Este
é um caso sobrenatural considerado verdadeiro por muita
gente. Aconteceu na província de Osaka, no início
do século 20, e ficou conhecido em todo o Japão.
Existia
um pequeno armazém de secos e molhados no subúrbio
de Osaka. Esse estabelecimento comercial era conhecido como Último
Gole porque ficava na saída da vila e, dali para
frente, havia apenas uma estrada rural, quase não existiam
casas. O nome Último Gole era referente aos tragos de saquê
que os lavradores tomavam quando vinham fazer compras na cidade,
e aquele era o último estabelecimento para beber antes
de pegarem o caminho da roça.
Certa
noite, quando o proprietário ia fechar seu estabelecimento,
apareceu uma mulher e estendeu uma pequena tigela apontando o
barril de mizuame, que era uma espécie de mel fervido em
água. Naquela época não existiam refrigerantes,
e o mizuame fazia a alegria das crianças. Também
era usado para alimentar os bebês por mulheres que tinham
pouco leite no peito.
O comerciante,
que conhecia todos os moradores da vila, reparou que a mulher
era desconhecida. Encheu a tigela de mizuame, entregou-a à
mulher e recebeu o dinheiro. A mulher, que ainda era jovem e bonita,
porém pálida, sem dizer uma palavra foi-se embora.
No
dia seguinte, quando o comerciante foi contar o dinheiro das vendas
do dia anterior, ao abrir a gaveta notou que alguém tinha
colocado uma folha de momiji (árvore da família
das aceráceas) junto ao dinheiro.
- Deve ser brincadeira do meu filho. Assim pensando, jogou a folha
fora.
No
outro dia, novamente havia uma folha na sua gaveta de dinheiro.
Então ralhou com o filho dizendo que parasse com aquela
brincadeira, pois dinheiro era assunto para adultos. O filho jurou
que não tinha sido ele, mas mesmo assim levou a bronca
do pai.
Mais
um dia e mais uma folha tornou a aparecer. O comerciante furioso
resolveu recolher o dinheiro da venda. Assim que fechou o estabelecimento
à noite, colocou o montante numa caixa e botou embaixo
do travesseiro para que ninguém fizesse brincadeiras.
Na
manhã seguinte, nova surpresa. Havia uma folha de momiji
na caixinha. O comerciante achou que sua mulher tinha colocado
a folha enquanto ele dormia, pois havia trancado a porta do quarto
e ela era a única que esteve lá com ele. A mulher
negou categoricamente a autoria da brincadeira e alegou que ele
estava sendo enganado por um tanuki (texugo) ou kitsune (raposa).
Antigamente,
os japoneses acreditavam que texugos e raposas eram animais encantados
e tinham poderes mágicos. Com esse poder, viviam pregando
peças nas pessoas ora transformando objetos ou eles mesmos
se transformando em seres humanos.
O comerciante
começou a pensar e chegou a uma conclusão.
- Acho que aquela mulher pálida que aparece todas as noites
pouco antes de eu fechar a loja é na verdade uma raposa
encantada, fazendo-se passar por uma mulher. Maldita raposa, está
me enganando, me dá uma folha de árvore e eu enxergo
como se fosse dinheiro. Deve estar se divertindo lambendo todo
meu mizuame e me chamando de trouxa.
O homem
resolveu seguir a raposa até sua toca e botar fogo para
lhe dar uma lição. Enquanto esperava a noite chegar,
recebeu a visita de um amigo que morava na cidade vizinha. Contou
a história e o amigo se dispôs a ajudá-lo
na esfrega à raposa espertalhona.
A noite
chegou com muito vento e as árvores davam assobios desagradáveis.
Como na época ainda não existia energia elétrica,
a fraca lamparina de óleo vivia apagando com o vento. Fósforos
nem isqueiros ainda não haviam sido inventados, por isso
tinham que manter a brasa acesa no irori (braseiro) e assoprar
com pedaço de papel para poder acender a lamparina. Porém,
toda hora ela apagava com o vento macabro.
Certa
altura da noite, assim que o comerciante conseguiu acender a lamparina
amenizando a escuridão, deu de cara com a mulher pálida,
que veio comprar o melado. Apesar do susto, o comerciante fingiu
que estava tudo bem e a atendeu normalmente, para poder ir atrás
logo em seguida.
Continua...
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