No antigo
Japão, na região de Yamato, havia uma pequena aldeia
chamada Zenchi-murá, cercada de florestas e montanhas por
todos os lados. Por ser muito difícil chegar lá,
a aldeia ficou completamente isolada do resto do país durante
séculos. Esse fato fez com que o dinheiro perdesse totalmente
seu valor até que finalmente deixou de existir. Tudo que
as pessoas precisavam eram trocados. Tudo que era cultivado ou
produzido era trocado por outros produtos ou por serviços.
Como não
existia dinheiro, ouro e pedras preciosas perderam também
seu valor. A coisa mais valiosa do local era o amor ao próximo.
Assim, a aldeia vivia na mais perfeita harmonia porque todos faziam
questão de demonstrar esse amor. Os habitantes do local
sabiam cultivar bonsai, pois era uma arte passada de pai para
filho durante várias gerações e a Zenchikyô
(Seita Zenchi) o empregava para meditação terapêutica,
unindo a aura da planta com a aura humana.
Não
se sabe a partir de quando, porém, curiosamente - pelo
fato de o bonsai ser uma árvore tratada com carinho e é
símbolo de longevidade - passou a simbolizar o amor ao
próximo. Era comum, então, as pessoas presentearem
outras com um vaso de Zenchi-bonsai sem esperar nada em troca.
As pessoas
davam seu melhor bonsai (amor ao próximo), pois sabiam
que receberiam outros a qualquer momento ou dia. Assim os Zenchi-bonsais
da aldeia circulavam de casa em casa, sendo tratados com todo
carinho por onde passavam.
Um dia, um
jovem da aldeia se perdeu na floresta e depois de muito caminhar,
foi parar numa grande cidade, além das montanhas. Ao passar
diante de uma mansão, viu belos bonsais no jardim e ficou
impressionado. Pediu ao jardineiro que lhe desse uns vasos, pois
queria presentear as pessoas da sua aldeia.
O jardineiro
explicou que isso era impossível pois aqueles bonsais valiam
uma fortuna. Ao ouvir a história do moço sobre os
bonsais de sua aldeia, o jardineiro aconselhou a não dá-los
e apenas receber dos outros, assim ele se tornaria a pessoa mais
rica da aldeia, pois poderia vendê-los quando quisesse nas
grandes cidades
Iludido pelas
palavras do jardineiro, o rapaz, que era uma das pessoas mais
populares e queridas da aldeia, passou a juntar bonsais (amor
ao próximo) e em pouquíssimo tempo o quintal de
sua casa estava repleto de bonsais, tornando-se até difícil
de circular nele.
Então,
quando a aldeia já estava praticamente sem Zenchi-bonsais
(amor ao próximo), as pessoas começaram a guardar
os poucos que tinham e toda a harmonia da cidade desapareceu.
Sem Zenchi-bonsais (amor ao próximo) surgiram a ganância,
a desconfiança, o primeiro roubo, o ódio, a discórdia,
e as pessoas brigavam pela primeira vez e passaram a ignorar-se
pelas ruas.
Como era o
mais querido da aldeia, o rapaz foi o primeiro a sentir tristeza
e solidão. Então atravessou a montanha e foi procurar
o jardineiro para perguntar se aquilo fazia parte da riqueza que
ele tinha acumulado.
-Ora meu bom
jovem, esqueça a tristeza e a solidão, traga seus
bonsais para cá e venda aos nobres da corte, que você
vai ganhar uma montanha de dinheiro.
-Com esse
todo esse dinheiro poderei comprar a amizade, felicidade e harmonia?
-Claro que não. O dinheiro só compra coisas materiais,
respondeu o jardineiro.
Diante da
resposta, o moço da aldeia tomou uma decisão. Colocou
os Zenchi-bonsais (amor ao próximo) num carrinho de mão
e caminhou por toda aldeia distribuindo aleatoriamente os bonsais.
A todos que dava, ele apenas dizia:
- Obrigado por receber o meu Zenchi-bonsai (amor ao próximo)
Assim, sem
medo de acabar com seus bonsais, ele distribuiu até o último
amor ao próximo, sem receber um só de volta. Sem
que tivesse tempo de sentir solidão e tristeza novamente,
alguém caminhou até ele e lhe deu um Zenchi-bonsai
(amor ao próximo).
Um outro fez
o mesmo... Mais outro... e outro... até que definitivamente
a aldeia voltou a ser feliz novamente.
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