AH!
ENCONTREI
- Espere, vaqueiro, ainda estou com fome. Agora permita-me
que te devore. Você é cheio de saúde e parece
apetitoso. Deixe-me saciar minha fome devorando você todinho.
- Socorrro,
acudam-me! Essa Yamauba louca quer me devorar! Gritando desesperado
o Ushikata corria de um morro a outro tentando salvar a pele.
Enquanto corria com a respiração ofegante, ia pensando
em se esconder em algum lugar onde a megera não pudesse
encontrá-lo. Nisso, olhando de cima do precipício,
avistou uma colina. Ao pé da colina havia uma luz fraca
denunciando a existência de uma habitação.
- Vou
fugir para dentro daquela colina, pensou o vaqueiro, que correu
desesperado em direção da colina rasgando galhos
no peito.
- Não estou agüentando de cansaço, preciso
esconder-me em algum lugar para um breve descanso.
Havia
uma árvore grossa com enormes galhos à beira de
um lago. Ushikata agarrou a árvore e foi subindo até
chegar lá em cima. Ficou agarrado ao galho procurando descansar.
Pouco depois, apareceu a Yamauba no local.
- Onde se escondeu aquele Ushikata desgraçado?
Olhou
para todos os lados e começou a procurar tombando capins
com a mão. De repente gritou:
-Ah! Está escondido aí, seu infeliz.
Agarrado ao galho, a imagem de Ushikata balançava ao sabor
do vento, refletida no espelho da água do lago.
- Encontrei
você, meu apetitoso vaqueiro!, disse a Yamauba entrando
na água. Esticou a mão e tentou pegar a imagem refletida
de ushikata. A bruxa pensava que o vaqueiro estava escondido dentro
da água, no fundo do lago. Porém, ao enfiar os braços,
a água balançou e a imagem se desfez.
-O
que foi isso? Onde foi parar o vaqueiro?
Yamauba ficou intrigada e pensativa dentro do lago, porém
como sua mente não era daquelas que podemos chamar de privilegiada,
não chegou a nenhuma conclusão, apesar de ficar
pensando por alguns minutos. Nesse intervalo, a água serenou
e a imagem do vaqueiro reapareceu.
A bruxa
da montanha tentou agarrar a imagem com os dois braços
levantando a água para cima. Porém, nada conseguiu
pegar. Mesmo tentando várias vezes, não conseguiu
agarrar o vaqueiro. Balançando seus cabelos brancos a Yamauba
ficou muito furiosa e berrou:
- Onde está você, Ushikata? Vamos, apareça!
O grito
estremeceu toda a colina, balançou todas as árvores
e derrubou todas as folhas. Ushikata que estava agarrado ao galho
também foi derrubado com a terrível vibração
e caiu sentado no chão.
Mais
que depressa o vaqueiro se levantou e fugiu correndo de novo.
Em cima de sua cabeça, vários urubus voavam em círculo
como prenúncio de mau agouro. Na frente, atrás e
por todos os lados do vaqueiro fugitivo havia lindos pés
de momiji (acer ), pois aquele local era conhecido como Colina
de Outono. Porém, apavorado que estava, os olhos do Ushikata
não conseguiam ver a beleza da paisagem nem a calma dos
urubus voando. Tropeçava nas raízes das árvores,
caía a toda hora, e só sabia fugir levantando poeira.
Paralelamente,
de colina em colina, um vento frio percorreu toda a montanha trazendo
consigo o anoitecer. Sobre a montanha uma enorme lua começou
a brilhar como holofotes e os insetos começaram seu show
de cantorias.
-Oh,
que sorte, uma cabana. Estou salvo!, pensou Ushikata correndo
em direção da pequena habitação no
meio do capinzal. O vaqueiro entrou correndo na casa sem mesmo
pedir licença e gritou com o pouco de força que
ainda lhe restava:
-Socorro,
ajudem-me. Salvem-me, por favor!
Por mais que implorasse por ajuda, ninguém respondia. A
casa estava vazia.
- Que
casa estranha e de mal agouro. Acho que vou me esconder no teto
até o amanhecer, pensou o vaqueiro. Mal se acomodou numa
viga próxima do teto, ouviu passos entrando na casa. Era
a Bruxa da Montanha que começou a falar sozinha:
- Hoje
me cansei. Só lamento ter deixado meu jantar fugir.
Continua...
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