-
Dias atrás, quando estive aqui e o senhor me pediu para
conseguir uma chaleira, voltei pensando em como seria difícil
conseguir uma de Segunda mão, já que as chaleiras
de ferro duram a vida inteira e poucas pessoas se desfazem delas.
Quando cheguei na aldeia, deparei com um bando de meninos que
ameaçavam que iriam judiar de uma menina assustada.
-Meninos,
parem com isso- gritei. Os meninos então foram embora.
Mas a menina também tinha desaparecido. Enquanto procurava
por ela, encontrei uma chaleira exatamente como eu tinha imaginado
em conseguir para o senhor.
-Onde entra o texugo encantado nessa história, Jimbei ?
-Sabe
Osho-san, levei a chaleira para casa e resolvi testar sua resistência
antes de trazer para vender ao senhor. Assim que coloquei no fogo,
com grande surpresa descobri que a chaleira na verdade era um
texugo encantado.
-É uma grande coincidência, pois você procurava
uma chaleira e encontrou uma encantada.
-Não
foi bem assim Osho-san. A menina que salvei dos meninos malvados,
era na verdade o texugo encantado. Ele estava transformado em
menina para pregar peça na escola e foi descoberto pelos
meninos. Perseguido, cruzou meu caminho. Deve ter lido meu pensamento
e transformou-se numa chaleira para se esconder dos meninos e
para que eu o levasse para casa para protegê-lo.
-Mas
sabendo que era um texugo encantado, por que vendeu para mim?
-Peço mil perdões Osho-san, o senhor é um
santo homem, e eu não consegui dormir depois que lhe vendi
a chaleira ontem. Por isso vim correndo para me desculpar com
o senhor.
-Está
perdoado, devolva-me o dinheiro e leve sua chaleira encantada
de volta.
-Aí que está a razão da minha mentira. Já
gastei o dinheiro.
-Mas como Jimbei, você é muito mais irresponsável
do que imaginei.
-Na
verdade Osho-san, a idéia de lhe vender a chaleira nem
foi minha. Foi do próprio texugo que queria me beneficiar
de alguma forma, por ter salvo dos meninos malvado. E sabendo
que eu tinha uma conta para pagar ontem e se não o fizesse
correria risco de vida, o texugo sugeriu que lhe vendesse a chaleira.
Assim ele ficaria morando nesse pacífico mosteiro e estaria
bem para todos. Concordei pensando que o senhor apenas iria deixar
a chaleira apenas como objeto de apreciação. Assim
durante o dia, o texugo ficaria na estante e a noite, quando todos
dormissem, poderia passear a vontade.
-Se
eu não tivesse botado a chaleira no fogo, a farsa duraria
por muito tempo.
-Não Osho-san, eu fiquei muito arrependido de tê-lo
enganado. Agora não tenho o dinheiro para lhe devolver
e tenho um texugo todo chamuscado. Não sei o que fazer
para merecer o seu perdão.
-Jimbei,
sei que você é um bom homem, quando tiver dinheiro
me traga ou consiga uma chaleira de verdade para mim.
Assim Jimbei, o sucateiro, voltou para sua casa levando a chaleira
encantada. Lá chegando o texugo voltou para sua forma animal
e começou a lamentar:
-Ai está ardendo, estou todo queimado.
Enquanto
passava ervas medicinais nas queimaduras do texugo, Jimbei o aconselhava
a voltar para a floresta e parar de enganar os seres humanos com
sua ilusão transformista. O texugo dizia que não
poderia voltar para a mata, sem antes pagar sua dívida
de gratidão para com Jimbei, que o salvara dos meninos
e tratara suas queimaduras.
Jimbei
estava preocupado em como poderia pagar o monge do mosteiro, quando
o texugo lhe sugeriu:
-Que
tal você abrir um teatro com espetáculos circenses.
Poderia ganhar muito dinheiro cobrando entrada nas apresentações.
-E que espetáculos seriam estes?
-A dança da chaleira equilibrista em corda bamba! E outras
atrações.
-É parece uma boa idéia, não custa nada tentar.
Após
alguns dias de treinamento, o teatro improvisado foi inaugurado
com a presença de grande público infantil. Devido
o sucesso do espetáculo, viajaram para se apresentar em
várias cidades. E assim, Jimbei ganhou muito dinheiro.
Um
dia resolveram parar porque já estavam cansados de trabalhar.
Jimbei levou a chaleira ao templo e contou toda história
de sua trajetória a Osho-san, doando ao templo metade do
dinheiro que havia ganho com os espetáculos.
Ainda
hoje, passados vários séculos, a chaleira encantada
está guardada no templo Morin-ji, como tesouro artístico
do templo ao lado de pinturas e esculturas.

Fim
|