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A história de Shiro – parte final

Adaptação livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)

 

Na primeira parte deste poema, um bondoso casal de velhinhos não tinha filhos. Em compensação, tratavam seu cachorro, de nome Shiro, com muito carinho. Certo dia, enquanto o velhinho capinava, Shiro encontrou muitas moedas de ouro. O vizinho do casal, entretanto, ganancioso, pediu Shiro emprestado, com intuito de também encontrar ouro. Como isso não aconteceu, o vizinho, vingativo, castigou Shiro, e o cãozinho acabou morrendo. Os velhinhos, muito sentidos, plantaram uma semente de pinheiro na sepultura do amado animal. Um dia, um fenômeno inesperado aconteceu.

A olhos vistos a árvore cresceu
Em pouco tempo se tornou gigante
Tendo o tronco grosso como apogeu
E uma abela copa verde radiante

Numa bela tardezinha,
Consultando seu coração,
Disse o velho à velhinha
Com muita inspiração:

– O bom espírito de Shiro
Nessa árvore reencarnou
Reside hoje com muita paz
Pois um tronco se tornou

A velhinha então lembrou
Que Shiro gostava de moti
E comia com muita satisfação
A massa de arroz socada no pilão

Disse então o velho: – Bem lembrado
Vamos fazer desse tronco um pilão
Assim o espírito dele fica vinculado
Ao o que mais comia com devoção

Cortado o tronco foi feito um pilão
E um malho para arroz socar
Puseram o arroz glutinoso à cozinhar
Resolveram testar com grande emoção

Arroz cozido, começaram a socar
E houve um milagre no martelar
Da massa, saltaram moedas de ouro
E encheu a casa de tesouro

O casal vizinho, que a tudo assistiu,
Espiando da cerca como sempre fez
Veio pedir o pilão emprestado
Dizendo que agora era sua vez

Sem coragem para dizer não
Mais uma vez o bom velhinho
Atendeu ao incômodo pedido
Emprestando o pilão ao vizinho

O casal invejoso pôs o arroz a pilar
Cheio de ganância, queria faturar
E, para as moedas encontrar,
Foi socando sem parar

Porém, o milagre não acontecia
A massa ficou escura sem explicação
Quanto mais batia, mais fedia
E tornou-se uma imensa podridão

Do pilão saia uma tremenda meleca
Como num pesadelo de deixar careca
Com imundícies jorrando em cachoeira
A casa foi tomada de sujeira

Danado da vida, o velho malvado
Rachou o pilão com o machado
E queimou os pedaços de madeira
Fazendo dela uma bela fogueira

Ao saber do ocorrido,
As cinzas o bom velho foi buscar
Ia levá-las para ao santuário
Para o fiel amigo rezar

Era uma triste manhã de inverno
Carregando as cinzas do pilão
O velhinho caminhava fraterno
Cabisbaixo pela seca vegetação

De repente, uma brisa invernal
Carregou a camada superficial
Das cinzas que estavam na cesta
Espalhando feito festa

Em galhos secos as cinzas pousaram
E os pozinhos em botões se transformaram
Em seguida, desabrocharam todas faceiras
Em lindas flores de cerejeiras

O inverno virou primavera
Quebrando as regras da estação
E a aldeia ficou encantada
Graças ao Velhinho Floração

Nesse dia, passou pela aldeia o governador
Ao saber do milagre, chamou o benfeitor
– Mostre-me sua magia, meu bom ancião
Dizem que com a natureza tu tens comunhão

Com o pedido honrado ficou
E na árvore com o cesto o velho subiu
As cinzas pelos galhos espalhou
E o milagre das flores se repetiu

A árvore seca encheu-se de flores
Cerejeira, símbolo dos samurais,
O governador ficou admirado
Mais que isso, emocionado.

– Apreciar flores de cerejeiras
Fora da primavera, a sua estação,
É um privilégio sem fronteiras
Velhinho, aceite minha gratidão

Como recompensa pelo espetáculo,
Ricos quimonos e moedas de ouro
Recebeu o velhinho oráculo
Aumentando mais o seu tesouro

Novamente o vizinho invejoso,
Que poderoso queria ser,
Pegou o resto das cinzas no forno
E esperou pelo governador no retorno

– Velhinho da Primavera eu sou
Em galhos secos faço dar flor
Assim o ganancioso saiu gritando
Quando o governador veio chegando

Em seu belo cavalo montado
O nobre que amava as cerejeiras
Sem conhecer o velho abusado
Acreditou em suas baboseiras

– Que aldeia fantástica! – disse o senhor
Muitos aqui conhecem a magia da flor!
E, para agradar a visão do governador,
O mesquinho jogou cinzas a todo vapor

Porém, nada aconteceu
Por mais que o velho tentasse
Nenhum galho floresceu
E criou-se um grande impasse

– Homem, que está esperando?
Quero ver as flores de cerejeiras.
Disse o governador esbravejando
Com o velho que tentava de mil maneiras

Desesperado, o rufião
Jogou cinzas de montão
Mas, levado pelo vento,
Provocou um grande tormento

As cinzas foram parar
Nos olhos do governador
E de toda comitiva,
Provocando grande dor

Até o cavalo do nobre
Um banho de cinzas levou
Levantando as patas no ar
Quase o governador derrubou

– Em toda minha vida
Nunca vi tamanha afronta
Que prendam esse impostor
O atrevimento passou da conta

Conta a lenda que o velho insolente,
Com medo de perder a cabeça,
Começou a raciocinar como gente
E de joelhos fez promessa

Ao governador pediu perdão
Jurando nunca mais bancar o vilão
Prometeu não cobiçar coisas alheias
E ajudar todos da aldeia

A história de Shiro ao governador contou
Com lágrimas nos olhos a chorar
Dizendo que o cachorro castigou
E que pela alma do animal ia orar

Depois de repreendê-lo duramente
O nobre libertou o velhinho
Para cultuar certamente
O arrependimento no caminho

Diz uma crença japonesa
Endossado com muita certeza:
“O castigo dos mortos é mais abrasivo
que os castigo dos vivos”

Esta é a história do cachorro Shiro
Que, mesmo depois de morto,
Não esqueceu a dívida de gratidão
Com o Velhinho Floração

Fim...

 
Adaptação livre de Claudio Seto

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