Há
muitos e muitos anos atrás, na região de Yamato,
um jovem lavrador sem-terra chamado Yosaku peregrinava de vila
em vila trabalhando. À noite como não tinha onde
ficar dormia em templos budistas dedicados a Kannon, a Deusa da
Misericórdia. Uma noite, em sonho, a deusa lhe concedeu
uma graça: Amanhã cairá em suas mãos
algo que trará uma grande fortuna para você.
No
dia seguinte depois de tropeçar percebeu que sua mão
havia caído sobre um palha de arroz, Yosaku ia jogar fora,
mas lembrou do sonho e guardou a palha. De repente um besouro
começou a voar em sua volta. Pegou o inseto e amarrou-o
na extremidade de um pedaço de pau, com uma tira da palha.
Fez um círculo em torno de onde o bichinho estava amarrado.
Curiosamente o besouro começou andar em círculo,
contornando a palha, e tornou-se um passatempo divertido para
os transeuntes daquela estrada. Um menino rico que passou pelo
local quis o brinquedo e em retribuição deu a Yosaku
três laranjas.
Logo
depois o lavrador encontrou com uma dama que estava se lastimando
de não ter nada para beber. Yosaku deu as laranjas e em
troca ganhou três peças de seda pura.
-Nossa,
três peças de seda por três laranjas, hoje
é meu dia de sorte. Só pode ser obra da Deusa Kannon.
O rapaz
continuou a caminhada e cruzou com um samurai montado num garboso
cavalo branco. Yasaku percebeu que o cavalo estava muito cansado,
mesmo assim era um belo animal. De repente o cavalo dobrou as
pernas e caiu exausto.
Os
criados do samurai correram em socorro do animal, dando-lhe água
e massageando seu pescoço, porém o cavalo não
se mexia, ficando estirado como quem estava morrendo.
-Cavalo
inútil, sacrifiquem esse animal perfurando seu coração
com a lança - disse o samurai aos seus vassalos.
Yosaku que de perto assistia a cena, ficou penalizado com o destino
do cavalo e pediu ao samurai.
-Honorável
senhor, desculpe-me do atrevimento, mas peço que poupe
a vida do cavalo, um animal tão bonito não merece
uma morte sacrificada. Ofereço uma peça de seda
em troca da vida dele.
-Ao
contrário do que está imaginando, mandei sacrificar
o cavalo para ele não ter uma morte lenta e agonizante.
Apenas pretendia abreviar o sofrimento do animal. Mas se você
faz questão de trocar a vida dele por uma peça de
seda, aceito de bom grado. O animal fica sendo de sua responsabilidade.
Assim
o samurai apanhou a peça de seda e seguiu em frente. Yosaku
pacientemente deu água ao cavalo e ficou horas ao lado
dele. Aos poucos o cavalo foi melhorando de aspecto e finalmente
se levantou.
Yosaku
montou no cavalo e seguiu sua andança rumo a capital. Quando
passou perto de uma casa de agricultor trocou a segunda peça
de seda por sela e rédea. Quando chegou a periferia de
Heian-kyo (hoje Kyoto), então capital do Japão,
trocou a terceira peça de seda por pousada, comida e roupa
lavada.
No
dia seguinte quando se preparava para entrar na capital, passou
diante de um casebre e um homem estava se preparando sua mudança,
colocando utensílios da casa em um grande carrinho puxado
a mão.
-Que
belo cavalo! Se eu tivesse um, minha mudança seria facilmente
realizável. Disse o homem da casa.
-Quer comprar o cavalo? Perguntou Yosaku.
-Gostaria
muito de adquiri-lo, mas, o pouco dinheiro que tenho, não
posso gastar agora. Devo guardar para começar nova vida,
bem distante daqui, com uma pessoa que está me esperando.
Será que você aceita trocar o cavalo por essa modesta
casa e esse terreno para plantar?
-Um
terreno para plantar é tudo que sempre desejei!
Assim Yosaku tornou-se proprietário de terra na entrada
da capital. Sua plantação de arroz cresceu maravilhosamente
e ganhou fama. Quando era feito a colheita os nobres corriam para
comprar o arroz da plantação de Yosaku. O moço
trabalhou bastante e depois de alguns outonos, havia se tornado
um fazendeiro abastado. Os andarilhos que rumavam a capital paravam
para descansar em sua casa e sempre recebiam uma pelota de arroz
e uma xícara de chá. Yosaku sentia prazer em ajudar
as pessoas e fazia questão de contar sua história,
para transmitir sua fé na Deusa Kannon.
Por
causa de sua bondade passou a ser chamado carinhosamente de Warachibe
Choja (Milionário da Palha de Arroz) pelas pessoas que
passavam por sua casa.
Fim...
|