Antigamente,
numa certa aldeia, vivia um casal idoso cujo velhinho era muito
bondoso e trabalhador, porém sua mulher tinha fama de mesquinha.
Toda manhã, bem cedo, ele ia à mata catar galhos
secos e cortava em pedacinhos para fazer lenha. Certa ocasião,
quando fazia esse serviço, ouviu a voz fina de uma ave
que parecia pedir socorro. Olhando bem entre os galhos das árvores,
descobriu que havia um corvo malvado judiando de um pequeno pardal.
O corvo perseguia e dava fortes bicadas na asa e na cabeça
do pardalzinho sem dó nem piedade.
- Xô
bicho nojento, pare com isso! - gritou o velhinho atirando uma
pedra no corvo.
O malvado foi embora voando bem alto, mas o filhote de pardal,
cansado que estava, e com a asa quebrada, ficou no chão
desmaiado. O bom velhinho apanhou o pardalzinho na palma da mão
e levou-o para sua casa. Lá chegando, encontrou a velha
comendo batata doce cozida e tomando chá de ervas.
- Puxa,
chegou cedo hoje, ojiissan!
- Pois é, obaassan, este pardalzinho sofreu ferimentos
causados pelo bico de um corvo e está precisando de tratamento.
- Ora, pensei que meu velho fosse preparar um passarinho assado
no espeto para eu comer - resmungou a velha.
O velhinho
passou remédio na asinha do pardal com todo carinho. Com
o passar dos dias, a ave foi melhorando e o velho tratava o bichinho
como se fosse seu filho.
Certa ocasião, enquanto cortava lenha, foi surpreendido
por um temporal e se refugiou num tronco de uma velha árvore
oca. A chuva não parava e o velhinho não conseguia
voltar para casa.
- Que azar, queria voltar logo para casa, pois o pardal deve estar
com fome...
Mas
o tempo foi passando e nada da chuva passar. Enquanto isso, em
casa, o pardalzinho que estava com muita fome começou a
lamber a goma de farinha que a velhinha havia preparado, para
engomar as roupas. Como estava gostosa, foi lambendo, lambendo
até diminuir bom tanto da cola na tigela.
Nisso,
a velhinha chegou para consertar a porta corrediça de papel
e notou que a goma havia diminuído consideravelmente. Como
viu o pardal perto da tigela, tratou de agarrá-lo.
- Seu pardalzinho mal-agradecido. Lambeu toda goma que preparei.
Vou dar um jeito para que você nunca mais possa lamber nada.
Dizendo isso, a velha malvada cortou a língua do pardalzinho
com uma tesoura afiada.
- Aiiiiii,
que dor! - gritava o filhote de pardal que a velha jogou para
fora da casa.
- Nunca mais apareça por aqui - disse a velha trancando
a porta.
O pardal, chorando, foi se afastando da casa dos velhinhos aos
pulos, pois a asa ainda não estava completamente curada.
A chuva
passou na montanha e o bom velhinho deixou o tronco oco da árvore.
Preocupado com o pardalzinho que deveria estar com muita fome,
o bom velhinho encheu uma cestinha com morangos silvestres e voltou
para casa.
- Estou
de volta! Me atrasei por causa da chuva na montanha. Pardal, você
deve estar com fome, venha comer o que eu trouxe. Apareça,
onde está você? dizia o velhinho com a cestinha
nas mãos. O velho chamou, chamou, mas a ave não
apareceu.
- Hei velho, não adianta ficar chamando que o pardal não
vai aparecer. Aquele pestinha comeu toda a goma que preparei para
engomar as roupas, por isso cortei-lhe a língua e o expulsei
de casa.
- O
quê?! Cortou a língua do coitado? Por que fez coisa
tão cruel? O bom velhinho, lamentando ter voltado tarde
para casa, verteu lágrimas com dó do pardalzinho.
- Preciso achar o pardal e cuidar do ferimento da língua
dele, senão vai acabar morrendo pensou o velhinho,
e saiu correndo de casa gritando:
- Pardal!
Onde está você? O velhinho saiu procurando por toda
parte.
Depois de andar um bom tanto, chegou perto de um rio. Naquele
local estava um lavador de cavalos, uma profissão que existia
na época. Ojiissan logo perguntou se ele não viu
o pardalzinho por lá. O lavador de cavalos apontou várias
tinas com água suja que banhou o cavalo e disse:
- Se
você beber sete tinas dessa água eu digo onde ele
está.
O velhinho pegou as tinas, uma por uma, e foi bebendo toda a água
suja. Foi um grande sacrifício, porém para achar
o pardal ferido e salvá-lo valia qualquer sofrimento.
- Conseguiu
beber tudo? Então vou te dar uma dica. O pardalzinho de
língua cortada passou por aqui e foi em direção
daquele morro. Dali para frente, pergunte ao lavador de boi.
Depois de atravessar o morro, o velhinho chegou perto de outro
rio onde um homem estava lavando um boi, conforme havia dito o
lavador de cavalos.
Perguntando
sobre um pardalzinho de língua cortada, o lavador de boi
respondeu:
- Se você beber sete baldes desta água que lavei
o boi, eu digo onde foi o pardal.
Sem
escolha, o velho bebeu com grande sacrifício a água
suja que foi lavado o boi.
- Você agüentou com coragem, por isso vou lhe contar.
O pardal de língua cortada está naquele bambuzal
ali adiante. Lá é a hospedaria dos pássaros.
Ele deve estar morando lá.
O velhinho
ficou muito contente e saiu cantando
Suzume, suzume no oyado wa doko dya (Pardal, pardalzinho
onde é sua pousada?)
Continua...
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