Nintoku
Tenno que reinou entre os anos 313 a 399 foi um dos maiores imperadores
da época proto-histórica do Japão. Conta
a tradição que antes dele subir ao trono, houve
uma homérica competição de modéstia
e cortesia entre ele, príncipe Ohosazaki, e seu meio irmão,
o Príncipe Herdeiro que residia no castelo de Uji. Foram
necessários três longos anos, para os príncipes
decidirem quem não seria o imperador. Isso porque, apesar
do trono estar vazio, cada qual se achava menos apto de tornar-se
o grande mandatário do País que o outro.
Naqueles
dias, numa aldeia próxima de Naniwa, um pescador apanhou
um peixe excepcionalmente grande e resolveu fazer uma cortesia
ao imperador. Colocou esse peixe em um cesto e alguns menores
em outro, cada cesto na extremidade de um pau, para balancear
o peso. Assim, com os cestos equilibrados no ombro e seguido por
mais meia dúzia de pescadores, dirigiu-se orgulhoso ao
palácio em Naniwa para fazer sua oferenda.
Na
portaria do palácio de Naniwa disseram ao pescador que
levasse o peixe ao palácio de Uji, pois ali morava o imperador.
Os pescadores percorreram em fila indiana, entre um palácio
e outro e foram recebidos com grande cortesia no palácio
de Uji.
Quando
souberam do que se tratava, o príncipe de Uji pessoalmente
lhes disse:
- Se
querem presentear o imperador com esse magnífico peixe,
por favor, levem para meu irmão no palácio de Naniwa.
Ele é o Imperador.
Os
pescadores novamente puseram o pé na estrada e foram para
Naniwa. Sabendo que seu irmão recomendara pessoalmente
que os peixes fossem entregues a ele, o príncipe Ohosazaki,
disse com toda modéstia e cortesia:
- Eu,
Imperador? Imagine uma coisa desta, sou indigno para tão
grande honraria. Meu irmão sim, ele é o Imperador.
Portanto, por favor, senhores pescadores, levem o peixe para ele
com meus votos de grande estima e consideração.
Como
o príncipe de Naniwa acrescentou ao peixe seus votos de
estima, os pescadores se viram obrigados a levar o presente e
o recado ao príncipe de Uji. Assim percorreram mais uma
vez, a estrada que cortava vilas e arrozais.
Chegando
no palácio de Uji, novamente foram mandados a Naniwa. E
assim como bolinha de tênis, iam e vinham de palácio
à palácio. Enquanto isso os peixes foram apodrecendo
e a comitiva de pescadores puxa-sacos, deixava rastro de mau cheiro
por onde passavam.
O Nihongi,
o segundo livro mais antigo do Japão, conta que essa interminável
competição às avessas, estava se eternizando
e não chegaria a parte alguma. Então, o príncipe
herdeiro disse antes de cometer suicídio: Cheguei
a conclusão que não é possível mudar
a decisão de meu irmão. Enquanto eu estiver vivo
ele achará que o trono é meu. Não devo mais
causar problemas ao Império.
É
o cúmulo da cortesia. O príncipe herdeiro se mata
para dar lugar ao seu irmão.
Quando
o príncipe Ohosazaki (futuro imperador Nintoku) recebeu
a notícia que seu meio irmão Príncipe Herdeiro
morreu, ficou chocado. Foi para o palácio de Uji a cavalo.
Diante do defunto bateu em seu peito, gritou e gemeu, expressando
grande desespero.
Em
seguida desatando o nó de seu cabelo e sentando-se sobre
o cadáver, chamou pelo meio irmão três vezes,
sacudindo-o pela gola.
- Meu
irmão príncipe! Meu irmão príncipe!
Meu irmão príncipe!
De repente o príncipe herdeiro voltou a vida e levantou-se.
Então o príncipe Ohosazaki indagou:
- Ah!
Que desgraça! Quanta tristeza! Por que fostes embora por
sua própria vontade? O que pensará de mim no outro
mundo o espírito do Imperador, nosso pai?
- Este
é o meu destino. Ninguém poderia me deter. Se eu
chegar a morada de meu pai, direi sem nada omitir, que meu irmão
mais velho é um sábio e que muitas vezes tentou
me ceder o trono - respondeu o Príncipe Herdeiro.
- Fico
sem palavras diante de tanta cortesia.
- Cortesia
fizestes Vossa Alteza, vindo de tão longe para me ver.
Quero que aceite o símbolo de minha eterna gratidão.
Dizendo isso, o príncipe herdeiro ofereceu a sua irmã
mais nova, nascida da mesma mãe, a princesa Yata.
- Creio
que ela não é digna de se tornar sua imperatriz,
mas honre-a tendo entre as damas da corte.
Depois, o Príncipe Herdeiro voltou à esquife e morreu
de novo.
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