Em
meados do século XVII, havia em Edo (atual Tóquio)
uma linda garota de nome Osame, que era filha de um rico comerciante
chamado Hikoyemon. Esse comerciante era distribuidor de um saquê
famoso da marca Hyakushô-machi, e seu depósito ficava
no distrito de Azabu.
Certa
ocasião, Osame foi a um festival num templo e ficou apaixonada
por um belo e elegante samurai. Infelizmente para ela, o jovem
desapareceu na multidão antes que os empregados de seu
pai pudessem descobrir de quem se tratava e de onde teria vindo.
Foi
amor à primeira vista. Os dias passaram-se, mas a imagem
do jovem guerreiro ficou impregnada na memória da garota.
Desde o rosto jovial até as cores e detalhes de seu traje,
tudo lhe pareceu extremamente maravilhoso. Então a garota
mandou confeccionar para ela um quimono de mangas longas com as
mesmas cores do traje do rapaz. Ela tinha esperança de
chamar a atenção dele quando o encontrasse, numa
ocasião futura. Quando o quimono ficou pronto, ela o deixou
armado sobre um cabide e ficava imaginando o seu príncipe
encantando acariciando o traje. Às vezes, passava horas
e horas pedindo a Buda que proporcionasse um encontro com seu
sonhado amor e freqüentemente repetia a invocação
da seita do budismo Nichiren: Namu myo ho rengue-kyo. Mas, apesar
de procurar por todos os cantos da cidade vestindo seu furisode
(quimono de mangas longas), nunca mais viu o rapaz.
Desgostosa
e sentindo-se extremamente solitária, adoeceu, foi definhando
e morreu tempos depois. Durante o velório, ela trajava
o furisode, mas, depois de cremada, conforme costume da época,
a veste de mangas longas foi doada ao templo budista Honmyoji,
do distrito de Hongo. Era uma maneira de os fiéis ajudarem
na manutenção do templo, pois o monge podia vender
o traje a um bom preço, já que se tratava de uma
roupa de seda pura.
De
fato, o furisode foi comprado na semana seguinte por uma mocinha
com mais ou menos a mesma idade de Osame. A nova proprietária
do furisode usou-o apenas um dia, ficou doente e começou
a agir estranhamente, gritando que estava tendo visões
de um jovem bonito e que iria morrer por amor a ele. Dias depois,
realmente veio a falecer.
O quimono
de mangas longas pela segunda vez foi doado ao templo. E, uma
vez mais, o monge vendeu-o a uma mocinha, que o usou apenas uma
vez. Ela disse estar tendo visões de um belo rapaz e morreu
também. A vestimenta foi doada pela terceira vez ao templo.
O monge começou a suspeitar de que havia algo de estranho
naquele furisode.
Então,
uma garota com mais ou menos da mesma idade das outras insistiu
na compra do quimono. O monge acabou vendendo-o. A tragédia
repetiu-se, e o furisode foi doado pela quarta vez ao templo.
Então,
o monge não teve mais dúvidas. Aquele furisode estava
tomado por uma força maligna. Chamou seus auxiliares e
mandou fazer uma fogueira para queimar o quimono. Assim que fizeram
a fogueira, a veste foi jogada nas chamas. O monge rezava com
grande fervor para espantar a força do mal:
Namu myo ho rengue-kyo! Namu myo ho rengue-kyo!
De
repente, uma labareda subiu da fogueira e pegou fogo na madeira
do telhado do templo. Nesse momento, um vendaval soprou sobre
a cidade, e o fogo espalhou-se por várias casas, de rua
em rua, de distrito em distrito, e quase toda cidade foi consumida
pelas chamas. Existe outra versão desta mesma história
que conta que, quando o monge botou fogo no furisode, a veste
em chamas saiu correndo pelas ruas e espalhou o fogo pela cidade.
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