Era
primavera na bela praia de Miho no Matsubara, na região
costeira de Suruga (hoje Shizuoka). E, por ser primavera, os pássaros
cantavam alegremente nas formosas árvore de matsu (pinheiro)
e davam um encanto todo especial àquela praia. O mar azul
dançava ao sabor das ondas, iluminado pela luz do sol,
fazendo brilhar pontos luminosos, como vaga-lumes cintilantes
em pleno dia. Ao fundo, o imponente Monte Fuji, com seu topo nevado.
Hakuryo,
um pescador que morava nas proximidades, vinha andando pelas brancas
areias da praia e, de repente, sentiu um agradável perfume.
Ah! Que perfume maravilhoso! tentando localizar de onde
vinha, viu algo cintilante movendo-se no galho de um pinheiro.
Apurou bem os olhos e viu que se tratava de um tecido leve flutuando
com o sopro da brisa. O pescador apanhou o tecido e percebeu que
era um manto branco tecido com fios de penas. O perfume agradável
vinha daquele delicado pedaço de tecido.
A
peça era realmente deslumbrante e, a cada movimento, mudava
de tonalidade, revelando-se algo de grande valor.
Este manto deve ter caído do céu. É bonito
demais para ser algo terrestre. Acho que encontrei algo muito
precioso, digno de ser guardado como um tesouro do Japão
pensou o pescador.
Ato
seguinte, Hakuryo foi para casa exalando o gostoso perfume que
o véu desprendia. Resolveu que, naquele dia, não
iria mais pescar. O achado era mais valioso que qualquer quantidade
de peixe que conseguisse pescar. De repente, ouviu uma voz feminina,
que pedia:
Por favor, devolva-me esse véu, que é meu.
O pescador
olhou para trás e viu uma jovem de admirável beleza.
Eu encontrei esse manto, por isso ele vai ficar comigo. Pretendo
levá-lo ao palácio imperial, para ser colocado junto
aos tesouros sagrados do Japão. Portanto, é impossível
dar a você esse véu de rara beleza.
Sem o véu tecido com fios de pena, eu não posso
voltar à Alta Planície Celeste. Ficarei presa na
terra para sempre. Por favor, devolva meu véu.
Foi
então que o pescador notou que a bela garota era uma tennin
(habitante do céu). Seus cabelos negros e longos desciam
pelo ombro dançando sobre sua veste prateada. Nunca, em
toda sua vida, Hakuryo havia imaginado que pudesse existir uma
criatura tão bela.
Por favor, devolva meu hagoromo (véu de fios de penas)
disse, chorando, a ninfa celeste.
O pescador
sentiu grande emoção ao ver as lágrimas rolarem
pela alva e macia face da ninfa. Ela parecia ainda mais bonita
derramando lágrimas.
Está bem, vou devolver o véu, mas, antes, quero
que dance para mim. Ouvi dizer que as ninfas celestes dançam
maravilhosamente bem.
Sim, eu dançarei para você, mas, por favor, devolva-me
o véu, pois sem ele não poderei dançar.
Oh, não! Se eu devolver o véu, você vai embora
voando para o céu sem dançar para mim. Não
sou idiota como você imagina protestou o pescador.
Nós, habitantes do céu, não mentimos jamais.
Se eu disse que vou dançar para você, com certeza
assim vou fazer. Esse tipo de desconfiança só existe
aqui na terra. E, sem o véu, como posso dançar?
Hakuryo
ficou envergonhado de ter desconfiado da bela tennin e devolveu,
então, o véu, com pedidos de desculpas.
Assim
que recebeu o véu, a bela ninfa celeste colocou-o sobre
seus ombros e começou a dançar. Aos poucos, ela
começou a flutuar, encantando o pescador com o ritmo harmonioso
de seus gestos. Um indescritível perfume envolveu Hakuryo,
que, hipnotizado pelo encanto da tennin, apreciava admirado aquele
belo espetáculo. Dançando e dançando, a garota
foi subindo em direção ao céu. Subiu mais
alto que os pinheiros da praia de Miho, continuando sempre a dançar,
e atingiu o sagrado Monte Fuji, desaparecendo nas nuvens que envolvem
seu topo.
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