Em
tempos antiqüíssimos, antes dos guerreiros samurais
e de seus enormes castelos, o Grande Santuário de Ise,
da religião nativa xintoísmo, era a mais bela obra
construída pelo homem no Japão. Havia uma expressão
popular que dizia: Visitar o Grande Santuário de
Ise e morrer!. Era desejo do povo japonês da época
visitar esse famoso santuário, pelo menos uma vez na vida.
Esse desejo, conforme contam as lendas, não se limitava
apenas ao homem, mas a todos os seres viventes.
Naquela
época, moravam, em uma montanha na província de
Mie, um macaco e uma carpa. Certa ocasião, o macaco estava
na margem do rio, e a carpa comentou:
Há muito tempo tenho vontade de visitar o Santuário
de Ise.
Eu também sempre tive esse desejo. Por que não
vamos juntos? perguntou o macaco.
Dito
e feito. A carpa saiu nadando rio abaixo e o macaco desceu a montanha
pulando de galho a galho, até encontrar um enorme campo.
O macaco mediu com os olhos a dimensão da pradaria e disse
à carpa:
Eu gosto de montanhas cheias de árvores e confesso que
sou um fracasso para percorrer um campo tão grande e tão
reto. Não sei o que fazer...
Enquanto
eles pensavam numa solução, apareceu por lá,
de passagem, um cavalo e perguntou:
O que vocês fazem tão pensativos?
Então
o macaco contou que pretendiam visitar o Grande Santuário
de Ise, mas estavam em dificuldades, pois o verde campo que tinham
que atravessar era demais para suas pernas tortas.
Visitar o Santuário de Ise é uma maravilha. Eu também
sempre tive esse desejo. Deixem-me acompanhar vocês. Venha,
macaco, suba no meu dorso e vamos embora.
Assim, o macaco montou nas costas do cavalo, e a carpa seguiu
nadando pelo rio.
Mais
para frente, o rio em que a carpa seguia nadando desembocava numa
praia. Então, a carpa parou e disse para os dois amigos:
Eu não gosto do mar. Não consigo nadar em
águas salgadas.
A
carpa, o macaco e o cavalo ficaram pensando em como vencer aquela
dificuldade.
Eu tenho uma boa idéia disse o macaco, logo
em seguida Precisamos providenciar um balde, colocar água
doce nele e a carpa vai andando junto com a gente dentro do balde.
Um balde cheio de água é pesado. Eu não tenho
mão para carregá-lo disse o cavalo.
Deixe comigo, que eu tomo conta da carpa disse o
macaco, todo prestativo.
E o
macaco foi até o povoado e trouxe um balde de madeira,
típico balde japonês daquela época. Encheu-o
de água, colocou a carpa dentro dele e subiu no dorso do
cavalo com o balde.
Obrigada pela ajuda disse a carpa, agradecida.
Foi uma grande idéia observou o cavalo.
Assim, seguiram a viagem ao Santuário de Ise, quase todos
muito felizes.
Quase,
porque o cavalo teve que carregar o macaco e um balde de madeira
cheio de água nas costas. A carpa, apesar de não
fazer nenhum esforço dentro do balde, não conseguia
apreciar a bela paisagem a caminho do santuário. Já
o macaco, sentado confortavelmente no dorso do cavalo, usufruiu
a visão privilegiada do alto e ia ditando o caminho: agora,
vire à direita e, em seguida, vire à esquerda!
Assim,
chegaram ao Santuário de Ise sem maiores problemas, provando
que a união faz a força e que quem tem
idéias faz menor esforço.
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