Quando
fazia peregrinação pelos 88 templos da ilha de Shikoku,
Mestre Shamon sentiu-se meio atrapalhado quanto à localização
e resolveu perguntar, por qual caminho seguir, numa aldeia próxima
de um grande castelo feudal.
O dono
do castelo, um grande senhor feudal, ficou sabendo que Mestre
Shamon passava por suas terras e resolveu questioná-lo:
- Mestre,
diga-me, onde está o Eu?
Shamon, então, pediu delicadamente que o feudatário
trouxesse um carro de boi. Assim que os serviçais do castelo
trouxeram um carro de boi, o mestre perguntou:
- O
que é isso?
- Qualquer um sabe que é um carro de boi - respondeu o
senhor feudal.
Shamon pediu, então, que retirassem o boi que puxava o
carro e perguntou:
- O
boi é o carro ?
- Claro que não - respondeu o feudatário.
O mestre pediu que as rodas fossem retiradas.
- As
rodas são o carro?
- Lógico que não, mestre.
O mestre pediu que retirassem o assento.
- O assento é o carro?
- Não, o assento não é o carro, mestre.
Finalmente apontou para o eixo e falou.
- O
eixo é o carro?
- Não, mestre, não é.
- E onde está o carro?
- Não existe mais. Desmontado, ele não existe.
Então o sábio concluiu:
- Da
mesma forma que o carro, o Eu não pode ser
definido por suas partes. O Eu não está aqui, não
está lá.
O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe
por
si só. E não existindo, ele existe.
Dito
isso, ele começou a se afastar do surpreso senhor feudal.
Quando estava já afastado, voltou e perguntou-lhe:
- Onde Eu estou?
|