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Arquivo NippoBrasil - Edição 117 - 16 a 29 de agosto de 2001
 
A Velhinha Rezadeira
 

Adaptação livre de Claudio Seto
(Texto e desenhos: Claudio Seto)

Há muitos e muitos anos, vivia numa aldeia no interior do Japão uma velhinha que estava sempre rezando. Isso inspirou o povo a apelidá-la de Velhinha Rezadeira. Desde que seu marido faleceu, ela se pôs a rezar e nunca mais parou. Dizem que o velhinho e a velhinha eram queridos por todos da aldeia e o casal se dava tão bem que, na longa convivência, acabaram ficando muito parecidos um com o outro.

Quem não os conhecia muito bem chegava a pensar que eram irmãos, tal a semelhança que foram adquirindo ao longo dos anos. Eles eram muito felizes e animados, porém, certo dia o velhinho morreu, devido à idade muito avançada. Todos comentavam que a velhinha não conseguiria viver sozinha, pois os dois juntos pareciam uma só pessoa.

Ela tinha muita saudade dele e vivia preocupada com o destino que poderia tomar sua alma e, por isso, vivia rezando para que o espírito do bom velhinho fosse bem encaminhado. Assim, rezava quase o dia inteiro e fez da oração o motivo para continuar vivendo.

Certa ocasião, apareceu um monge peregrino em sua casa pedindo pousada.
- Estou a caminho de Miyako, e como nesta região não existe hospedaria, peço que me deixe passar a noite aqui.

A velhinha rezadeira acolheu o monge de bom grado, pois queria que o santo homem fizesse uma reza para seu falecido velhinho. Preparou uma boa refeição e serviu ao monge. Este comeu de maneira afoita e parecia que não jantava há muitos dias.

- Que modo grosseiro de comer, nem parece um monge – pensou a velhinha. Mas depois do jantar, ela pediu ao monge que rezasse pela alma de seu falecido esposo. Ao ouvir aquele pedido, o monge ficou visivelmente sem jeito. Isso porque ele na verdade não era monge. Havia raspado a cabeça e vestido hábito de religioso só para ganhar comida e pousada na moleza.
- E então, senhor Monge, vamos iniciar a reza? - perguntou a velhinha.

A situação foi ficando cada vez mais complicada para o falso monge. Embora tivesse a cabeça raspada, e usasse hábito de monge, ele não conhecia nenhuma oração. Porém, tinha que continuar fingindo para a velhinha não ficar desconfiada.

- Preciso inventar qualquer coisa para tapear essa velhinha - pensou o farsante. Mas não conseguia improvisar nada. De repente, viu um ratinho que, saindo da cozinha, vinha em direção da sala onde eles estavam sentados. Nesse exato momento a velhinha juntou as palma das mãos em frente do altar caseiro, fechou os olhos e começou a falar:

- Meu velho esposo, hoje temos novidade. Meu insistente pedido a Zenchi no Mikoto, o Deus da Graça Divina, foi plenamente atendido. O bondoso Zenchi enviou este monge a nossa casa para rezar por sua alma.

O farsante, que estava acompanhando a ação do ratinho com o canto dos olhos, tentou avisar a velhinha de que o bichinho estava perto dela. Disse em tom de cochicho para não espantar o ratinho, pois pretendia dar uma chinelada no bichinho.
- De passinho em passinho ele vem chegando...
A velha pensando que o monge havia iniciado a oração e repetiu o que ele disse em tom de reza:
- De passinho em passinho ele vem chegando...

O falso monge continuou sua narrativa:
- Ele deu uma paradinha... uma paradinha e está espiando...
E a velhinha, pensando que se tratava de uma reza desconhecida por ela, acompanhou o falso monge:

- Ele deu uma paradinha... uma paradinha e está espiando...
O rato, ouvindo a voz dos dois, desconfiado deu meia volta e foi saindo de fininho.
- Desconfiado, desconfiado ele está paralisado... E a velhinha repetia tudo que o monge dizia:

- Deu meia volta e vai saindo de fininho...
Assim que terminou a “reza”, o hóspede dormiu profundamente porque estava muito cansado. No dia seguinte, acordou disposto a continuar a viagem e saiu agradecendo a hospitalidade da Velhinha Rezadeira.

Ela agradeceu ao monge por ter-lhe ensinado uma nova reza e contou entusiasmada que foi fácil decorar a oração. A partir desse dia, a velhinha rezava todas as noites essa nova oração em frente do altar caseiro.

- De passinho em passinho ele vem chegando...
- Ele deu uma paradinha... uma paradinha e está espiando...

E assim por diante. Ficava horas repetindo essas frases pensando se tratar de um mantra. Certa noite, um ladrão aproximou-se nas pontas dos pés e, forçando a porta da cozinha, entrou dentro da casa, pensando que a velhinha já estava dormindo. Porém, do lugar que estava, logo enxergou a velhinha sentada na sala, de costas para ele. Como sabia que ela não havia percebido a presença dele, o ladrão deu uns passos nas pontas dos pés em direção da sala, quando ouviu:

- De passinho em passinho ele vem chegando...
O gatuno levou um tremendo susto pensando que havia sido descoberto. Olhou bem para ela, que ainda estava de costas.

- Ele deu uma paradinha... uma paradinha e está espiando....
Ao ouvir isso o ladrão foi tomado por uma sensação de arrepio. Ele logo imaginou que a velhinha tinha poderes sobrenaturais a ponto de ver pelas costas.
-Desconfiado, desconfiado ele está paralisado...

Aquilo foi demais até para um ladrão. A velhinha definitivamente estava vendo seus mínimos movimentos e até lendo seu pensamento e sensação. Se não fosse a tremedeira nas pernas, sairia correndo daquela casa onde residia aquela poderosa bruxa. Tratou então, num grande esforço, de dirigir-se em direção da porta.

- Deu meia volta e vai saindo de fininho...
O ladrão destrambelhou porta afora e, suando de medo, fugiu apavorado.

 

Comentário:
Certa ocasião, um discípulo perguntou ao roshi Shamon o que ele pensava a respeito desse conto Zenchi, sendo ele uma mestre da Seita Zenchi.

- Mestre, esse conto se analisado em profundidade está dizendo que a descrição de um ratinho serviu de oração que salvou a Velhinha Rezadeira da ação maléfica do ladrão. Não é estranho que a Seita Zenchi narre conto como esse, sendo que existem maneiras e palavras mais nobres para uma oração?

Ao que roshi Shamon respondeu:

- “Podemos orar até para a cabeça de uma sardinha, desde que acreditemos firmemente nela.”

 
Adaptação livre de Claudio Seto
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