Há
muito e muitos anos atrás havia no Japão um jovem
de nome Guengoro. Certa ocasião ele encontrou um estranho
tambor e casualmente descobriu que quando batia nele e dizia nariz
cresça e apareça, seu nariz ia crescendo,
crescendo, enquanto duravam as batidas. E quando batia novamente
dizendo nariz diminua e desapareça, o nariz
ia diminuindo até voltar ao tamanho normal. Era realmente
um tambor de estranho poder.
- Tenho
que arranjar alguma maneira para que o poder desse tambor possa
ser útil para mim. Assim pensando, Guengoro saiu
em peregrinação com seu amigo Taro.
Dias
depois os dois chegaram em uma cidade . Numa das ruas próximas
ao santuário dedicado ao deus Zenchi no Mikoto, os amigos
viram uma linda jovem, ricamente vestida. Ela caminhava em direção
do templo acompanhada de sua irmãzinha. Guengoro aproximou-se
das duas para pedir informações.
- Como
se atreve a dirigir-me palavras, seu plebeu insolente. Sou filha
do governador da província, coloque-se na posição
de sua insignificância e fique longe de mim.
Guengoro
assustou-se com a grosseria de uma garota tão linda. Pensou
imediatamente que ela merecia uma lição. Logo arquitetou
uma brincadeira maldosa e escondeu-se em um arbusto. Sem que ela
pudesse ver ou ouvir, começou a bater o tambor dizendo:
- Nariz da menina bonita, cresça e apareça. Nariz
da menina bonita, cresça e apareça...
De
repente o nariz da bela jovem começou a crescer e ela,
assustada, voltou correndo para casa aos prantos.
A mocinha
era filha do governador e homem mais rico da província.
Seus pais ficaram chocados com o terrível acontecimento.
Precisava curar imediatamente aquela deformação
que estava tornando feio aquele rosto angelical. Primeiro chamaram
um monge budista para fazer fortes orações, pois
aquilo parecia praga de demônio. Como as rezas bravas do
monge não estavam resolvendo a situação,
chamaram um sacerdote shintô para invocar as forças
dos deuses da natureza na cura do nariz da mocinha.
Todos
os esforços religiosos foram em vão. Então
mandaram chamar os médicos taoístas, que tudo curavam
com chá e elixir de ervas e raízes. Mesmo assim
de nada adiantou e o nariz crescia, cada vez que, escondido perto
da mansão do ricaço, Guengoro batia o tambor.
O governador
milionário estava desesperado. Com aquele nariz sua filha
não teria chance de se casar com um príncipe imperial,
e seu sonho de se tornar um nobre da corte na capital do Japão,
por ser sogro de príncipe, estava indo por água
abaixo.
Foi
no auge desse desespero que Taro, amigo de Guengoro, apareceu
na mansão disfarçado de sacerdote shintô.
Na verdade, ele era mais um no meio de muitos sacerdotes, monges
e médicos que tentavam, cada um a seu modo, a cura do nasal
da mocinha.
Assim
que terminou a encenação de prece, Taro olhou solenemente
para o milionário e fez uma sugestão:
- Estamos
diante de um raro fenômeno. A cura não está
na simples oração de monges budistas, sacerdote
shintô ou doutores taoistas. É necessário
alguém muito mais poderoso. Sugiro que faça cartazes
oferecendo boa recompensa, para quem conseguir curar o nariz de
sua filha.
Pensado
no seu desejo de tornar-se nobre, com casamento de sua filha com
um príncipe imperial, o governador milionário mandou
fazer vários cartazes oferecendo grande quantia em moedas
de ouro. Esses cartazes foram espalhados por toda região.
Alguns
dias depois, Guengoro se apresentou na mansão do milionário.
- Sou
terapeuta nasal, vim atraído por esse cartaz.
Convidado
a entrar até o quarto da mocinha, Guengoro levou um susto:
o nariz dela estava atingindo o teto.
-Acho
que exagerei nas batidas do tambor - pensou Guengoro.
Guengoro
alegou que um nariz daquele cumprimento não poderia ser
curado num passe de mágica. Levaria alguns dias para concluir
o trabalho. Assim, hospedado na casa do milionário, comendo
do bom e do melhor, diariamente dava umas batidinhas no tambor
dizendo: nariz diminua e desapareça. Dessa
forma o nariz ia diminuindo diariamente aos poucos.
A família
milionária ficou encantada com a terapia de Guengoro. O
pai da garota então perguntou:
- Esse
tambor é poderoso, será que não dá
pára você bater mais e curar mais rápido o
nariz da minha filha.
-Não
diga uma bobagem dessa. Esse tambor certamente pertenceu a Zenchi
no Mikoto, o poderoso Deus da Graça Divina, cujo dizer
consagrado é: a paciência é a mãe
de todos os milagres.
Assim
quando chegou ao décimo primeiro dia, o nariz da mocinha
atingiu o tamanho normal e o trabalho de cura foi considerado
um sucesso. Guengoro e Taro deixaram a casa carregando um cesto
cheio de moedas de ouro.
Assim
os dois voltaram para casa ricos e nunca mais seria preciso trabalhar
para ganhar o sustento.
|