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Com
o objetivo de ajudar seus maridos, suas famílias, ou mesmo
trabalhando em prol de suas próprias ambições,
muitas mulheres agiram nos bastidores do cenário sangrento
das intensas guerras, época na qual apenas os mais fortes
sobreviviam. Aqui, serão destacadas algumas das mulheres
que viveram seguindo a própria vontade, não se subjugando
ao destino, mas sobrepondo-se a ele.
A posição
social da mulher está intrinsecamente ligada ao tipo de
casamento e aos direitos aos bens da família. Nos tempos
em que os noivos iam visitar a casa das noivas para manter relações
matrimoniais, as mulheres também tinham direitos aos bens
da família. Mas os conflitos militares e a instabilidade
social passaram a envolver as famílias ligadas por laços
de casamento, mudando a forma de matrimônio. O casamento
tornou-se um importante meio de arrebanhar aliados. A mulher começou
a morar na casa do marido, pois seria uma forma de mantê-la
como refém, garantindo a aliança militar.
Oichi-no-kata
(1547~1583)
Filha
de Oda Nobuhide e irmã de Oda Nobunaga, Oichi nasceu como
uma das 6 filhas e 11 filhos de Nobuhide. Oda, um pequeno clã
da atual província de Aichi, dominou a região valendo-se
do poder de Saitô Dôsan, sogro de Nobunaga.
Oichi-no-kata,
uma bela mulher de traços delicados, casou-se aos 20 anos
com Asai Nagamasa, senhor do castelo de Otani, atual província
de Shiga. Tratava-se de um casamento de conveniência, em
que se esperava dela a manutenção de informações
sobre todos os atos de seu marido. Em 1570, Oichi avisou o irmão
Nobunaga sobre a traição de seu marido. Em vez de
mandar uma carta a respeito de tal ato traiçoeiro, ela
enviou um saquinho de feijão azuki com duas pontas amarradas.
Ao recebê-lo, Nobunaga logo decifrou o alerta de que seria
cercado e atacado em duas frentes. Antes que isso acontecesse,
ele atacou o cunhado e o destruiu. Oichi-no-kata e suas três
filhas foram salvas e passaram a viver com Nobunaga.
Em
1582, com a morte de Nobunaga, Oichi-no-kata casou-se com Shibata
Katsuie, vassalo da família Oda. Em 1583, Katsuie foi derrotado
por Toyotomi Hideyoshi. As três filhas foram salvas, mas
Oichi optou pelo suicídio junto com o marido, no castelo
de Kita-no-shô, atual província de Fukui.
Yodogimi
(1567~1615)
Filha
primogênita de Oichi-no-kata, Yodogimi perdeu o pai, Asai
Nagamasa, aos 4 anos e passou a viver na casa da família
Oda. Aos 14 anos, ela perdeu a mãe e o padrasto, quando
Toyotomi Hideyoshi atacou Shibata Katsuie. Ela e suas duas irmãs
menores foram novamente salvas e começaram a viver sob
a proteção de Hideyoshi. Suas irmãs casaram-se
antes dela, respectivamente com Tokugawa Hidetada (1579~1632),
segundo xogun da Era Edo, e Kyôgoku Takatsugi (1563~1609),
senhor feudal, antigo aliado de seu pai, Asai Nagamasa.
As
três filhas de Oichi-no-kata herdaram a beleza da mãe,
especialmente Yodogimi, dona de uma beleza vivaz e ímpar,
foco da atenção de Hideyoshi, que acabou fazendo
dela a sua concubina predileta. Na época, ela contava com
20 anos e Hideyoshi 53 anos. O primeiro filho do casal morreu
doente com 1 ano de idade, mas, em 1593, ela presenteou o poderoso
senhor Hideyoshi com outro filho, Hideyori.
Hideyoshi
dedicou todo o seu amor a esse filho único, mas faleceu
quando Hideyori tinha apenas 6 anos de idade, pedindo aos seus
principais vassalos para cuidarem e protegerem o seu filho amado.
