No
tempo em que mestre Shamon, da seita Zenchi, ainda era jovem e
recém-ordenado monge, foi enviado para o templo Ehiko-san,
na ilha de Kyushu, para exercer o sacerdócio pela primeira
vez. Próximo do monte onde se localizava o templo, havia
uma aldeia com poucos moradores e entre eles uma linda garota.
Pouco tempo
depois, descobriram que a garota estava grávida. Os pais,
enfurecidos, pressionaram a menina, até que ela, depois
de muito resistir, acabou confessando quem era o responsável
pela sua gravidez:
- Foi o jovem
monge Shamon.
A surpresa foi total, pois o monge era muito bem conceituado na
aldeia, tido como inteligente e o mais solícito entre os
religiosos do templo.
Acompanhado
de uma comitiva de curiosos da aldeia, os pais da garota se dirigiram
ao templo, fizeram um escândalo diante do altar e acusaram
o monge de abusar da ingênua garota.
-Sô dessu ká? respondeu Shamon, com essa frase
que significa é mesmo?.
Nove meses
se passaram e quando a criança nasceu, os pais da garota,
acompanhados de uma comitiva de curiosos, levaram a criança
para Shamon.
- Se você não fosse um monge pobretão, eu
exigiria que se casasse com minha filha.
-Sô
dessu ká? (é mesmo?) respondeu o monge.
- Mas mesmo sendo monge pobretão, exijo que tome conta
dessa criança, pois é o seu filho disse o
pai da mocinha, entregando a criança.
- Sô
dessu ká? respondeu calmamente Shamon, acatando
a criança.
Shamon cuidou do bebê com muito amor e carinho, preparando
leite de papa de arroz todos os dias e tudo que a criança
necessitava. Na aldeia, o mal conceito que passaram a fazer de
Shamon, desde que souberam que a criança era dele, foi
aos pouco se amenizando, diante da dedicação dele
para com a criança.
Mais nove
meses se passaram e a garota teve uma crise de consciência,
não suportando mais carregar o fardo da mentira. Confessou
para seus pais e para uma comitiva de curiosos que o verdadeiro
pai era o filho do chefe da aldeia.
Os pais e
a comitiva correram para o templo. Constrangidos, pediram a devolução
da criança e, pedindo perdão, contaram o que tinha
acontecido.
Ao devolver
a criança calmamente, tudo que Shamon disse foi:
- Sô dessu ká?
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