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Em
fins do século XIV, época em que o xogunato de Muromachi
consolidou o seu poder, o Leste Asiático sofria intensas
transformações. E uma das causas, embora indireta,
dessas transformações ocorreu por conta da atuação
dos temíveis grupos de piratas japoneses denominados pelos
chineses e coreanos de wakô.
Wakô,
os piratas japoneses
Os
wakô viviam na região norte da Ilha de Kyushu e nas
redondezas da Baía de Seto. Com frotas que variavam de
3 a 500 navios, invadiam terras vizinhas e queimavam casas, matando
todos aqueles que tentavam resistir. Outra prática constante
era a pilhagem de bens e o seqüestro de homens, mulheres
e crianças.
Os
ataques freqüentes dos piratas contribuíram para a
decadência do reino de Kôrai (Coréia). Em 1392,
Yi Song-Gye (1335~1408) conseguiu expulsar os wakô das terras
coreanas, derrubar o reino de Kôrai e fundar a dinastia
Yi (1392~1910). O comércio entre Japão e Coréia
iniciou-se quando Yi enviou uma carta para Ashikaga Yoshimitsu
(1358~1408), solicitando o combate aos wakô e o comércio
entre as duas nações, no que foi prontamente atendido
pelo xogunato japonês.
A queda
da dinastia Yuan na China, em 1369, também impulsionou
o rigor no combate aos wakô. A dinastia Ming, sucessora
de Yuan, proibiu o comércio privado e permitiu o comércio
internacional apenas com os países que tinham acordo com
o reinado Ming.
Os
wakô readquiriram força com o enfraquecimento do
xogunato de Muromachi. Suas pilhagens continuaram até a
unificação do Japão por Toyotomi Hideyoshi.
Comércio
com China e Coréia
A atividade
comercial entre Japão e Coréia foi muito rica. Entre
os produtos vendidos pelo arquipélago, estavam cobre, enxofre
e artigos dos mares do sul, como pimenta, medicamentos e plantas
perfumadas, trazidos pelos navios mercantes de Ryukyu (atual Okinawa).
As compras consistiam em tecidos, principalmente o algodão,
que os nipônicos não produziam. Nessa época,
os japoneses usavam roupas feitas de tecido de cânhamo.
Como o tecido de algodão era mais eficiente no inverno
que o de cânhamo, ele se tornou um item muito apreciado
no Japão, com importações em grande quantidade
e forte influência nos hábitos do povo do sol nascente.
No
início, as transações comerciais eram feitas
em Hakata, cidade ao norte da Ilha de Kyushu. Entretanto, durante
a Era Muromachi, duas cidades cresceram rapidamente: a própria
Hakata e Sakai, situada na Baía de Osaka.
O dazaifu,
repartição do governo central para cuidar de assuntos
diplomáticos com a China e a Coréia, bem como para
defender o Japão dos ataques inimigos, estava instalado
na cidade de Hakata desde tempos antigos. No entanto, com o passar
do tempo, a cidade prosperou com o comércio de importação
e exportação, o que a tornou alvo de disputa entre
os daimiôs, os senhores feudais da época.
Já
Sakai não passava de um pequeno povoado, que servia de
estalagem para os romeiros a caminho de Kumano. Entretanto, a
Revolta de Onin, ocorrida no início da Era Muromachi, foi
um estímulo ao crescimento da cidade, pois, nessa ocasião,
muitos nobres buscaram refúgio no local, que passou a receber
também as sacas de arroz cobradas como tributo, fazendo
de Sakai uma importante cidade portuária.
O comércio
era feito com as moedas de cobre importadas da China. No entanto,
por escavações arqueológicas, descobriu-se
que muitas moedas que circularam nessa época eram falsas
e foram produzidas em Sakai. O fato de essas moedas falsas, fabricadas
em grande escala, terem circulado sem problemas, mostra o poder
dos comerciantes, capaz de calarem até mesmo as leis, que
previam rigorosa punição para tal infração.
Tanto
Hakata como Sakai prosperaram, a ponto de conseguirem manter certa
autonomia e paz, indiferentemente às guerras travadas entre
os senhores feudais. Com seu poder econômico, ambas fizeram
florescer manifestações culturais como a cerimônia
do chá, os poemas japoneses Waka e Renga ,
o teatro Nô, entre outras.
O
reino de Ryukyu
O arquipélago
de Ryukyu foi habitado desde tempos remotos. No antigo livro de
história do Japão, consta que o país havia
recebido visitas de representantes das ilhas do sul por volta
dos séculos VII e VIII. No Zuisho, o livro de história
da China de 636, também há a citação
de Ryukyu como sendo um país fora do domínio chinês.
Por
volta do século XII, o surgimento dos clãs regionais,
denominados aji, afeta a relativa paz em que viviam os ilhéus.
Lutando entre si, os aji construíam fortes chamados gusuku.
A ilha
principal de Ryukyu ficou sob o domínio de três grandes
clãs Sanboku, Sannan e Chûzan , cujos
líderes se declararam reis no século XIV. Essa era
de três reis continuou até o xogum de Chûzan,
Shô Hashi, unificar o país e instituir o Reino de
Ryukyu, no início do século XV. O clã Shô
conseguiu fazer com que o país prosperasse por meio do
comércio com nações vizinhas, subordinando-se
à dinastia Ming (1368~1644). A rota de comércio
do Reino de Ryukyu expandiu-se das ilhas do Sudeste Asiático
até além do Estreito de Málaca, com o comércio
de diversas mercadorias como marfim, especiarias e cavalos.
Com
a perda de poder da dinastia Ming, em meados do século
XVI, comerciantes chineses e japoneses passaram a desenvolver
comércio diretamente com o Sudeste Asiático. Para
o reinado Ming, tornou-se difícil controlar o tráfego
dos navios pelos mares e desenvolver o comércio exterior.
Assim, o Reino de Ryukyu também começou a declinar.
O
povo de Ezo
Ao
norte do Japão, habitava um povo que não se submeteu
ao poder da corte de Yamato, denominado ezo ou emishi. Entre os
séculos XIV e XV, esse povo atravessou o Estreito de Tsugaru
e habitou o sul de Hokkaido. Eles eram chamados de wajin pelos
ainos, os nativos da ilha. À medida que os wajin adquiriam
poder, surgiam conflitos com os ainos. Em 1457, aconteceu uma
rebelião dos ainos contra os wajin, comandada por Koshamain
( ? ~ 1457). O episódio foi contido pela tropa japonesa,
e seu líder foi morto numa emboscada.
Pode-se
dizer, assim, que a Era Muromachi coincidiu com a época
em que o mundo despertou para a expansão externa.
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