No folclore japonês
Kaminari (trovão) é personificado por um ser demoníaco,
de cor verde. Conta uma lenda que numa tarde de verão,
no povoado de Owari no Kuni (País de Owari, atual província
de Aichi), depois de uma chuva torrencial um lavrador encontrou
uma criatura que de certo modo lembrava o oni (demônio),
porém se diferenciava pela sua pele de cor verde. O lavrador
então lembrou que aquela criatura só podia ser um
trovão. Cuidou de seus ferimentos e o hospedou em sua casa.
Quando já estava recuperada a criatura disse ao lavrador
para fazer um pedido. O homem não hesitou e pediu um filho.
NOVE
MESES DEPOIS
Durante
muitos meses a casa do lavrador era só alegria. A medida
que a barriga da sua mulher ia crescendo, o lavrador ficava mais
ansioso, pelo filho que estava para chegar. Cada trovoada ele
levantava a cabeça para as nuvens e agradecia mentalmente
ao trovão.
Finalmente
chegou o grande dia e nasceu um menino muito forte. O garoto cresceu
sendo tratado com muito carinho. O menino gostava muito de estudar,
mas como não havia escola na região foi enviado
para um mosteiro budista, como aprendiz de monge. Ali todos se
espantavam com a incrível força que tinha o garoto.
Comentavam que sua força era equivalente a de cinco adultos
juntos.
Naquela
época, todas as noites, as pessoas que habitavam o mosteiro
estavam sendo amedrontadas por um terrível oni. O malvado
torturava os noviços que iam bater o sino, mordendo lhes
as orelhas, quebrando as pernas ou arrancando os cabelos. Assim,
com medo do ataque do demônio, o sino que era uma referência
da hora de jantar para os lavradores da região, havia silenciado
já há algum tempo.
Ficando
sabendo da história o filho do lavrador que era forte e
destemido, pediu ao monge superior que o deixasse bater o sino
todas as noites.
-Está
bem, mas não quero que se machuque inutilmente. Se o Oni
aparecer corra para dentro do mosteiro.
Quando
a noite chegou, o menino subiu o morro dos pinheiros onde ficava
o grande sino e começou a bater. Logo apareceu o demônio
irritado com o som vibrante do grande sino e agarrou o garoto
por trás, pela gola da vestimenta. O menino girou o corpo
e agarrou a cabeça do demônio. A reação
surpreendeu o oni que estava acostumado com choro e tentativa
de fuga dos noviços.
O menino
era tão forte que o demônio sentiu-se sufocado com
o apertão que ele lhe dava na cabeça. Então
o demônio agarrou o menino pelos cabelos e puxou com toda
força, para se livrar dele. Porém o garoto não
desgrudou e foi um puxa-puxa sem fim. Percebendo que o garoto
era forte demais, o demônio tentou fugir correndo, porém,
o menino, abraçou um tronco de árvore com as pernas
enquanto apertava com força a cabeça do adversário.
Quando
o galo cantou anunciando o amanhecer, o oni que não suporta
o sol, deu um berro apavorado e saiu na disparada, deixando o
próprio braço pendurado no couro cabeludo do menino.
Quando o sol se levantou, os monges do mosteiro que sofreram a
noite inteira ouvindo gritos horríveis de luta, se aproximaram
preocupados. O garoto estava com a o braço do demônio
e sorridente pela vitória.
Há
quem diga que essa lenda se refere à infância de
Mussashi-bo Benkei, um monge de força espantosa que teria
vivido no período Heian (784-1192). A única certeza
de tudo isso é que desde então, nunca mais apareceu
nenhum oni nas proximidades do mosteiro Genkoji, e a paz voltou
à região de Owari.
Fim...
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