Há
muitos e muitos anos havia numa aldeia um menino chamado Shinta
que vivia com sua mãe viúva. Eram pobres pois não
tinham o pai para sustentar. Apesar das dificuldades ele era um
garoto alegre e malabarista. Gostava de ficar de ponta cabeça,
plantando bananeira, e vendo o mundo às avessas.
Certa ocasião
sua mãe ficou doente e muito abatida. Pediu ao menino que
fosse até a casa do tio Gonzo pedir dinheiro emprestado,
pois o pouco de arroz que tinham havia terminado.
Seu tio Gonzo
era uma pessoa mesquinha. Apesar de ter bastante dinheiro guardado
era avarento demais para emprestar a quem quer que fosse. Então
recusou de pronto o pedido de empréstimo do sobrinho. O
menino saiu chateado e preocupado com a mãe doente que
ficaria mais abatida ainda ao saber da recusa do tio. Então
para esquecer tantas dificuldades, plantou bananeira e foi descendo
a ladeira andando com as mão aos invés dos pés.
Era um modo tentar entender esse mundo de tantas diferenças
sociais.
Nisso apareceu
em sua frente Zenchi no Mikoto, o deus da Graça Divina,
flutuando meio metro acima do solo, com sua comprida barba branca.
-Ei garoto. Você é o melhor plantador de bananeira
que JÁ encontrei. Merece um prêmio.
Assim dizendo
a divindade celeste ofereceu um par de guetá (tamanco japonês)
velho. O menino pensando que se tratava de uma raposa praticando
ilusionismo para enganá-lo recusou a oferta alegando que
o guetá estava muito surrado..
-Ora, garoto, isso não é um guetá comum,
trata-se de um guetá mágico que o Mago Shamon, me
pediu para entregar a uma pessoa necessitada que tenha bom coração.
-Nossa, um
guetá encantado?!
-É isso aí. Se você calçar esse guetá
e tropeçar, vai surgir uma moeda de ouro. E cada vez que
esse gesto se repetir vão aparecer moedas de ouro. Mas
preste atenção, na natureza nada acontece por acaso,
portanto cada vez que a pessoa que tiver calçado o guetá
mágico cair, vai encolher um pedaço do corpo, equivalente
ao tamanho da moeda. Então se cair demais, vai ficar tão
pequeno e não conseguirá retornar mais ao seu tamanho
normal. Assim dizendo o deus Zenchi foi se tornando transparente
e desapareceu diante o olhar atônito do menino.
O garoto não
acreditou muito na história, porém calçou
o guetá , já que estava descalço. Assim foi
embora para sua casa. Chegando lá contou para a mãe
que o tio não quis emprestar o dinheiro. Sua mãe
confessou que não esperava que o avarento emprestasse alguma
coisa.
-Filho, que
guetá é esse que está calçado? Onde
conseguiu?
Quando o menino ia tirar o calçado dos pés para
mostrar e explicar o que aconteceu, desequilibrou e caiu no chão.
Nesse momento, como por encanto, uma moeda de ouro surgiu perto
do seu pé.
-Nossa! Ele
disse a verdade, esse guetá é realmente mágico.
Gritou Shinta todo entusiasmado. A alegria era tanta que ele deu
um salto no ar e caiu outra vez. Quando tentou levantar, desequilibrou
e caiu de novo. A cada tombo a moedas de ouro apareciam tilintando.
Quando finalmente conseguiu ficar de pé, tinha cinco moedas
de ouro.
-Veja mãe
é graça recebida do deus Zenchi no Mikoto. Com isso
podemos comprar comida e remédio para senhora!
Assim o menino
guardou o par de guetá no santuário caseiro e saiu
para fazer compras. Encheu as despensas, comprou remédio
para a mãe e mandou preparar muito moti (bolinho de arroz
glutinoso) para distribuir aos vizinhos.
A notícia
de que o garoto Shinta tinha ganhado um guetá mágico
se espalhou por toda aldeia e chegou ao conhecimento do avarento
tio. Este sem perder tempo foi para casa do sobrinho atrás
do guetá. Entrou sem cerimônia na casa e saiu revirando
tudo até encontrar aquele objeto encantado.
-Há,
então é esse par de guetá que produz moedas
de ouro! Vou levar emprestado.
-Tio esse guetá não pode ser muito usado. Existe
um limite, se não respeitar é perigoso.
Sem dar ouvidos
ao aviso do sobrinho o homem ganancioso levou o guetá mágico
para sua casa. Tratou de calçar o guetá e a cair
seguidamente tropeçando sem parar. As moedas de ouro tilintavam
caindo uma sobre as outras. Quanto mais apareciam moedas aparecia
o homem caia feito um doido e gargalhava de alegria. Assim o chão
da casa foi ficando forrado de moedas de ouro.
Preocupado
com o que poderia acontecer com seu guetá, o menino foi
para a casa do tio. Chamou pelo tio mas como ninguém respondeu
resolveu entrar. A casa parecia deserta. Realmente não
havia ninguém. Quando chegou na sala levou um susto. O
assoalho estava repleto de moedas de ouro. Mexendo nas moedas
encontrou o par de guetá, mas nada do seu tio.
O garoto apanhou
seus guetás e resolveu ir embora. Quando estava saindo
viu um inseto estranho sobre uma moeda, era tão pequeno
quanto uma formiga. Pensou em verificar que tipo de inseto era
aquele, mas ouviu a voz de sua mãe lhe chamando e foi de
encontro dela.
-Oh! Mamãe
você está de pé!, Está de bom aspecto,
que alegria!
-Graças aos remédios que você comprou para
mim, meu filho!
Mãe e filho caminharam felizes de volta a casa.
Conta a lenda
que o tio Gonzo caiu tanto que foi diminuindo até tornar-se
do tamanho de um pequeno inseto. Dizem que esse inseto tem a cara
do tio Gonzo, por isso ainda hoje no Japão, existe um inseto
chamado o Gonzo Mushi.
Fim!
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