No
folclore japonês Kaminari (trovão) é personificado
por um ser demoníaco, de cor verde, que carrega um arco
de tambores ou um saco de vento e gosta de correr fazendo muito
barulho sobre as nuvens, onde habita. Diziam as mães japonesas
da Antigüidade que, esses seres costumavam comer o umbigo
dos seres humanos, portanto, em dia de chuva, era comum ouvir
as mães prevenir aos filhos para se vestirem senão
o trovão viria pegar seus umbigos.
Conta uma
lenda nipônica que numa tarde de verão, há
muitos e muitos anos atrás, o céu escureceu repentinamente,
e das nuvens negras que tomaram conta do infinito, muitos relâmpagos,
raios e trovoadas assustaram um povoado de Owari no Kuni (País
de Owari, atual província de Aichi). Na ocasião,
um jovem lavrador que trabalhava em sua roça, para se se
proteger da chuva torrencial que começou a desabar, correu
para baixo de uma árvore. Nisso um raio acompanhado de
um barulho ensurdecedor caiu nas proximidades, pregando um grande
susto no jovem, que se atirou ao chão tremendo de medo.
Passado a
chuva de verão, o lavrador levantou-se cautelosamente e
notou que por perto havia algo brilhante tentando se movimentar.
Ao se aproximar, deparou com uma criatura estranha, feia, que
de certo modo lembra o oni (demônio), porém diferenciava
pela sua pele de cor verde.
O lavrador
então lembrou que aquela criatura só podia ser um
trovão, criatura barulhenta que habita sobre as nuvens.
A cena era inacreditável, um trovão havia caído
das nuvens e se contorcia de dor mesmo desmaiado. O lavrador então
correu até a mata próxima e trazendo ervas medicinais,
esfregou na pele dura do trovão, principalmente no lado
em que havia esborrachado no chão. A erva agiu como um
bálsamo e pouco tempo depois, o trovão abriu os
olhos e levantou-se com grande esforço. Vendo o jovem lavrador,
o trovão curvou-se agradecendo o tratamento recebido.
-Muito obrigado,
a erva que esfregaste em mim aliviou minha dor. Eu estava correndo
animadamente nas nuvens e não percebi que havia um vão
maior que meu passo. Então despenquei por puro descuido.
-Fico satisfeito
que tenha se recuperado e curioso para saber como conseguirá
voltar às nuvens.
-Vou precisar
mais uma vez de sua ajuda. Preciso que construa um barco com a
madeira da canforeira, depois encha de água e cubra com
galhos e folhas de bambu.
O trovão
ficou hospedado na casa do lavrador enquanto esse construía
o barco. Alguns dias depois o serviço estava quase concluído.
-Puxa! Está
pronto! Que barco bem feito. Enquanto eu descansava para recuperar
minhas forças, você fez um belo trabalho. Gostaria
de agradecer realizando algum desejo para você. Peça
o que quiser, sem cerimônia.
-Bem, nesse
caso, gostaria de ter um filho, pois minha mulher e eu estamos
casados a alguns anos e ainda não temos filho.
-Não
se preocupe, seu desejo será realizado com certeza. Dizendo
isso o trovão apanhou o galho de bambu cheio de folhas
e começou a mexer na água que o lavrador havia colocado
no barco de cânfora. Do movimento circular que ele fazia,
começou a sair uma densa neblina e foi subindo em direção
do céu. Nisso o trovão subiu na neblina e foi levado
até desaparecer no meio das nuvens.
Continua...
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