A
cidade de Nara, no Japão, é famosa pela existência
de grande quantidade de templos e seus esplêndidos jardins.
Certa ocasião, devido à idade avançada, um
velho monge jardineiro da Seita Zenchi aposentou-se de suas funções
e foi substituído por um jovem monge que amava as flores,
a relva e as árvores.
Um
belo dia, foi anunciada a visita de um membro da Família
Imperial ao templo. O novo jardineiro resolveu, então,
dar um capricho extra no trato ao jardim, para receber dignamente
a ilustre visita. Começou por arrancar as ervas daninhas,
podou os arbustos de forma impecável e dedicou grande parte
do dia a rastelar as folhas secas de outono, colocando-as em um
saco e retirando-as do jardim. Enquanto o jovem monge trabalhava
sem parar, no alpendre superior do templo, o velho monge aposentado
observava o trabalho.
Quando
terminou, o jovem tomou distância para admirar seu trabalho
e percebeu o velho jardineiro olhando de cima. Ele sabia que seu
trabalho estava impecável, não deixara uma folha
seca no chão, porém, para ser gentil com o velho
mestre jardineiro, disse:
- Mestre, eu me esforcei bastante para deixar o jardim encantador,
porém, sinto que está faltando alguma coisa e não
sei do que se trata. Qual a sua opinião, baseada na vasta
experiência que o senhor tem?
- Está
lindo, disse o velho monge do alpendre.
O jovem ficou cheio de orgulho ao ouvir aquele elogio, mas se
fez de modesto:
- Mestre, o senhor está sendo gentil demais, por favor
aponte-me a falha, para que eu possa corrigir.
- Bem,
se você faz questão, ajude-me a descer pela escadaria
que darei um jeito para você. Eu não queria dizer,
mas está faltando algo de suma importância.
Surpreso,
o jovem subiu ao alpendre e ajudou o velho monge descer vagarosamente
pela escada. No jardim, o mestre caminhou para uma árvore
no centro do canteiro, segurou seu tronco e sacudiu com toda força.
As folhas avermelhadas caíram por toda parte, espalhadas
pelo vento e forrou o jardim.
- Agora está perfeita, estamos no outono - lembrou o velho.
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