma época, muitas obras literárias do exterior começaram a ser traduzidas com grande receptividade por parte dos leitores japoneses que buscavam na literatura não somente o lazer, mas também a aquisição de novos conhecimentos. Uma obra muito lida nessa época foi A volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne (1828~1905).

Genbun Itchi (Nivelação da linguagem escrita e da falada)

Outro fato que merece ser destacado é o movimento de aproximar a linguagem escrita da falada (genbun itchi). E também, em observância à literatura ocidental, a literatura japonesa passou a ser encarada como uma arte independente, e não um meio político ou de moralização. Dois grandes literatos que encabeçaram esse movimento foram: Tsubouchi Shôyô (1859~1935) e Futabatei Shimei (1864~1909).

Tsubouchi Shôyô renovou o conceito da literatura, escrevendo ensaios, romances e peças para teatro, firmando o conceito de realismo na literatura e rejeitando o moralismo em que o bem vence o mal. Ele lançou Waseda Bungaku (Círculo Literário de Waseda) no ano 24 da Era Meiji (1891), uma revista que teve grande influência no movimento literário. Uma de suas obras mais conhecidas é Tôsei Shosei Kishitsu (O temperamento do aprendiz atual).

Futabatei Shimei foi um grande admirador de obras literárias russas, sendo a sua obra representativa o romance Ukigumo (Nuvens efêmeras), escrito em estilo coloquial com análise detalhada do lado emocional dos personagens. Essa obra serviu de modelo para os escritores como um parâmetro de romance moderno.

Passada a febre pela cultura ocidental, renasceram aos poucos o nacionalismo e os pensamentos mais conservadores. Na literatura, os valores das obras clássicas foram revistos, como a dos autores da Era Edo Chikamatsu Monzaemon e Ihara Saikaku.

Aos poucos os japoneses foram encontrando o ponto de equilíbrio entre os dois extremos, e a literatura também foi conquistando o seu espaço como uma forma de manifestação artística, surgindo as famosas obras Konjiki Yasha (A feiticeira dourada), de Ozaki Kôyô (1867~1903), Hototogisu (O cuco), de Tokutomi Roka (1868~1927), e muitos outras que tiveram influência em escritores posteriores, como Kawabata Yasunari (1899~1972), Prêmio Nobel da Literatura em 1968.

Em meados da Era Meiji, surgiu a escritora Higuchi Ichiyô (1872~1896), autora de obras imortais, como Takekurabe (O crescimento) e Ôtsugomori (Fim de Dezembro).

Natsume Sôseki (1867~1916) e Mori Ôgai (1862~1922)

Em fins da Era Meiji despontaram dois grandes nomes da literatura japonesa cujas obras são muito lidas até os dias de hoje. São eles: Natsume Sôseki e Mori Ôgai.

Natsume Sôseki nasceu em Tóquio, estudou na Inglaterra e tornou-se professor de escola superior após a sua volta. Suas primeiras obras, Wagahai wa neko dearu (Sou um gato) e Botchan (O filhinho de papai), ironizam a sociedade e o homem num tom leve e humorístico. As obras posteriores, quando já tinha deixado o magistério, como Sanshirô, Sorekara (E depois) e Mon (O portão), fazem entrever a solidão do homem moderno e a tentativa de encontrar a si mesmo.

Mori Ôgai, formado em medicina, estudou na Alemanha na qualidade de médico das forças armadas japonesas. Paralelamente, dedicou-se à vida literária, publicando obras imortais, como Mai-hime (A dançarina) e Gan (O ganso selvagem). Após a Guerra Russo-Japonesa, passou a escrever obras de fundo histórico. Tanto Sôseki como Ôgai buscaram “algo” que transcendia o individualismo moderno.

Poemas da era moderna

No iníco da Era Meiji, os literatos tentaram sair do casulo dos poemas tradicionais e criaram um estilo de poemas denominados shintai-shi, ou seja, poemas de estilo novo, em oposição aos tradicionais poemas escritos em ideogramas (kanshi). Shintai-shi ganhou seu espaço no círculo literário com as publicações de poemas de alto teor artístico de renomados autores, como Mori Ôgai, Shimazaki Tôson, casal Yosano, ou seja, Yosano Akiko, mencionada já no capítulo anterior, e o seu marido, Yosano Tekkan. Atulamente, quando se fala em shi (poema), trata-se de shintai-shi.

No campo de poemas tradicionais, o poeta Masaoka Shiki (1867~1902) consolidou a base do haiku (poemas de 17 sílabas) moderno. Ele orientou a publicação da revista literária Hototogisu (O cuco), que teve grande influência no movimento literário japonês, principalmente na formação dos haicaístas e poetas de tanka (poema de 31 sílabas).

 
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