Sobre a dança
folclórica japonesa, de participação coletiva
e popular chamada bon odori, existe uma lenda contada no sutra
Urabon-kyô que fala de um monge zen, chamado Mokuen, que
se destacava dos demais por ter uma poderosa visão transcedental.
Ele se concentrava e seu espírito tanto podia viajar por
mundos desconhecidos como ter a visão do que estava acontecendo
em qualquer dimensão.
Pouco tempo
depois que sua mãe faleceu, ele resolveu usar o seu poder
para ver em qual plano astral estava o espírito dela. Por
ser uma pessoa muito bondosa, Mokuen imaginou que ela estivesse
no décimo Plano Astral, ou Nirvana, onde se encontra Buda.
Qual não foi sua surpresa ao constatar que sua mãe
renascera no segundo Plano Astral, na dimensão dos Gaki
(demônios famintos). Os seres que habitam esse mundo são
esfomeados e sofrem de eterna sede. Ao ver sua amada mãe
naquela situação de penúria, Mokuen, que
tinha o dom de fazer viagem astral, levou comida para ela. Porém,
um fato inesperado aconteceu e aumentou o sofrimento de Mokuen:
cada vez que a mãe experimentava um pouco de comida que
o filho havia trazido, o alimento se transformava em fogo e queimava
a boca dela.
Durante uma
oração prolongada, Mokuen pediu a Buda que ajudasse
a aliviar a dor e o sofrimento de sua mãe. Buda, então,
aconselhou-o a, no dia 15 de julho, manter todos os monges da
localidade enclausurados dentro de um grande mosteiro, e que eles
ficassem pelo menos por um dia sem pisar nos pequenos insetos
e nas flores.
No dia combinado,
Mokuen chamou todos os monges da região para o grande mosteiro,
dizendo que ia lhes oferecer um banquete em homenagem à
sua falecida mãe. Foi feita tanta comida que os monges
passaram o dia inteiro comendo, bebendo e cantando, e ninguém
se lembrou de sair do mosteiro. Quando o dia terminou, o espírito
de sua mãe apareceu para ele transformada em um ser do
sexto Plano Astral. Ela estava iluminada e tão leve que
chegava a flutuar.
Ao ver sua
mãe tão iluminada e flutuando como um tyôtin
(lanterna japonesa) ao vento, Mokuen ficou tão feliz que
começou a dançar de alegria.
Os monges,
que estavam alegres de tanto comer e beber, gostaram da dança
de Mokuen e saíram dançando atrás dele. Acabaram
por formar uma grande roda simbolizando o círculo da felicidade.
Assim surgiu o bon odori, como dança que faz homenagem
ao espírito de pessoas falecidas.
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