Certa
ocasião, no mosteiro de Ryonji, da Seita Zenchi, na região
norte da ilha de Shikoku, havia um aprendiz de monge que agia
de maneira pouco educada e provocava o descontentamento da comunidade.
Mestre Shamon, então, resolveu repreendê-lo com severidade,
enclausurando-o numa minúscula cabana que ficava no bosque
do mosteiro, com a recomendação de que o jovem refletisse
sobre seu comportamento para não mais causar desconforto
a outros monges.
Assim,
o noviço passou uma semana recebendo diariamente uma tigela
de arroz, que era deixada numa abertura embaixo da porta. Apesar
de bastante revoltado nos primeiros dias, com o passar do tempo
sua cabeça foi esfriando e ele passou a refletir sobre
seu comportamento e concluiu que realmente havia passado dos limites.
A solidão daquela cabana isolada no bosque fez nascer no
coração do jovem um sentimento de arrependimento
pela sua rebeldia.
Ele
estava preparado para, quando saísse, pedir desculpas a
todos os monges e começar uma vivência harmoniosa
na comunidade. Porém, passaram-se alguns meses e ninguém
vinha para libertá-lo, simplesmente deixavam, em silêncio,
a tigela de arroz no buraco e se retiravam.
Quando
completou sete meses, a paciência adquirida na clausura
se esgotou. Ele estava consciente de que havia agido de modo rebelde
e mereceu o castigo, porém, suas atitudes não foram
tão graves a ponto de ter que ficar trancafiado durante
tanto tempo como um criminoso. Agora quem passou
dos limites foi o Mestre Shamon. Vou sair daqui na marra e jogar
na cara dele tamanho absurdo.
Assim,
tomou distância e investiu com toda força, atirando
seu ombro contra a porta, para arrebentá-la. Porém,
a porta se abriu no primeiro toque e o jovem monge só então
percebeu que a porta estava aberta desde que ali chegara.
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