Antigamente
as florestas japonesas eram habitadas por criaturas chamadas tengu.
Eram gênios da montanha com aparência humana. Uma
de suas características era que tinham um leque mágico
e à medida que abanava, seu nariz ia crescendo.
Nessa
época, morava no alto da montanha um tengu vermelho chamado
Vermelhão e um tengu azul chamado Azulão.
Certa
ocasião, os dois sentados em cima de um enorme pinheiro,
no pico da montanha, conversavam na maior descontração.
- Sabe
amigo Vermelhão, estive pensando... Nós ficamos
todos os dias daqui de cima, observando os seres humanos lá
embaixo.
- É
verdade amigo Azulão.
- Será
que nós tengu gostamos de observar os seres humanos, amigo
Vermelhão?
- Sei
lá amigo Azulão, nunca pensei nisso. Observamos
os humanos porque todos os tengu fazem isso.
- É
verdade amigo Vermelhão.
- Amigo
Azulão, quanto tempo faz que observamos eles daqui de cima?
- Acho
que uns quinhentos anos, amigo Vermelhão.
- Os
homens mudaram muito durante esse tempo, mas nós não
mudamos nada - observou o tengu vermelho.
- Vira
e mexe, eles constróem cidades, depois brigam e destróem.
Depois constróem de novo, um pouco diferente, depois brigam
e destróem. Vale dizer que de guerra em guerra, eles vão
mudando um pouco e hoje estão completamente diferentes
de quinhentos anos atrás - comentou o tengu azul.
- Acho
que já sei amigo Azulão, temos que brigar e xingar.
Nós nunca brigamos nestes quinhentos anos de convivência,
por isso que nós estamos sempre na mesmice.
- Mas
brigar para que se somos bons amigos? Para nós tengu, briga
e guerra são coisas totalmente desnecessárias.
- Pois
é, nunca brigamos, por isso nunca progredimos!
- Está
bem, vamos brigar então. Assim, imitando os humanos, um
passou a xingar o outro e ficaram de mal.
Certo
dia Azulão estava, como de costume, observando as pessoas.
De repente, viu alguma coisa muito bonita lá embaixo no
castelo. Como ficou com vontade de tocar no belo objeto que via
ao longe, começou a fazer vento no nariz com seu abanador
mágico. O nariz começou a crescer, a crescer e foi
crescendo na direção do castelo. O nariz atravessou
rios, montes, ruas e muros do castelo, e passou em um quintal,
onde uma criada estava estendendo formosos quimonos de uma princesa
para secar. Distraída, a criada pendurou o quimono no nariz
do tengu, pensando que era a vara de secar roupas.
Assustado
com o repentino peso sobre seu nariz, o tengu recolheu seu nariz,
abanando ao contrário. Como os quimonos estavam presos
por grampos, foram levados para as copas das árvores. O
tengu vermelho chegou no local para observar e perguntou:
- Quantos
quimonos bonitos, como conseguiu?
- Alonguei
meu nariz até o castelo, aí penduraram vários
presentes. Vou te dar a metade.
- Não
quero, estamos de mal, lembra-se? - dizendo isso Vermelhão
foi para outro lugar.
Na
verdade o tengu vermelho ficou com inveja de Azulão e resolveu
fazer o mesmo.
- Eu
também quero roupas bonitas. Vou alongar meu nariz até
o castelo!
E assim,
Vermelhão foi abanando e abanando seu nariz, até
que esse atingisse o castelo. Alguns samurais praticavam kenjutsu,
a arte do manejo da espada. Vendo aquele nariz avançando
na direção deles, não tiveram dúvida,
cortaram aquela coisa estranha que mais parecia uma cobra cega.
Vermelhão
ao sentir uma dor aguda, recolheu o nariz mais do que depressa.
Azulão
se aproximou do colega e perguntou o que havia acontecido. Vermelhão
chorando de dor contou a tragédia.
Azulão
penalizado disse novamente para Vermelhão não chorar
mais e deu metade dos quimonos para ele. Assim os dois viveram
em harmonia por mais quinhentos anos.
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