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INFLUÊNCIA - Sen-no-Rikyu ganhou a simpatia de Nobunaga
e Hideyoshi, difundindo a cerimônia do chá
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Na
época de Nobunaga e Hideyoshi, floresceram as culturas
mais ousadas e luxuosas, criadas por influência das mentes
guerreiras dos samurais classe reinante da época
e também pela cultura ocidental introduzida no país
por meio do comércio com portugueses, espanhóis
e italianos, o chamado nanban bôeki, ou seja, comércio
exterior com os bárbaros do sul, direção
em que vinham os navios mercantes. O termo refere-se também
ao comércio realizado pelos navios japoneses com os países
das ilhas do sul, como Luzon (uma das ilhas das Filipinas), Java
(na Indonésia), entre outras. Durante essa era da história
japonesa, o comércio foi mantido, principalmente, com os
portugueses.
Os
europeus traziam ao Japão produtos como sedas chinesas,
armas de fogo, pólvora, couro, especiarias e produtos de
vidro, e compravam ouro, cobre, enxofre e principalmente prata,
que passou a ser extraída em maior volume nesse período.
O hábito de fumar também se difundiu e, no início
do século XVII, o pé de tabaco passou a ser cultivado
no Japão.
Os
costumes dos nativos da Europa dessa época podem ser observados
em figuras desenhadas nos biombos chamados de nanban byôbu.
Há desenhos de caravelas, adestramento de cavalos, aves,
outros animais e diversos objetos comercializados no período.
Momoyama
bunka (Cultura Momoyama)
As
diversas manifestações culturais dessa era são
conhecidas como Momoyama bunka. Trata-se de uma época em
que a paz foi restabelecida, o comércio se intensificou
e os novos daimiôs ascendentes e os comerciantes que se
enriqueceram gastaram a sua fortuna para ostentar o seu poder
ou a sua riqueza. Foram construídos por diversos daimiôs
muitos castelos com belos e imponentes tenshukaku, ou seja, torres
que serviam de mirante.
Tanto
Oda Nobunaga (1534~1582) quanto Toyotomi Hideyoshi (1537~1598)
construíram gigantescos e luxuosos castelos. Nobunaga construiu
o Castelo Azuchi-jô, perto do Lago Biwa, na província
de Shiga, entre 1576 e 1579; entretanto, a edificação
foi destruída pelo fogo em 1582, durante a Revolta de Akechi
Mitsuhide.
Hideyoshi,
por sua vez, iniciou a construção do Castelo Ôsaka-jô,
em 1583, e levou três anos para concluí-lo. Também
esse castelo foi destruído em 1615 pelo fogo, durante a
guerra que provocaria o suicídio de Toyotomi Hideyori,
herdeiro e filho único de Hideyoshi, e de sua concubina,
Yodogimi (sobrinha de Nobunaga). Hideyoshi ainda construiu em
Quioto o Castelo Jurakudai (1587), que foi destruído posteriormente
(1595), e o Castelo Fushimi-jô, também conhecido
pelo nome de Momoyama-jô, em 1594, onde o guerreiro viveu
seus últimos anos de vida. Com a morte do pai, Hideyori
mudou-se para o castelo de Osaka, ficando o castelo de Fushimi
sob a guarda de Tokugawa Ieyasu.
Todos
esses castelos eram suntuosos e enfeitados com ouro em todos os
seus detalhes, com divisórias (fusuma) e biombos pintados
com colorido refulgente. Das obras pintadas, destacam-se as de
Kanô Eitoku (1543~1590) e Kanô Sanraku (1559~1635),
da escola Kanô, que desenvolveu a arte em estilo Momoyama,
combinando a técnica de suiboku-ga (sumiê) e de pintura
tradicional japonesa (yamato-e). Uma das obras mais representativas
de Kanô Eitoku é o biombo Kara-jishi byôbu,
com a pintura de dois leões.
