No
princípio, o cavalo era um animal alado e servia à
divindade Zenchi no Mikoto (Deus da Graça) como meio de
transporte. Ele voava majestosamente em Takama no Hara (Alta Planície
Celeste) com suas enormes asas brancas. Nadava divinamente em
Amanogawa, o Rio Celeste, também conhecido por Via Láctea,
e percorria com todo vigor sobre a plantação de
Ashi Hara Mizuho no Kuni (País do Campo das Espiga de Arroz
Hoje Japão). Arrogante, temperamental, altivo, belo
e forte, deixava muitas vezes outros animais complexados.
Um
dia, Zenchi no Mikoto ordenou ao cavalo que levasse uma mensagem
para o deus Shiyozushi no Kami, também conhecido como Rei
das Água e do Mar, que naquele ano estava regendo a Roda
do Destino da Terra. Ao chegar no portal de Ryugyu (Palácio
do Dragão), foi barrado pelo sentinela de plantão.
Fato que deixou o orgulhoso cavalo alado extremamente furioso
a ponto de sair dando coices no soldado do portão. A violência
foi tanta que os coices mataram o sentinela. Quando a divindade
Shiyozushi ficou sabendo do ocorrido, ordenou que as asas do cavalo
fossem cortadas e condenou-o a ficar prensado embaixo de uma grande
montanha.
Depois
de anos de castigo em agonia sob a montanha, um terremoto provocado
pelo rebelde Takeya Suzano-o no Mikoto (Deus Tempestade) desenterrou
o cavalo. Vendo-o moribundo, Suzano-o esfolou-lhe o traseiro,
num ritual de magia negra, e atirou o animal sobre o telhado do
pavilhão, onde Amaterassu Omikami (Augusta Deusa Sol) e
suas ninfas trabalhavam no tear.
Por
esse gesto de extrema crueldade, Suzano-o foi expulso da Alta
Planície Celeste e exilado na Terra. Os deuses temiam que
se o cavalo morresse, a magia negra iria se realizar. Coincidentemente,
o céu e a terra mergulharam numa profunda escuridão,
porque a Augusta Deusa Sol, revoltada com o atentado que sofrera,
escondeu-se na Caverna Celeste (Ama no Iwato).
Zenchi
no Mikoto foi chamado para salvar seu cavalo e desfazer a magia
negra. O cavalo, embora fraco, confidenciou que estava arrependido
do que fizera ao guarda. Também, reconheceu que sempre
teve um comportamento arrogante e que, se sobrevivesse, desejava
dedicar sua vida à humanidade.
Zenchi
ficou muito comovido, porque apesar de agir as vezes de modo irracional,
o cavalo era um precioso companheiro. Porém, para salvar
o cavalo da extinção, era necessário enfrentar
o poderoso Magatsubi no Kami, o Divino Espírito Maligno.
Foi um duelo de titãs. Com gestos mágicos, Zenchi
no Mikoto travou uma violenta batalha com o Divino Espírito
Maligno, que havia deixado o mundo dos Yomi (Inferno), atraído
pela magia negra de Suzano-o, ao esfolar o traseiro do cavalo.
Depois
de muita luta, a vitória foi de Zenchi no Mikoto. Assim,
o cavalo foi rapidamente recuperando sua força. Com a graça
recebida, o cavalo dedicou-se a servir os seres humanos, arando
os campos, transportando produções agrícolas,
participando das batalhas e servindo como meio de transporte na
Terra. Quando Zenchi no Mikoto veio ao Monte Fuji para nomear
os doze animais como Nobres Animais Signos, o cavalo
recebeu o diploma de Nobre Cavalo e ficou morando
na Terra para sempre.
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