Tawara
Touda Hidesato, historicamente Fujiwara-no-Hidesato, foi um guerreiro
da Era Heian (794~1185) que se tornou conhecido por combater na
rebelião de Taira-no-Masakado na província de Hitachi,
matando seu líder na batalha de Kojima, em 940. Esta foi
a primeira e a principal rebelião da classe dos guerreiros
contra o governo imperial. Muitas histórias fantasiosas
nasceram em torno de Hidesato, que ficou conhecido popularmente
como Tawara Touda.
Entre
as legendárias histórias atribuídas a Hidesato,
a mais conhecida é aquela na qual ele enfrenta uma lacraia
gigante. Tudo começou quando Hidesato atravessava a Ponte
Seta-no-Karashi, no Lago Biwa, a maior lagoa do Japão.
No meio da ponte, havia um dragão adormecido, obstruindo
a passagem. Sem se incomodar, Hidesato passou por cima do rabo
do dragão e seguiu seu caminho. Depois que deu alguns passos,
ouviu uma voz feminina chamando por ele. O guerreiro virou-se
e deparou-se com uma linda donzela que o chamava.
Sou a filha do rei Dragão, que tem um palácio no
meio deste lago. Há dias que estou aqui na ponte na forma
de um tenebroso dragão, tentando encontrar alguém
corajoso que não tenha medo de monstros. Todas as pessoas
chegavam até a ponte e, quando me viam, saíam correndo.
O senhor foi o único que seguiu seu caminho por cima de
meu corpo.
Se isso é um elogio, eu agradeço disse Hidesato.
Queria lhe pedir um grande favor.
Se estiver ao meu alcance, terei prazer em atendê-la.
A pedido de meu pai, estava a procura de um guerreiro corajoso
e acho que finalmente o encontrei. Uma lacraia gigante desce do
Monte Mikami e está devorando todos os membros da minha
família. Um a um estão sendo vitimados pelo monstro,
que fez de nós, do palácio de Dragão, seu
alimento. Creio que serei a próxima vítima, pois
minhas irmãs foram todas devoradas pela criatura gigante.
Hidesato,
que nada temia e adorava aventuras, concordou prontamente em ajudá-la.
Assim, ele seguiu a donzela e foram para o palácio do rei
Dragão.
Lá
chegando, conheceu o rei Dragão, que havia preparado uma
grande festa para lhe dar boas-vindas. Foi um grandioso banquete
com muitas iguarias deliciosas, regadas com fino saquê (vinho
de arroz). Todos da corte dançavam e cantavam como não
faziam há muito tempo, pois estavam esperançosos
de que havia chegado o salvador. Em plena festa, o dia começou
a escurecer e uma bateria de trovões ribombou nas nuvens.
Hidesato
correu para a varanda do segundo andar com arco e flecha em punho.
O Monte Mikami estava irreconhecível. Envolta em neblina,
dava para perceber uma forma espiral com mil pernas, enrolando
completamente a montanha. A lacraia gigante tinha uma enorme cabeça
com duas bolas de fogo no lugar dos olhos.
O guerreiro
preparou a flecha no arco e retesou a corda o quanto pôde.
A flecha partiu em direção ao brilho dos olhos do
monstro e acertou-o no meio da testa. Porém, o gigantesco
inseto continuou avançando em direção ao
palácio, como se nada tivesse acontecido.
Imediatamente,
Hidesato colocou outra flecha no arco e disparou. E mais uma vez
nada aconteceu.
Só
lhe restou uma flecha das três que ele levara para a varanda.
A lacraia gigante estava bem perto. A princesa e o rei Dragão
estavam apavorados e tremendo de medo. Ao colocar a última
flecha no arco, o guerreiro lembrou que as crianças brincavam
cuspindo em centopéias, pois diziam que a saliva humana
era mortal para esse tipo de inseto. Então, colocou, por
um momento, a flecha na sua boca, lubrificou-a com saliva e mirou-a
na testa do monstro. Quando atirou a flecha, um grito horrível
ecoou no palácio. Trovões ribombaram, relâmpagos
cortaram o ar, e o palácio parecia desmoronar. Em seguida,
as bolas de fogo apagaram-se e começou a cair uma chuva
torrencial.
Todas
as pessoas do palácio estavam prostradas no chão,
tamanho o susto. A tempestade assustadora atravessou a noite,
clareando ao amanhecer.
No
dia seguinte, o céu estava claro. O sol brilhou radiante.
Na superfície do Lago Biwa, boiava o corpo sem vida da
lacraia gigante. O rei Dragão e toda a corte festejaram
com euforia o fim do pesadelo. Hidesato foi festejado como o grande
herói do Lago Biwa.
Quando
Hidesato foi se despedir do rei Dragão para continuar suas
andanças pelo Japão, recebeu deste alguns presentes:
um saco de arroz, um rolo de seda, dois sinos e uma caçarola.
São lembranças simples, mas de todo o coração.
Uma comitiva liderada pela bela princesa Dragão carregou
os presentes até a ponte, onde se despediram do herói.
Quando
chegou em casa, Hidesato descobriu que os presentes não
eram nada comuns. O rolo de seda, quando se cortava um pedaço
para fazer quimonos, aumentava automaticamente na mesma proporção,
portanto, nunca acabava. Da mesma forma, o saco de arroz, à
medida que era esvaziado, tornava a se encher. Era inesgotável.
Então, quando a vizinhança ficou sabendo disso,
passaram a chamá-lo de Tawara Touda, ou seja, senhor saco
de arroz.
Por
sua vez, a caçarola cozinhava mesmo sem fogo, e os sinos,
cujo som ecoava até os limites da província Oomi
(atual Shiga), foram doados ao Templo de Mii para serem tocados
em horas determinadas, servindo de marcador de horas para toda
a população.
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