Entretanto, Tokugawa Ieyasu não cumpriu a palavra dada
a Hideyoshi, atacando Hideyori e derrotando-o na batalha de Sekigahara,
provocando a morte de Yodogimi e de seu filho na Batalha de Verão
de Osaka.
Yodogimi
podia ter escolhido a rendição e talvez viver modestamente
com seu filho em algum feudo distante, mas ela preferiu a morte
a viver sob a proteção do homem que havia usurpado
o poder que deveria pertencer ao seu filho. Ela, que passou por
várias vicissitudes da vida, sabia que Hideyori, uma ameaça
constante ao clã Tokugawa, jamais seria poupado.
Kita-no-mandokoro
(1541~1624)
Kita-no-mandokoro,
esposa de Toyotomi Hideyoshi, nasceu como filha de um humilde
samurai que servia o clã Oda. Casou-se com Hideyoshi em
agosto de 1561, época em que ele não passava de
um humilde servo de Oda Nobunaga, chamava-se Kinoshita Tôkichirô;
e ela, Nene. Ela sempre esteve presente na vida do marido, apesar
de ele ter tido diversas concubinas. Após a morte do esposo,
Kita aliou-se a Tokugawa Ieyasu, fundador do xogunato Tokugawa,
que perdurou por 15 gerações, até 1867.
Quando
Hideyoshi recebeu o título de plenipotenciário,
ou seja, kanpaku, grau máximo da nobreza, ela, Nene, também
recebeu o título máximo da nobreza, chamando-se
Kita-no-mandokoro.
Após
a morte de seu marido, ela tornou-se monja, seguindo o costume
da época. Mais tarde, ela recebeu de Tokugawa Ieyasu um
templo em Quioto, o Kôdai-ji, onde viveu até os 83
anos.
Hosokawa
Tamako Garasha Fujin (1563~1600)
Filha
de Akechi Mitsuhide, que levou à morte o seu senhor, Oda
Nobunaga, Tamako era bela e também muito culta. Casou-se
aos 16 anos com Hosokawa Tadaoki (1563~1645), também com
16 anos. O pai de Tadaoki, Hosokawa Yûsai (1534~1632) era
um conhecido erudito versado na arte de compor poemas waka.
Após
quatro anos de vida de casada, com um filho e uma filha, ela vivia
dias felizes ao lado do seu dedicado marido, quando o seu pai
se rebelou contra Oda Nogunaga e foi levado a se matar praticando
o seppuku ou harakiri, dez dias após a rebelião.
Nessa ocasião, os principais vassalos da família
Hosokawa aconselharam Tadaoki a separar-se da esposa, ou fazer
com que ela praticasse o suicídio, a fim de proteger o
clã da desgraça maior. Porém, Tadaoki não
deu ouvidos aos seus súditos e protegeu-a, fazendo com
que ela vivesse em reclusão num local afastado, dentro
do seu feudo, na península de Tango, Quioto. Após
dois anos de reclusão, com a interferência de Toyotomi
Hideyoshi, ela deixou a erma península de Tango e foi viver
em Osaka.
Tamako
passou a se interessar pelo cristianismo, talvez por influência
de sua serva, a cristã Maria Kiyohara. Logo após
a proibição da prática do cristianismo, em
1587, Tamako tornou-se católica, recebendo o nome de batismo,
Garasha (talvez do latim gratia).
Durante
a batalha de Sekigahara, Ishida Mitsunari tentou obrigá-la
a viver no castelo de Osaka como refém, mas ela se recusou,
suicidando-se. Logo depois disso, alguns servos fiéis a
ela atearam fogo na casa e também se suicidaram. Essa sua
atitude extremada intimidou Mitsunari e levantou o moral da tropa
de Tokugawa.
Dizem
que há algumas citações sobre a família
Akechi na carta do padre português Luis Frois, conservada
em Roma.
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