
PODER - Almirante Perry comandou a reabertura dos portos
japoneses
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Jornal NippoBrasil
Quatorze
anos após a delegação do almirante Matthew
Calbraith Perry exigir a abertura dos portos, em 1853, o xogunato
Tokugawa, que durou cerca de 260 anos, solicitou a devolução
do poder político à corte, na chamada Taiseihôkan
(restituição do poder à corte imperial).
O imperador
Meiji, então com 16 anos, assumiu o trono como o 122º
imperador, marcando o fim do sistema feudal e da política
da classe militar, que durou 700 anos, desde o xogunato Kamakura.
Que tipo de nação o novo governo tentou construir,
diante das pressões e da sensação de perigo
geradas pelo risco de se tornar uma colônia das nações
européias e americana, que visavam ao mercado econômico
do continente asiático?
Para
o estabelecimento de um moderno Estado, nos moldes das nações
ocidentais, o novo governo lançou inúmeras políticas,
que serão tratadas a seguir. É chamada de Restauração
Meiji a grande reforma que abrangeu aspectos políticos,
econômicos, militares e educacionais. A expressão
revolução foi evitada, porque a reforma
foi realizada por militares, samurais do sistema feudal pertencentes
a categorias inferiores, e não pelas camadas populares.
A devolução dos feudos à coroa (Hansekihôkan),
a abolição dos clãs e a criação
das províncias (Haihanchiken)
Em
1869, a corte impôs a devolução dos territórios
(hanto) sob domínio dos senhores feudais (hanshu, da categoria
dos daimiôs), bem como da população e de seus
registros (koseki). Os 261 feudos (han) foram transformados em
3 províncias metropolitanas (fu) e 302 províncias
(ken), além de Hokkaido. Depois, foram reduzidas a 72 províncias.
No início, não houve muitas mudanças, pois
manteve-se a figura do hanshu da Era Tokugawa. Por esta razão,
em 1871, extinguiu-se os han, mudando-se a denominação
para ken. Os governadores das províncias metropolitanas
(fuchiji) e os governadores das demais províncias (kenrei)
eram enviados pelo poder central. Consolidou-se, então,
a base de uma nação com poder centralizado, que
teve o imperador como vértice.
O pilar
do governo era composto pelos feudos monarquistas de Chôshû
(atual Yamaguchi), Satsuma (atual Kagoshima), Tosa (Kochi) e Hizen
(Saga).
Igualdade
entre as classes (shimin byôdô)
O novo
governo extinguiu a divisão das quatro classes sociais
(shinôkôshô) existente na Era Edo, porém
manteve a figura do imperador (tennô), das classes dos nobres
da corte (kizoku) e dos daimiôs, formando a aristocracia
(kazoku), que recebia tributos (hôroku) em arroz ou moeda.
No entanto, devido às dificuldades financeiras, esses pagamentos
foram cortados em 1876 e foram substituídos por pagamentos
anuais dos juros sobre o valor nominal dos tributos correspondentes
a um certo número de anos. Mas esse valor não era
suficiente para a manutenção da classe dos samurais
(shizoku). Isto fez com que essas classes fossem desfeitas, com
exceção da família imperial, dando início
à proletarização da população.
Os
samurais das classes inferiores (kakyuu bushi), os camponeses
(nômin) e os pequenos comerciantes (chônin) formavam
a classe do povo comum, heimin. Aos párias, chamados de
eta e himin, foi concedida legalmente a emancipação
em 1871, sendo reconhecidos como pertencentes à categoria
dos heimin.
Revisão
dos impostos sobre as terras e incremento da produção
O novo
governo, para corrigir a situação de dificuldade
do tesouro público, permitiu a compra e a venda de terras,
revisou o valor das terras com base na produção
anual, determinando um novo preço, impondo uma lei segundo
a qual 3% desse valor deveria ser pago em dinheiro como imposto.
Como resultado, os camponeses que não podiam pagá-lo
renunciavam às terras.
Por
outro lado, a cobrança por parte dos proprietários
em relação ao rendeiro, que lhes levava metade da
produção de arroz em espécie, tornou a vida
dos camponeses mais difícil do que foi no final da Era
Edo, acarrretando freqüentes revoltas (nômin ikki).
Com
o auxílio financeiro dos países ocidentais, o governo
construiu fábricas sob administração estatal,
ampliando suas atividades para os ramos da indústria de
fiação, ferrovia e comunicação. Em
1880, já havia fábricas e manufaturas de capital
privado, afirmando o sucesso do projeto de transformar o país
numa nação rica.
Serviço
militar obrigatório (Chôheiseido)
Visando
a tornar-se um país rico e militarmente forte, o novo governo
tomou como modelo a organização militar do ocidente
europeu Alemanha, França e Inglaterra , formando
um exército nos moldes ocidentais, instituindo, em 1873,
o serviço militar obrigatório. Ele foi imposto à
população masculina adulta, inicialmente isentos
o chefe de família, os herdeiros, os funcionários
públicos e os indivíduos que pagassem um determinado
valor ao governo. Entre os alistados, os mais numerosos eram os
segundos e os terceiros filhos das famílias camponesas.
Temendo perder seus trabalhadores, os camponeses organizaram revoltas
contrárias ao serviço militar em vários lugares.
O
xintoísmo como religião nacional
A política
de se congregar o xintoísmo e o budismo, existente desde
a Era Edo, resultou no xintoísmo estatal (kokka shintô).
Por isso, os adeptos do budismo foram perseguidos, inúmeros
templos incendiados ou destruídos e imagens búdicas
históricas danificadas ou vendidas. Por outro lado, estes
acontecimentos proporcionaram uma chance de o budismo renascer
como uma religião moderna, livrando-se de um sincretismo
religioso simplista. Especialmente a partir de 1873, com o fim
da proibição do cristianismo, e de 1889, com a liberdade
religiosa reconhecida legalmente, muitas religiões se empenharam
em sua modernização.
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