No
folclore japonês, existem seres imortais chamados sennin.
São eremitas que vivem nas montanhas, dotados de poderes
mágicos. A eles são atribuídos vários
truques ilusionistas ou feitos milagrosos, como voar montados
em animais e nuvens. Nos antigos casos que o povo conta, os sennin
são citados em várias regiões do Japão,
sendo conhecidos mais de 500 deles. Eles aparecem aos humanos
em estradas montanhosas ou em sonhos caracterizados como um velhinho
de barba branca que porta um cajado. Existem também muitos
personagens reais, que, após acumular sabedoria durante
toda a vida, se tornaram sennin em idade avançada.
Certa
ocasião, há muitos e muitos anos, um carregamento
de melões (uri) saiu de Yamato (antiga capital do Japão)
rumo a Heian-kyo (nova capital) em uma carroça coberta
por um pano grosso e puxado por três homens. No meio do
caminho, a norte de Uji, os transportadores resolveram parar para
um bom descanso, sob a sombra de um pé de caqui. Devido
ao forte calor de verão, resolveram comer um melão
cada um e deliciaram-se com a doce e cheirosa fruta.
Nesse
momento, apareceu por lá um velhinho portando bastão
que parou, de olho nos melões que os homem saboreavam.
Estou com muita sede, será que não podem me presentear
com um pedaço de melão?
Gostaríamos de lhe oferecer um melão inteiro, mas
a carga desta carroça é uma encomenda do palácio
imperial, portanto, não podemos desfalcá-la
respondeu um dos homens, em tom de deboche.
Vocês deviam ser mais educados com as pessoas de idade.
Mas tudo bem, vou cultivar meus próprios melões
para matar minha sede.
O senhor vai morrer de sede antes de os melões madurarem
disse um dos rapazes, rindo do velhinho.
O ancião,
sem se importar com a risada dos homens, fez o desenho de um canteiro
com o bastão, juntou as sementes de melão que os
homens haviam espalhado pelo chão e plantou no canteiro
improvisado.
Os
homens pararam de rir quando perceberam que as sementes recém-plantadas
começaram a brotar, e as folhas foram se abrindo diante
dos olhares de espanto. Os cipós cresciam sem parar e,
em seguida, as flores se abriram e os frutos foram nascendo por
toda parte. Em questão de minutos, o velhinho estava colhendo
grandes melões maduros e de agradável aroma.
Os
homens ficaram boquiabertos com o milagre que acabaram de assistir.
Nem tiveram tempo para raciocinar sobre o que estava acontecendo,
pois o velhinho disse:
Vamos comer o melão que plantei e distribuí-lo para
todas as pessoas sedentas que por aqui passarem.
Os
homens pediram desculpas por terem sido egoístas e aceitaram
de bom grado os melões que o bom velhinho estava oferecendo.
Fartaram-se de comer e distribuíram a todos os transeuntes.
Em dado momento, o velhinho disse:
Vou continuar minha caminhada, porque já matei minha sede
assim, continuou em frente, até desaparecer nas
curvas da estrada.
Quando
os três homens voltaram também a seguir para a capital,
perceberam que a carroça estava mais leve. Tiraram a lona
que cobria os melões e perceberam que eles haviam desaparecido.
Concluíram, então, que haviam cruzado com um sennin.
E o truque ilusionista do sennin fez com eles comecem e distribuíssem
os próprios melões.
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