
Personagens são constantemente representados no teatro
Kabuqui
|
Arquivo
NippoBrasil
Yoshitsune
(1159~1189) e Benkei são figuras muito populares no Japão,
sendo representadas exaustivamente no teatro Kabuqui. Isso se
deve ao gosto do povo japonês pelos personagens fortes,
justos e que tiveram mortes trágicas.
Ushiwaka-maru,
posteriormente chamado de Yoshitsune, foi o nono filho de Minamoto-no-Yoshitomo,
morto na Batalha de Heiji, vencida pelo clã Taira. A partir
daí, os Taira tomaram o controle político do Japão,
perseguindo ferozmente os descendentes do clã Minamoto.
Assim, a mãe de Yoshitsune, que tinha origem humilde, refugiou-se
em Yamato, voltando mais tarde para Quioto, onde o garoto passou
a infância. Tempos depois, ele foi mandado com seus dois
irmãos para o Templo de Kurama, a fim de se tornarem monges.
Os
irmãos tornaram-se monges, mas Yoshitsune recusou-se a
seguir esse caminho e, aos 16 anos, fugiu para Ôshu (região
nordeste do Japão). Durante seis anos, ele foi protegido
por Fujiwara-no-Hidehira e, quando soube que seu irmão
por parte de pai, Yoritomo, havia iniciado uma campanha para derrubar
o clã Taira, resolveu unir-se ao irmão. Apesar da
oposição veemente de Hidehira, Yoshitsune não
cedeu. Assim, Hidehira designou dois de seus súditos para
acompanharem Yoshitsune em sua empreitada.
Yoshitsune
é conhecido por diversos episódios heróicos.
Um deles é a Batalha de Ichi-no-Tani travada contra o clã
Taira. Ele atacou a tropa dos Taira com mais de 70 samurais descendo
o vale a cavalo por um declive quase vertical, por onde nenhum
homem desceria em sã consciência. Com esse ataque
surpresa, Yoshitsune conseguiu uma grande vitória, aumentando
sua fama cada vez mais entre o povo de Quioto e inquietando o
seu irmão Yoritomo.
Guerreiro
sem malícia, Yoshitsune lutava apenas para vingar seu pai
e para obter o reconhecimento de seu irmão. Entretanto,
Yoritomo o via como uma ameaça ao seu poder. O prestígio
de Yoshi-tsune aumentava proporcionalmente à desconfiança
de seu irmão, quando a família Taira foi destruída
na Batalha de Dan-no-Ura, que teve a participação
fundamental de Yoshitsune.
Sem
traquejo político, Yoshitsune acabou vítima de conspirações
e não soube dissipar a desconfiança de seu irmão.
Alegando insubordinação, Yoritomo proibiu sua entrada
em Kamakura, confiscou suas terras e iniciou uma perseguição
a Yoshitsune.
Durante
sua fuga, além de contar com a proteção constante
de seu fiel súdito, o monge Benkei, Yoshitsune foi ajudado
por muitos simpatizantes. Ele procurou mais uma vez a proteção
de Fujiwara-no-Hidehira, do poderoso clã da região
de Ôshu, que faleceu em 1187. Em seu leito de morte, Hidehira
pediu a seus filhos a destituição de Yoritomo, sob
o comando de Yoshitsune. Porém, Fujiwara-no-Yasuhira, filho
de Hidehira, temendo represália, matou Yoshitsune, sob
ordens de Yoritomo.
Yoritomo,
que ambicionava o domínio total do Japão apesar
de Fujiwara-no-Yasuhira ter demonstrado fidelidade, enviou uma
grande tropa para destruir o clã da região de Ôshu.
Como a cabeça de Yoshitsune levou mais de 40 dias até
chegar em Kamakura, espalharam-se boatos de que ele estaria vivo.
Benkei
O monge
Benkei, fiel súdito de Yoshitsune, nasceu na atual província
de Wakayama, filho de pais nobres. Seu nome de infância
era Oniwaka, literalmente jovem demônio, pois desde pequeno
possuía uma força descomunal, sendo uma criança
extremamente violenta. Seu pai, que era monge, preocupado com
o futuro de seu filho, mandou-o para o Templo Enryaku, em Hieizan,
Quioto, a fim de iniciá-lo nos estudos religiosos. Porém,
após vários abusos, Oniwaka deixou Hieizan e foi
para Harima, onde, depois de brigar com um monge, incendiou o
templo. Em Quioto, o rapaz conheceu Yoshitsune.
Embora
Benkei seja um personagem real, sabe-se muito pouco sobre ele.
Apesar de existirem muitas versões sobre suas façanhas,
dramatizadas nas peças de Kabuqui, Nô, etc., há
pouco registro sobre sua vida. Mesmo sobre seu encontro com Ushiwaka-maru
(mais tarde, Yoshitsune), há algumas versões. A
mais provável é que eles tenham se encontrado no
Templo Kiyomizu, e Benkei tenha simpatizado com Yoshitsune, tornando-se
seu súdito. No Templo Kiyomizu, há calçados
e cajado de ferro usados por Benkei, tão pesados que só
um homem de força descomunal poderia usá-los.
Outro
episódio muito conhecido, representado diversas vezes no
teatro Kabuqui, é a morte em pé de Benkei, tentando
proteger Yoshitsune. Há a lenda de que Benkei, na Batalha
do Rio Koromo-gawa, tentando proteger seu senhor Yoshitsune, ficou
em pé sobre a ponte, apoiando-se em seu cajado de ferro
e impedindo o avanço inimigo, tornando-se alvo de suas
flechas.
Shizuka-gozen
Shizuka
foi uma dançarina do estilo de dança tradicional
shirabyôshi, em Quioto. Yoshitsune apaixonou-se por Shizuka
quando a viu dançando, transformando-a em sua concubina.
Quando
Yoshitsune fugiu da perseguição do irmão,
Shizuka foi levada para Kamakura junto com sua mãe para
ser interrogada sobre o paradeiro de seu amado, o que ela se negou
a revelar.
Yoritomo
pediu a Shizuka para dançar e cantar, pois queria conhecer
a arte que tanto encantava o povo de Quioto. No inicío,
ela recusou-se, mas, por persistência de Masako, esposa
de Yoritomo, acabou cedendo, e dançou entoando o famoso
poema que falava de sua paixão por Yoshitsune, fato que
provocou a ira de Yoritomo.
Shizuka
permaneceu alguns meses em Kamakura e deu à luz um menino,
filho de Yoshitsune, que foi assassinado por Yoritomo, apesar
da intervenção de sua esposa Masako.
Shizuka
voltou para Quioto e, segundo a lenda, faleceu jovem, com pouco
mais de 20 anos.
Yoshitsune,
Benkei e Shizuka são personagens da história muito
queridos pelo povo japonês, por sua alma pura, que beira
à ingenuidade, por seus finais trágicos e por não
cederem, mesmo perante à autoridade para defender seus
princípios.
|