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O rei das trutas iwana
 

Adaptação livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)

 

Numa das montanhas de Aizu, existe um pequeno rio de águas transparentes onde ainda hoje podemos apreciar trutas iwana nadando rapidamente, entre pedras e corredeiras características de rios montanhosos. Há muitos e muitos anos, vários lenhadores viviam na região. Certo dia de verão, quatro lenhadores cortavam árvores perto do riacho e resolveram descansar em suas margens, esfriando os pés nas águas geladas. Vendo que havia várias trutas iwana subindo o rio, os lenhadores resolveram apanhar algumas com as mãos. Os quatro homens entraram no riacho e começaram a cercar alguns peixes que procuravam se esconder entre as pedras.

Cercados por todos os lados, os peixes pareciam sem saída, mas, quando os lenhadores levavam as mãos para segurar as trutas, elas escapavam com incrível rapidez, nadando para a liberdade. Depois de várias tentativas infrutíferas, um dos pescadores comentou:

– Esses peixes são saborosos na mesa, mas rápidos demais para serem pescados à mão.

– Sei como pegá-los – disse o outro lenhador – se jogarmos veneno no rio, podemos apanhar um monte de uma vez. Vendendo esses peixes no povoado, ganharemos mais dinheiro do que ficando aqui, cortando toras nesse sol quentíssimo.

Todos acharam boa a idéia do companheiro e resolveram colocá-la em prática. Imediatamente, embrenharam-se na mata e voltaram com folhas de ervas peçonhentas. Fizeram uma fogueira e puseram todas as folhas num grande caldeirão. Logo, começaram a preparar um poderoso veneno.

Algumas horas depois, quando já estava escurecendo, apareceu por ali um monge. Chegando próximo da panela, sentiu um cheiro forte e perguntou:

– Estão preparando veneno? Pretendem jogar esse líquido no rio?
Os lenhadores concordaram, fazendo movimentos positivos com as cabeças. O monge ficou visivelmente alterado e disse, em tom enérgico:

– Vocês não podem fazer uma coisa dessas. Se querem pegar peixe, pesquem do modo normal. Envenenar o rio vai matar todos os seres viventes que nele habitam. Mesmo os peixinhos ainda pequenos serão exterminados e vai demorar muito tempo para que as águas voltem a ter peixes. Será um ato de crueldade e de absoluta ignorância. Parem imediatamente com isso!

O lusco-fusco da fogueira que iluminava o rosto do monge dava um ar místico e ao mesmo tempo tenebroso ao ambiente. Os lenhadores sentiram uma espécie de medo vendo que os olhos do monge brilhavam no escuro, enquanto ele falava sem parar. De repente, um dos lenhadores ofereceu bolinhos para amenizar a ira do religioso.

– Oh, sim, claro que aceito! Gosto de bolinhos.

O monge puxou a tigela de bolinhos para perto de si e começou a comê-los de um modo estranho. Jogava um por um os bolinhos para cima e engolia-os sem mastigar. Os lenhadores ficaram olhando boquiabertos aquele modo nada convencional de comer bolinhos. Aquela cena causou desconforto a todos que a assistiam, e o lenhador que tinha certa liderança sobre os demais disse:

– O senhor tem razão, não vamos mais despejar esse veneno no rio.
– Ótimo! Fico aliviado em saber que criaram juízo. Então, já posso continuar minha caminhada rio acima.

Assim, o monge saiu andando às margens do rio em direção ao topo da montanha. Quando ele desapareceu, o lenhador que havia dito que não usariam mais o veneno reconsiderou o que havia dito.

– O veneno vai estar no ponto amanhã cedo. Tratem de dormir, pois vamos despejar todo o caldeirão assim que o sol nascer.
Mal o sol surgiu entre as árvores, os lenhadores carregaram o enorme caldeirão para a margem do rio. Logo em seguida, despejaram todo o líquido esverdeado na água cristalina.

Pouco tempo depois, vários peixes começaram a boiar, tentando respirar na superfície. Os lenhadores entraram no rio eufóricos e começaram a dar pauladas nos peixes atordoados. Sem vida, os peixes eram colocados num cesto de bambu que, em pouco tempo, ficou cheio.

Os lenhadores ganharam muito dinheiro e estavam satisfeitos com o que haviam conseguido. Porém, do local onde derramaram o veneno para baixo, já não existia um só tipo de ser vivente. Então, levados pela ganância, subiram rio acima e despejaram mais veneno. A operação foi repetida algumas vezes, até que um dia chegaram no alto da montanha. Havia uma clareira com uma bela cachoeira. No pé da cachoeira, águas profundas formavam uma grande bacia natural.

Habitantes da aldeia ao sopé da montanha costumavam dizer que aquela bacia era o santuário do rei das trutas iwana. Ali, ele morava e por isso ninguém ousava pescar junto à cachoeira. Porém, os lenhadores estavam cegos de ambição para enxergar a sabedoria popular. Assim, despejaram sem pestanejar todo o veneno na água.

Em pouco tempo, muitos peixes começaram a boiar e os lenhadores foram apanhando um por um, como loucos desvairados. De repente, a água ficou escura e vários corvos pousaram nos galhos secos próximos da cachoeira. Os lenhadores ficaram assustados, sem entender o que estava acontecendo. Foi então que uma truta de tamanho inacreditável começou a boiar sem vida.

– Nossa! Então não era lenda, o rei das trutas iwana existia mesmo! – disse um lenhador, não acreditando no que via.
– Pegamos o rei dos peixes! É tão grande quanto uma baleia! – festejou outro lenhador, pulando de alegria.

Enquanto arrastavam o enorme peixe para as margens, o líder dos lenhadores comentou:
– Se vendermos esse enorme peixe, vamos ficar ricos. Se fôssemos na conversa daquele monge, jamais teríamos conseguido essa façanha.

Mas havia um problema. O rei das trutas iwana era tão grande, tão grande, que era impossível carregá-lo montanha abaixo. Os lenhadores então resolveram cortá-lo em pedaços para poder transportá-lo. Quando cortaram a barriga do peixe, encontraram vários bolinhos redondos. Os mesmos que o monge havia comido dias antes.

– Aquele monge era o rei das trutas iwana! – observou, tremendo de medo, o líder dos lenhadores. Em seguida, abriu a boca como os peixes sufocados pelo veneno e entrou em convulsão. Seu corpo tremia, tremia, até que caiu sem vida.

Os outros lenhadores ficaram apavorados e saíram correndo. Desceram montanha abaixo em disparada, largando tudo o que haviam “pescado”.

Na aldeia, o povo já sabia que alguém estava envenenando o rio, pois muitos peixes mortos foram levados pela correnteza até próximo de suas casas. Quando os três lenhadores desceram morro abaixo, foram recebidos a pedradas e expulsos do povoado.

Tempos depois, as águas do rio voltaram a ser límpidas e cristalinas. As trutas iwana voltaram a percorrer as corredeiras com alegria. A vida voltou ao rio da montanha. A natureza sempre se renova.

 
Adaptação livre de Claudio Seto

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