Há
muitos e muitos anos, havia uma linda jovem chamada Kinu (seda),
numa aldeia famosa pelo cultivo da sericultura. Anualmente, na
primavera, muitos dekasseguis (trabalhadores temporários)
vinham para essa região e trabalhavam no corte dos galhos
de amoreiras. Nessa época, a aldeia ficava muito populosa
e todos trabalhavam felizes e com grande entusiasmo. Conseqüentemente,
havia muitas festas na região. Os bichos-da-seda alimentavam-se
das folhas de amoreiras cortadas e colocadas nos barracões
pelos trabalhadores e faziam seus casulos nos galhos.
Quando
terminavam os trabalhos de colheita dos casulos, os dekasseguis
voltavam para suas províncias de origem e a aldeia voltava
a ser pacata e até solitária.
A família
de sericultores que acolheram Kinu temporariamente percebeu que,
em todos os anos em que ela trabalhou na cultura da seda em suas
terras, os casulos eram maiores e mais brancos, sendo considerados
pelo comprador da produção melhores que os da China.
No
final da temporada daquele ano, os sericultores fizeram grandiosa
festa em agradecimento aos dekasseguis pelo trabalho e serviram
um delicioso banquete. Durante a festividade, tentaram descobrir
de que região do Japão Kinu teria vindo trabalhar,
mas foi em vão. Ela nada contou, esquivando-se com respostas
educadas. Assim, ninguém ficou sabendo de onde ela veio,
nem para onde retornaria após a temporada de trabalho,
nem sobre sua família.
Na
hora da partida, a família que a acolhera naquele ano pediu
encarecidamente que Kinu voltasse no ano seguinte. Ela despediu-se
de todos e deixou a aldeia por uma estrada estreita. Para assegurar
que ela voltaria na próxima temporada, alguns aldeões
a seguiram sorrateiramente no meio da mata.
Porém,
poucas horas depois de sair da aldeia, ela desapareceu de repente.
O local onde ela desapareceu era na beira de um lago. Os aldeões
vasculharam toda margem, mas não a encontraram. Um dos
rapazes observou que no lago havia um ovo branco de serpente,
fora isso, nada havia de diferente.
Na
primavera seguinte, ela não apareceu, apesar de todos a
esperarem ansiosamente. Alguns membros daquela família
de sericultores viram várias vezes uma serpente branca
andando na plantação de amora e no barracão
da seda. Apesar de Kinu não ter aparecido, mais uma vez
os casulos colhidos naquele ano foram brancos e bonitos.
A família
concluiu que aquela serpente branca que eles viram era Kinu. Transformada
em serpente, ela estava protegendo os bichos-da-seda contra os
ratos.
Assim,
fizeram uma estatueta com a forma dela e a colocaram num santuário
Shintô (religião originária do Japão)
na primavera, para ser reverenciada como deusa da seda. Após
a temporada da seda, os aldeões, agradecidos, levam a estatueta
até um lago e a colocam num pequeno barco, mandando-a de
volta. Ainda hoje, em muitas aldeias de sericultores no Japão,
esse ritual é praticado em reverência a Kinuhime,
a deusa da seda.
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