Na
primeira parte desta lenda, foi retratada a rivalidade entre os
Heike e os Genji, que lutaram entre si pelo poder do Japão
durante vários anos. Quando os Genji, comandados por Minamoto-no-Yoritomo
(auxiliado por seu habilidoso meio-irmão Minamoto-no-Yoshitsune),
chegaram ao poder, boatos começaram a colocar um irmão
contra o outro. Preocupado com um golpe, Yoritomo decidiu matar
seu irmão e enviou seu exército para cumprir a missão.
Yoshitsune, no entanto, querendo evitar o confronto com o irmão,
decidiu fugir em companhia de seus fiéis guerreiros. Sua
namorada, Shizuka, entretanto, foi obrigada a ficar para trás,
em companhia de Sato Tadanobu, outro leal seguidor de Yoshitsune.
Com
a investida do capitão Hayami-no-Tota, a bela Shizuka Zenshi
compreendeu quanto sua presença seria perigosa na fuga
de Yoshitsune. Assim, resignada, tomou o caminho de Quioto em
companhia de seu guarda-costas, Tadanobu.
Pouco
depois da primeira caminhada, encontraram um camponês que
os alertou do perigo em continuarem na direção da
capital. O exército de Yoritomo havia colocado postos de
guarda nas divisas de cada cidade e várias tropas vinham
naquela direção, vasculhando tudo.
Shizuka
então resolveu que deveriam ir atrás de Yoshitsune,
e ambos retornaram, seguindo na direção para onde
fora o irmão de Yoritomo. O Monte Yoshino estava ainda
coberto de neve, mas as mil cerejeiras já estavam todas
floridas.
Shizuka
ficou deslumbrada ao ver que o Monte Yoshino estava totalmente
cor-de-rosa. Coberta de cerejeiras em flor, a floresta era um
espetáculo da natureza de indescritível beleza.
Então, ela resolveu descansar sob uma árvore, enquanto
apreciava as flores.
De
repente, ela percebeu que Sato Tadanobu havia desaparecido. Olhou
para todos os lados e não havia ninguém perto dela.
Vendo as pétalas das cerejeiras caindo levemente como plumas
ao vento, Shizuka colocou o tamboril no ombro e resolveu tocar
o instrumento enquanto cantava uma canção de amor
e ensaiava passos de dança.
Quando
ela produziu sons no couro do tamboril, repentinamente o guerreiro
Sato Tadanobu surgiu ao lado dela. Shizuka levou um susto, mas
conteve a emoção e continuou com sua música.
Sem resistir à melodia, Tadanobu fez contradança
com Shizuka.
Ela
ficou admirada com a habilidade que Tadanobu tinha para dançar,
pois era quase inacreditável que um homem forte, robusto
e grande como ele pudesse dançar com gestos delicados de
tamanha leveza.
Shizuka
começou a desconfiar que aquele não era o guerreiro
Tadanobu, mas, antes que pudesse interrogá-lo, ele havia
desaparecido novamente. Solitária na bela paisagem florida
do Monte Yoshino, a dançarina Shizuka compunha verbalmente
poesias para seu amado. Quando tocava o tamboril para fazer acompanhamento,
Tadanobu surgia repentinamente ao seu lado. Havia um mistério
no ar.
Na
verdade, aquele não era o verdadeiro Sato Tadanobu, e sim
uma raposa branca encantada que se fazia passar pelo guerreiro.
Pelo fato de ser uma raposa branca, quando não estava transformada
na figura de Tadanobu, era confundida com a neve que cobria o
chão do Monte Yoshino.
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