Uma
voz de pardal respondeu: Kotirá de gozaru
(É aqui, é pra cá). Em seguida, o pardal
apareceu e disse:
- Seja
bem-vindo, Ojiissan!
- É você, pardalzinho, sua língua deve estar
ardendo. Eu trouxe um remédio de ervas.
- Não se preocupe, meu bom velhinho, me curei com o incrível
remédio da hospedaria dos passarinhos.
O pardal,
em agradecimento pelo fato de o velhinho tê-lo salvo do
corvo malvado, serviu um grande banquete no salão da hospedaria.
Em seguida, vários pardais se reuniram e fizeram apresentações
artísticas, cantando e dançando. O velhinho ficou
muito contente com a bela recepção que recebeu.
- Que
bom que você está bem. Assim posso ir embora tranqüilamente.
Preciso ir embora antes que escureça.
O pardal, que estava sentado entre um baú enorme e um baú
pequeno, disse:
- Gostaria que o senhor aceitasse uma lembrança de sua
visita à hospedaria dos passarinhos. Por favor, escolha
um destes baús.
- Oh!
Muito obrigado. Vou aceitar de todo coração. Como
sou velho prefiro o baú menor, o maior é muito difícil
de carregar até a minha casa.
- Volte sempre, Ojiissan. Muito obrigado por tudo que fez por
mim.
Carregando o pequeno baú, o velhinho percorreu o longo
caminho até chegar, ao entardecer, à sua casa.
- Desculpe-me
a demora, Obaassan, não queria causar preocupações.
Veja, eu trouxe um presente. Em seguida, o velhinho contou para
a mulher o que tinha acontecido e abriu a tampa do baú.
Para surpresa do casal, havia várias moedas de ouro e objetos
de arte. Era um verdadeiro tesouro.
Vendo aquela fortuna a velha logo disse:
- Por
que você não trouxe o baú grande, seu idiota?
Acho que vou até lá buscar.
Com a intenção de trazer o baú grande, a
velhinha saiu correndo na direção indicada pelo
velho. Chegando à margem do rio, disse ao lavador de cavalo:
- Vou
beber sete baldes dessa água, porém, diga logo onde
é a casa dos passarinhos.
Assim, bebeu sete baldes da água suja. E o lavador de cavalo
não entendeu nada, pois não ia pedir que uma mulher
bebesse água suja em troca de uma informação.
- Pergunte
ao lavador de boi que está no rio além daquela mata.
Ele vai lhe indicar a hospedaria dos passarinhos.
A velha, segurando uma enorme barriga dágua, atravessou
a mata. Chegando onde estava o lavador de bois, foi logo bebendo
sete baldes de água suja.
- Bebi
sete baldes de água suja, diga logo onde é a hospedaria
dos passarinhos.
Como não tinha outro jeito, o lavador de boi ensinou onde
ficava o lar dos passarinhos.
Chegando à hospedaria, foi logo agarrando o pardalzinho.
- Ei, pardal, você comeu toda minha cola de engomar roupa,
que tal me oferecer um banquete em retribuição?
O pardal
lembrou da terrível cena em que a velha lhe cortou a língua
e ficou com muito medo.
- Por favor, queira entrar e sentar-se - disse com medo que a
velha lhe fizesse outra maldade.
A velhinha entrou numa sala e, sem cerimônia, disse aos
passarinho que lá estavam:
- Vamos,
tragam-me um banquete delicioso, depressa. E não esqueçam
de me homenagear com belas danças, canções
e presentes.
Com
cara de incomodados, os pardais ofereceram um banquete para a
velhinha e providenciaram dois baús. Enquanto devorava
as iguarias, a velha foi logo dizendo:
- Fico com o baú maior. Deve estar cheio de tesouro.
Depois
de comer e beber até não agüentar mais, botou
o baú maior nas costas e caminhou em direção
à sua casa. Porém, o baú estava pesado demais
e a caminhada não rendia.
- Está pesado, mas não vou desistir.
Com
muito esforço, conseguiu atravessar a mata e caiu sentada
de tanta canseira na beira da estrada.
- Ah, é um esforço sobre-humano. Estou supercansada.
Acho que vou dar uma espiada no tesouro para me dar mais ânimo.
A velha
gananciosa abriu com muita cobiça a tampa do baú.
Quase morre de susto ao ver saindo os mais terríveis monstros
sobrenaturais.
- Vamos devorar essa velha malvada e gananciosa! - disse um terrível
monstro de três olhos, babando com sua enorme boca cheia
de dentes em presa.
- Sim,
uma velha malvada como essa merece uma morte bem sofrida - respondeu
outro monstro com pescoço comprido como cobra, tendo um
único olho na cara e enorme chifre na testa.
- Socorro! Acudam-me! - gritava a velha desesperada.
De
repente, ouviu uma voz chamando por ela. Era a do velhinho que,
devido à demora da mulher, resolveu ir ao encontro dela.
- Obaasan, onde está você?
Ao
ouvir aquela voz, os monstros ficaram apavorados.
- Vamos embora, ou estamos perdidos, é a voz de uma pessoa
bondosa. Pessoa bondosa é nosso pior inimigo, ela tem o
poder de nos dissolver. Fujam.
Como
por encanto, os monstros ficaram transparentes e desapareceram.
A partir desse dia, a velhinha jogou fora sua maldade e tornou-se
uma pessoa muito bondosa. Diariamente, passou a alimentar os pássaros
no quintal junto com o velhinho, e teve uma vida tranqüila
e feliz. Foi muito bom a velhinha ter trocado seu coração
maldoso por um coração bondoso, pois quem cuida
bem dos animais e da natureza, com certeza, é recompensado.
Fim
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