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fim do período Heian (792 a 1192), no Japão, quando
a aristocracia cedia espaço no poder à classe guerreira
e a influência do clero começou a ser questionada
por muitos, um valente membro do clã Guenji cruzou com
Mestre Shamon, da Seita Zenchi, em um pequeno templo próximo
de Kyoto, então capital do país. Pensando que Shamon
era na verdade Taira no Kiyonori, o arquiinimigo de sua família,
disfarçado para fugir do exército de Minamoto no
Yoritomo, que avançava para aquela cidade, resolve provocá-lo
para ver se descobria alguma coisa.
- Monge,
ensine-me sobre o céu e o inferno – disse com voz
autoritária o encorpado e forte guerreiro.
Mestre
Shamon coçou a cabeça fazendo cara interrogativa
e respondeu com pouco caso:
- Eu
tenho mais o que fazer, do que perder tempo ensinando sobre céu
e inferno para idiotas. Você tem cheiro de carniça,
sua espada tem lâmina enferrujada, sua aparência desleixada
envergonha a classe guerreira e você devia aprender pelo
menos a usar a espada em vez de querer aprender sobre céu
e inferno.
O guerreiro
ficou visivelmente enfurecido. Até aquele momento, nenhum
ser tivera coragem de dirigir-lhe palavras tão agressivas.
Vermelho e tremendo de raiva, espumando pelo canto da boca retorcida
de ódio, fulminou o monge com o olhar vingativo e sacou
a espada da cintura. Levantou a arma com as duas mãos para
cima da cabeça, e tomou posição de ataque
para decapitar o Mestre Shamon.
- Neste
momento você vive o inferno – disse o monge calmamente.
O guerreiro
ficou desconcentrado. O desapego e absoluta dedicação
em mostrar um caminho, praticado pelo monge, que colocava em risco
a própria vida para lhe ensinar sobre o inferno o emocionou.
O samurai entendeu, então, que estava diante de um verdadeiro
mestre e não de um general disfarçado. Assim, foi
lentamente abaixando a cabeça enquanto abaixava a espada,
e ao mesmo tempo agradecendo aos deuses por não ter decapitado
um inocente por engano. Respirou fundo e experimentou uma sensação
de alívio e paz.
- Neste
momento você vive o céu – completou o mestre.
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