Há
muitos e muitos anos atrás, na região de Yamato
(hoje Nara), viveu um jovem de nome Yosaku. Ele era um lavrador
sem-terra, por isso peregrinava de vila em vila ajudando outros
agricultores e sobrevivia comendo vegetais que ganhava em troca
de seu trabalho. Como era um trabalhador sem-teto, dormia em templos
budistas dedicados a Kannon, a Deusa da Misericórdia.

- Deusa
Kannon hoje trabalhei bastante e estou exausto. Como não
tenho casa própria onde dormir, permita-me pernoitar mais
uma vez em seu templo. Amanhã, por favor ajude-me a encontrar
trabalho.
Após
a oração, Yosaku estirou-se na varanda do templo
e adormeceu cansado. Nessa noite ele teve um sonho fascinante.
Irradiando uma luz dourada, a Deusa Kannon, apareceu ao seu lado
e disse:
-Yosaku,
você é rapaz admirável. Mesmo sendo pobre
jamais queixou de sua condição e está sempre
disposto a ajudar ou outros, sem se importar com pagamentos. Vou
lhe conceder a graça de uma vida feliz. Amanhã vai
cair casualmente em suas mãos algo que trará uma
grande fortuna para você. Dizendo isso a deusa desapareceu.
No
dia seguinte o rapaz saiu para procurar trabalho, tropeçou
numa pedra no meio da estrada e foi de cara ao chão. Na
queda sua mão caiu sobre algo.Era um pedaço de palha
de arroz, Yosaku ia jogar fora, mas lembrou do sonho e guardou
a palha e continuou caminhando pensativo:
-Não
consigo entender como um pedaço de palha de arroz pode
me deixar rico. Será que foi a essa palha que a misericordiosa
Deusa Kannon se referiu?
Assim
continuou caminhando pensativo. De repente um besouro veio voando
aos zumbido perto de seu rosto. Yosaku tentou afastar o inseto
com um galhinho de árvore, mas o besouro persistia em voar
em sua volta. O jovem então apanhou o inseto e amarrou-o
na extremidade de um pedaço de pau, com uma tira da palha
que havia guardado no bolso. Assim espetou o pauzinho no chão
e ficou vendo o inseto se debatendo para fugir. Então foi
desfiando a palha de arroz e fez um círculo em torno de
onde o bichinho estava amarrado. Curiosamente o besouro começou
andar em círculo, contornando a palha, e tornou-se um passatempo
divertido para os transeuntes daquela estrada.

Nesse
momento ia passando um carro de boi muito rico e um menino, filho
de nobre que estava nesse carro, disse ao velho conselheiro do
palácio que acompanhava o cortejo.
-Quero
aquele brinquedo para mim.
Yosaku que ouviu tudo, ofereceu o besouro amarrado ao garoto.
Como retribuição, a dama de companhia do nobre garoto,
deu a Yosaku três laranjas.
-Nossa,
três laranjas deliciosas por um besouro e tiras de palha.
O jovem então amarou as laranjas com a palha que sobrou
num galho, botou no ombro e saiu andando. Pouco depois encontrou
uma senhora distinta acompanhada por um criado. Ela estava lastimando
sentada a beira da estrada.
-Ai
que sede! Quero beber água, não agüento mais
essa garganta seca. Vou desmaiar, água por favor.
O criado
que a acompanhava disse que já havia percorrido toda redondeza
e não encontrou nenhum poço ou riacho.
Yosaku
estendeu as laranjas para a senhora dizendo:
-Tenho essas laranjas, se servir para amenizar sua sede, sirva-se
por favor.
A dama chupou avidamente as laranjas e sua palidez foi passando.
Assim que estava totalmente recuperada, a senhora lhe agradeceu:
-Se
o senhor não passasse por aqui com essas laranjas, a esta
hora eu já estaria morta. Gostaria de recompensá-lo
condignamente, mas aqui nada tenho além dessas peças
de pano, por favor aceite como prova de minha gratidão.
Yosaku
que nunca tinha visto peças de seda pura, ficou maravilhado.
-Nossa, três peças de seda por três laranjas,
hoje é meu dia de sorte. Só pode ser obra da Deusa
Kannon.
Continua...
|