O Castelo
de Himeji, na cidade de mesmo nome localizada na província
de Hyogo, serviu como residência de Hideyoshi na época
em que ele ainda se chamava Hashiba Hideyoshi. O Castelo de Himeji
cuja construção foi iniciada no século
XIV e finalizada no século XVII foi reformado e
ampliado pelo senhor feudal da Era Edo Ikeda Terumasa, ficando
pronto em 1609. A construção de Himeji, também
conhecida como Shirasagi-jô, sobreviveu aos bombardeios
da Segunda Guerra Mundial e, atualmente, é um dos castelos
tombados como patrimônio nacional.
Cha-no-yu
e Sen-no-Rikyu (1522~1591)
Enquanto
muitos samurais e nobres ostentavam o luxo, Sen-no-Rikyu transformou
o cha-no-yu (cerimônia do chá), praticada até
então com os objetos requintados importados da China, em
apreciação do chá dentro de ambiente de refinada
simplicidade, utilizando apetrechos comuns feitos no país.
O chá, que antes era preparado numa sala à parte
e servido à visita numa outra sala, passou a ser preparado
diante do visitante. Foi criado todo um cerimonial para apreciação
do chá num ambiente simples, mas de extremo bom gosto.
Sen-no-Rikyu
foi o fundador da arte da cerimônia do chá da escola
Senke e nasceu na cidade portuária de Sakai, em 1522. Seu
antepassado foi Sen-ami, que serviu ao xogum Yoshimasa, oitavo
da linhagem do clã Ashikaga. Ami era um título
concedido aos sacerdotes com vasto conhecimento de diversas artes.
Sen-ami mudou-se para a cidade de Sakai durante a Revolta de Ônin.
Rikyu
nasceu em uma família de comerciantes abastados e desde
cedo se interessou pela cerimônia do chá. Fez amizade
com Imai Sôkyu (1520~1593) e Tsuda Sôtatsu (1504~1566),
dois grandes mestres do chá e também grandes comerciantes.
Aos
49 anos, ele foi apresentado a Oda Nobunaga por Imai Sôkyu
e a partir daí começou a sua ascensão social.
Com grande sabedoria, ele conquistou importância cada vez
maior para seu senhor, Nobunaga, e transformou a cerimônia
do chá em um evento imprescindível em muitos acontecimentos
sociais, elevando, conseqüentemente, o status de seus mestres.
Após a morte de Nobunaga, Rikyu passou a servir a Hideyoshi,
conquistando também a sua simpatia.
Nessa
época, mesmo em campo de batalha, eram realizadas as cerimônias
do chá. Assim, Sen-no-Rikyu acompanhou Hideyoshi em suas
guerras contra Shimazu, em Kyushu, e no ataque ao castelo de Odawara,
aproveitando para trocar conhecimentos com os comerciantes influentes
da região e divulgar a cerimônia do chá.
Após
unificar e dominar o Japão, para fazer saber o seu poder,
Hideyoshi realizou um grande cha-kai, reunião para apreciar
o chá, em 1587, comandado por Sen-no-Rikyu, com apoio de
outros dois grandes mestres do chá, Imai Sôkyu e
Tsuda Sôgyu, filho de Sôtatsu. Foram montados cerca
de 800 lugares para realizar a cerimônia do chá no
pátio do Templo Tenman-gu, contribuindo muito para aumentar
o número de apreciadores dessa arte.
Rikyu
tornou-se um homem muito influente. Tanto é que o senhor
feudal cristão de Kyushu Ôtomo Sôrin escreveu
numa das suas cartas: os assuntos particulares de Hideyoshi
devem ser tratados com Rikyu; e os oficiais, com Hidenaga, irmão
mais novo de Hideyoshi.
Apesar
de ter se tornado um homem de confiança de Hideyoshi, Rikyu
atraiu sua ira em 1590 e foi levado a praticar o seppuku (suicídio)
no ano seguinte.
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