No tempo do Japão mitológico, havia no fundo do
mar um famoso palácio conhecido como Ryugyu, o Palácio
do Dragão, cujo senhor era Shiyozushi no Kami, o deus das
Águas e do Mar. Sua bela filha Toyotama Hime, a princesa
Alma Luxuriante, ficou muito doente e os melhores remédios
do fundo do mar não conseguiam curá-la. Em uma reunião
com todos os habitantes do fundo do mar, ficou-se sabendo que
o fígado de macaco eram um excelente remédio, que
curava todos os males. A dona Água-viva foi a escolhida
para a nobre missão de atrair um macaco para o palácio.
A idéia
era pegar o macaco por uma das suas fraquezas: a gula. Ela teria
de convidá-lo para um banquete no Palácio do Dragão,
dizendo que estaria cheio de castanhas e caqui. Chegando na ilha
de Seto ela logo conseguiu convencer um macaco a acompanhá-la.
-Suba
e vamos embora, disse a água-viva toda feliz, certa de
que tinha conseguido enganar o macaco.
Ela
foi nadando durante algumas horas e o macaco começou a
sentir cansaço e reclamar que estava demorando.
Para
entreter o macaco a água -viva falava sem parar e deixou
escapar uma pergunta indevida.
-É verdade que você possui um tal de fígado?
-Sim
é claro todos os bichos têm fígado.
-Ah! Mas do macaco é muito importante.
-Como
assim, por que importante?
-Ah, não leve em conta. Eu disse o que não devia.
O macaco muito esperto ficou desconfiado do repentino corte na
conversa e disse:
-Minha
amiga, gostaria muito de saber porque fígado de macaco
é tão importante.
-Não sei se devo dizer. É um segredo.
-Veja
aceitei seu convite de todo coração e acho que você
está sendo descortês ao negar uma explicação
para seu convidado.
-Está
bem, se guardar segredo é falta de educação,
vou dizer só para você. Na verdade a Princesa Toyotama
está muito doente e o melhor remédio para curar
a doença dela é fígado de macaco. Por isso
vim para buscá-lo.
O macaco
ficou muito assustado, mas com seu jeito cínico de ser,
fingiu tranqüilidade e disse:
-Ah!
Eu não sabia que meu fígado era um santo remédio
para a princesa. Se soubesse eu teria trazido comigo. Se você
tivesse dito antes eu não teria deixado o fígado
no galho da árvore.
-Mas
você não trouxe o fígado?! Ora então
não vai adiantar nada ir até o palácio.
-Ora vamos voltar para pegar o meu fígado.
Dona
Água-viva já não agüentava o peso do
macaco em suas costas, mas deu meia volta e rumou em direção
da ilha. Quando chegou o macaco subiu na árvore com pretexto
de apanhar o fígado e ficou deitado no galho folgadamente.
-Ei
macaco parece que você vai tirar uma soneca. Desça
logo daí com o fígado.
-Olha
mudei de idéia, não vou mais para o Palácio
do Dragão. Vou sair pulando de galho em galho, por todas
as ilhas avisando os macacos para não cair na sua conversa.
Dizendo isso o macaco fez caretas para a água-viva e saltou
de galho em galho até desaparecer.
No
palácio todos os habitantes do mar esperavam ansiosamente
pela Água-viva. Ficaram decepcionados quando ela chegou
sozinha e de mãos vazias.
-O
que vamos dizer agora para Deus do Mar que nos encarregou dessa
importante missão?! Preocuparam-se todos.
A água
viva contou detalhadamente que vinha trazendo o macaco, mas no
meio do caminho falou demais e o macaco conseguiu enganá-la.
Os
habitantes do mar resolveram dar uma surra na água-viva
para ela aprender a não ser tão burra e tão
linguaruda. Bateram tanto que quebraram todos os ossos que ela
tinha.
Reza
a lenda que, desde então, a água-viva ficou com
o corpo mole e sem ossos como é atualmente...
Fim!
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